segunda-feira, 18 de julho de 2016

Stuart Candy, futurista: 'Podemos ficar bons em lidar com a incerteza'


 "Se você quer que as pessoas levem o futuro mais seriamente, por que não fazê-lo agora?"

Professor de design, o australiano passou um mês na cidade como residente do Museu do Amanhã, do qual é parceiro.

"Nasci em Adelaide, na Austrália, e sou professor de design na maior escola de arte do Canadá, The Ontario College of Art and Design University, em Toronto. Estou envolvido com o futurismo há mais de 20 anos e, desde 2013, sou diretor do Situation Lab, que cria situações imersivas de experiências de futuro."

Conte algo que não sei.
Ser futurista pode ser uma profissão. A sua ocupação é ajudar e encorajar as pessoas a pensarem sobre o futuro mais profunda e criativamente. Há três forças em meu trabalho, modos diferentes de exercê-lo: como educador e acadêmico, consultor para grandes e pequenas empresas, ou artista e ativista, endereçando esse trabalho para um público maior.
Explique melhor.
Como o futuro ainda não aconteceu, pode ser muitas coisas. Então, é tratado como plural, "futuros", um espaço de múltiplas alternativas. Isso significa que, em vez de previsões, estamos interessados na gama de coisas que podem acontecer e, mais importante, o que podemos fazer hoje para navegar entre elas. Como você faz o futuro que quer se tornar mais provável? Como evitar o futuro que prefere que não aconteça? São as questões que o campo tenta responder.
Como esse profissional lida com um campo tão amplo?
Há muitos tipos de futuristas, alguns focam em uma indústria particular, como meio ambiente, energia, transporte. O futuro contém tudo que ainda não aconteceu, então é transdisciplinar. O que praticamos são processos e maneiras de fazer perguntas que podem ser aplicadas a qualquer situação. O bom futurista se torna parceiro de pessoas especializadas em determinadas áreas para ajudá-las a interrogar a sua especialidade sob novos ângulos. Ninguém pode saber tudo. Mas podemos ficar bons em lidar com a incerteza.
Qual é o papel do design nesse processo?
Designers trabalham com materiais para criar qualquer coisa que você possa nomear. Quando você une as possibilidades com o meio de fazê-las concretas, o que também inclui performance, teatro ou mídia, pode criar situações no presente que parecem acontecer no futuro. Meu interesse particular é em como usar essas diversidade de mídias para fazer os futuros mais reais para as pessoas.Se você quer que as pessoas levem o futuro mais seriamente, por que não fazê-lo agora? Elas terão uma memória física do hipotético. O futuro é algo que está lá, e que eventualmente talvez esteja aqui. Manifestar isso fisicamente torna o distante imediato. Nós simulamos a possibilidade.
É um senso comum revemos demais o passado ou estamos ansiosos pelo que ainda não existe. Está incorreto?
Meu colega futurista Jake Dunagan diz que todos pensamos sobre o futuro, só não o fazemos muito bem.O fato de haver uma ansiedade onipresente não significa que o pensamento está sendo canalizado corretamente. Há muita energia gasta improdutivamente em romantizar o passado ou ansiar o futuro. O que tento fazer com meus clientes e alunos é torná-los produtivos.
Como melhorar a qualidade do pensamento sobre o futuro?
Se você criar uma situação em que um grupo de pessoas experimenta algo que parece que está acontecendo no futuro, e depois conversa sobre isso, a qualidade do pensamento será muito melhor. Não estou dizendo que você não pode ter pensamentos proveitosos catalisados pela escrita, por exemplo, mas estamos falando de cognição coletiva.
Essas experiências fazem as pessoas se sentirem mais capazes de mudar o mundo?
Essa é uma das razões mais importantes de se engajar no futurismo. Mas não é só dar esperança, porque pode ser um jeito de ignorar responsabilidades. Mesmo a expectativa de que as coisas melhorem não é necessariamente útil. 
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Fonte:  http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/stuart-candy-futurista-podemos-ficar-bons-em-lidar-com-incerteza-19727651

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