domingo, 25 de junho de 2017

A simulação do futuro

miguel manso
A Sociedade dos Sonhadores Involuntários: o futuro simulado, em Agualusa, só pode ser o do fim do 
regime de José Eduardo dos Santos.
Somos sempre observadores não participantes, recebendo notícias em segunda mão sobre a sua coragem, sobre a actividade que irá pôr em causa o regime, sobre a sua detenção, a greve de fome, sobre tudo aquilo que poderíamos ler nos jornais. Dos heróis deste livro sabemos do seu heroísmo, menos da sua humanidade. Representam papéis, elevam-se de entre os outros sem chegar a ser de carne e osso.

Não ajuda o ponto de vista escolhido para narrar a história, o de Daniel Benchimol, alguém que, como lhe diz um amigo, pertence a esses que “estão aqui em Luanda, mas não vivem aqui connosco. Não sofrem connosco”. Um ponto de vista por sua vez necessário para que o sonho se simule em futuro, quando os do “silêncio cúmplice”, como Benchimol, finalmente se apercebem do imperativo de gritar.
O décimo quarto romance do escritor angolano, nascido no Huambo em 1960, é um livro engajado, para usar uma palavra muito cara em Angola, sem perder a ambição de ser poético e a vontade de saber mais sobre o mundo dos sonhos. É um livro de quem continua a acreditar em utopias, de quem vê Angola como “a feroz alegria que sobrevive entre ruínas”. 
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Fonte: https://www.publico.pt/2017/06/21/culturaipsilon/noticia/a-simulacao-do-futuro-1775840

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