sábado, 27 de fevereiro de 2016

O SHORTINHO, O CUNHA E A CAMILLE PAGLIA

IZAURA FRANQUI DA SILVA*

 

Nos últimos dias, temos tido a oportunidade de acompanhar fatos que são representativos da nossa sociedade: as notícias sobre corrupção, a criminalidade crescente e a foto de belos adolescentes sendo recepcionados em sua volta às aulas, em um ambiente que parece uma festa, com banho de espuma e meninas vestidas com pequenos shorts. Nos dias subsequentes, sobrevém a polêmica: as estudantes, e vários de seus pais, protestando contra as medidas tomadas pela escola de proibir roupas muito curtas no ambiente escolar. A questão que se impõe é entender que tais aspectos, por impactante que possa parecer, podem estar estreitamente relacionados.

Nossa prática profissional tem permitido constatar a assustadora e prevalente dificuldade atual da família e demais instituições formadoras em estabelecer limites, claros e bem fundamentados, para nossas crianças e adolescentes, parecendo mais fácil gratificá-las para que não “incomodem”. Sobre isso, um célebre pensador em saúde mental ressaltou que amar e frustrar uma criança deve ser como colocar água em uma planta: os dois não podem faltar nem ser excessivos, pois em ambos os casos a planta não cresce, ou mesmo chega a morrer.

O que constatamos é uma sociedade refém da criança, do belo e do pagante. A criança com direitos ilimitados, o belo como um padrão discriminatório e o pagante com todos os direitos e poderes que a criança e o belo possuem e muito, muito mais. O que isso poderá se relacionar com corrupção, com criminalidade? Infeliz e assustadoramente, existe muita relação, pois esses enormes problemas sociais refletem a falência das figuras paternas (de autoridade), o individualismo (meu desejo acima do desejo do outro), o narcisismo (o próprio desconhecimento do outro como um sujeito) e a atrofia de uma geração que entende que precisa ser gratificada sempre. Protestar é saudável na juventude, mas interessante refletir que até isso só ocorre quando se recebem limites.

E a Camille Paglia? A polêmica feminista, que discute se a mulher moderna, ao se expor em demasia não estaria presa, ainda, ao velho paradigma de ser somente um corpo. Mas isso é, como dizem os antigos, outro “angu de caroço”.
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*Psicóloga, psicoterapeuta, professora universitária
Fonte:  http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a4985115.xml&template=3898.dwt&edition=28480&section=70
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