quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Universitários ingleses querem remover filósofos brancos dos seus programas de estudos: isso é racismo!

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Por Thiago Kistenmacher, 
publicado pelo Instituto Liberal

O politicamente correto não cansa de fazer vítimas. Os réus da vez são os filósofos brancos. Sim, isso mesmo, a implicância agora é com a cor de pele dos filósofos estudados na universidade. De acordo com o jornal britânico  Daily Telegraph, estudantes da School of Oriental and African Studies (SOAS) da Universidade de Londres “estão exigindo que figuras tais como Platão, Descartes e Immanuel Kant sejam largamente removidos do currículo porque eles são brancos”. É a epidemia politicamente manchando tudo aquilo que toca, inclusive da liberdade de pensamento.

Os estudantes indignados com a cor dos filósofos dizem que exigir que os pensadores brancos sejam removidos do currículo é parte de uma campanha mais ampla que visa “descolonizar” a universidade. Afirmam também que tal iniciativa pretende “lidar com o legado estrutural e epistemológico do colonialismo”. Onde está a diversidade tão defendida por este pessoal? Se eles estudam uma época marcada pela colonização, porque não levar em consideração a própria época? Remover filósofos importantes para aquele período é anular uma característica do objeto estudado. Estão sabotando os resultados das próprias pesquisas.

Além do mais, conforme informa o Daily Telegraph, esta exigência surgiu após autoridades da educação terem advertido que as universidades deverão agradar as demandas dos estudantes “por mais irracionais que elas possam ser”. Exatamente, é mesmo irracional remover grandes filósofos por causa de sua cor de pele. É mesmo irracional ser politicamente correto. É mesmo irracional consentir com a insanidade de alunos que querem tudo “desconstruir”.

Roger Scruton reagiu. Entre outras coisas, disse: “se eles pensam que existe um contexto colonial para o que levantou a Crítica da Razão Pura de Kant, eu gostaria de ouvir.” Scruton foi preciso. Eu também fiquei curioso para saber como discutir a magnum opus de Kant à luz da colonização. Existem preocupações universais que independem do contexto político. O Mito da Caverna de Platão pode ser discutido num bar em Copacabana como num front durante um cessar fogo. Ainda que eles estivessem se referindo somente à filosofia política, isso seria um contrassenso.

Outro que reagiu foi o vice-chanceler da Buckingham University, quando disse que “Há um perigo real de que o politicamente correto esteja saindo do controle”. Ele já saiu há tempo e tem contaminado todos os terrenos sobre os quais suas tropas desfilam.

Uma pergunta: será que essas iniciativas não poderiam ser consideradas racistas? Afinal, elas estão levando mais em conta a cor da pele dos filósofos do que seus pensamentos. Isso é racismo! Eles estão julgando os filósofos pela cor da sua pele, precisamente o que fizeram e fazem os movimentos e políticas racistas!

A militância disfarçada de epistemologia não para por aí. Os estudantes declararam que uma das prioridades deste ano acadêmico é “descolonizar” a universidade a fim de confrontar aquilo que chamaram de uma “instituição branca”.

Uma integrante do SOAS argumenta: “Uma das grandes forças do SOAS é que sempre olhamos as questões do mundo pela perspectiva das regiões que nós estudamos – Ásia, África e Oriente Médio”. Não parece, pois o politicamente correto e suas manias não foram criadas em nenhuma destas regiões, logo, a metodologia do grupo está fundamentada em perspectivas ocidentais.

Eles acentuam que os filósofos brancos deveriam ser estudados somente se requisitados, e que suas ideias deveriam ser ensinadas somente a partir de um “ponto de vista crítico”. Essa turma poderia começar também observando sua própria militância política a partir daquilo que chamam de “ponto de vista crítico”. Remover filósofos brancos de um currículo acadêmico não é muito sensato para quem se diz “crítico”. Os filósofos, brancos ou não, têm as mesmas perguntas acerca da vida humana, etc. Isso nada tem a ver com a cor da pele ou contexto político.

Será que o método cartesiano faz diferença se aplicado por um negro ou por um branco? Será que o platonismo é uma coisa para um homem branco e outra para um homem negro, ou asiático? Talvez eles pensem que um estudante oriental nada aproveite da República de Platão. Será que Kant deveria ter escrito uma Crítica da Razão Pura para Negros e outra Crítica da Razão Pura para Brancos? Faça-me o favor!

Antes de tudo, esses militantes disfarçados de pesquisadores deveriam ter em vista que a filosofia não tem cor. A filosofia tem perguntas universais que, na grande maioria das vezes, independem de contextos políticos.
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Fonte: http://rodrigoconstantino.com/artigos/universitarios-ingleses-querem-remover-filosofos-brancos-dos-seus-programas-de-estudos-isso-e-racismo/?utm_medium=feed&utm_source=feedpress.me&utm_campaign=Feed%3A+rconstantino 


DO BLOG: Texto do IHUque traduziu  "The Telegraph"

Universitários pedem que filósofos como Platão e Kant sejam removidos do currículo por serem brancos

11 Janeiro 2017

Dizem que eles são os pais fundadores da filosofia ocidental, cujas ideias sustentam a sociedade civilizada. Porém, alunos de uma prestigiada universidade de Londres estão exigindo que figuras como Platão, Descartes e Immanuel Kant sejam retirados dos currículos por serem brancos.

A reportagem é de Camilla Turner, publicada por The Telegraph, 08-01-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

O diretório estudantil da Faculdade de Estudos Orientais e Africanos (School of Oriental and African Studies, ou simplesmente SOAS, instituição ligada à prestigiada Universidade de Londres) insiste que, ao estudar filosofia, “a maioria dos filósofos em nossos cursos” deveriam vir da África e da Ásia.

Os estudantes dizem que a iniciativa apresentada faz parte de uma campanha para “descolonizar” a universidade, ao mesmo tempo em que busca “abordar o legado estrutural e epistemológico do colonialismo”.

A iniciativa acontece depois de líderes educacionais advertirem que as universidades serão forçadas a ceder às demandas de alunos da geração “snowflakes” [1], por mais despropositadas que possam ser.

No âmbito das reformas na educação superior propostas, o governo quer pôr a satisfação estudantil no centro de um novo sistema de avaliação. Os críticos, no entanto, temem que a iniciativa venha a enfraquecer a integridade acadêmica.

O filósofo Roger Scruton disse que estas exigências sugerem certa “ignorância”. Segundo ele, “não se pode descartar um ramo inteiro de produção intelectual sem o ter investigado, e claramente estas pessoas não investigaram aquilo que querem dizer por filosofia branca”, declarou ao jornal The Mail on Sunday.

“Se acham que há um contexto colonialista a partir do qual a Crítica da Razão Pura de Kant surgiu, eu gostaria de ouvi-lo”.

Anthony Seldon, vice-chanceler da Universidade de Buckingham, acrescentou: “Existe o perigo real de que o politicamente correto esteja ficando fora de controle. Precisamos entender o mundo como ele era, e não reescrever a história conforme alguns gostariam que fosse”.

O diretório estudantil da SOAS, importante centro de estudos sobre a Ásia, África e Oriente Médio, afirma que “descolonizar” a universidade e “confrontar a instituição branca” é uma de suas prioridades para o presente ano acadêmico.

O diretório declara que “filósofos brancos” deveriam ser estudados somente “se necessário”, acrescentando que a obra deles deveria ser ensinada somente a partir de um ponto de vista crítico, por exemplo, “reconhecendo o contexto colonial dentro do qual os filósofos chamados ‘iluministas’ escreviam”, declararam.

Erica Hunter, coordenadora do departamento de Religiões e Filosofias da SOAS, afirmou que o ponto de vista adotado pelo diretório é “bastante ridículo”, acrescentando: “Eu farei uma resistência firme quanto a deixar de lado filósofos ou historiadores só porque está na moda”.

A doutora Deborah Johnston, pró-diretora do departamento de Ensino e Aprendizagem, disse: “Um dos grandes pontos fortes da SOAS é que temos olhado sempre para os problemas mundiais a partir de uma perspectiva das regiões que estudamos – Ásia, África e Oriente Médio. Um debate informado e crítico sobre o currículo que lecionamos é uma parte saudável e apropriada do empreendimento acadêmico”.

Nota do tradutor

[1] Geração snowflake é o termo usado para caracterizar adolescentes nascidos a partir de 2010. Uma de suas características é serem menos resilientes do que os membros das gerações anteriores e emocionalmente vulneráveis no lidar com as opiniões que desafiam as suas próprias ideias. Em geral, é considerado um termo depreciativo.

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