domingo, 20 de dezembro de 2015

Vozes dos Animais – poema de Pedro Diniz

Jan Brueghel o Velho (1568-1625) - Os animais entrando na arca de Noé 600pxBe a child in Christmas time [Sê criança em tempo de Natal], convida uma popular canção, daí esta poesia adequada à infância de todos os tempos. Podem assim os leitores lê-la a filhos, netos, afilhados ou outros infantes, fazendo com que um dia sejam também leitores de poesia.
O poema foi  escrito por Pedro Diniz (1839?-1896) e recolhido por Antero de Quental no Tesouro Poético da Infância.
Vozes dos Animais
Palram pega e papagaio
E cacareja a galinha;
Os ternos pombos arrulham;
Geme a rola inocentinha.
 
Muge a vaca; berra o touro;
Grasna a rã; ruge o leão;
O gato mia; uiva o lobo,
Também uiva e ladra o cão.
 
Relincha o nobre cavalo;
Os elefantes dão urros;
A tímida ovelha bala;
Zurrar é próprio dos burros.
 
Regouga a sagaz raposa
(Bichinho muito matreiro);
Nos ramos cantam as aves;
Mas pia o mocho agoureiro.
 
Sabem as aves ligeiras
O canto seu variar;
Fazem às vezes gorjeios,
Às vezes põem-se a chilrar.
 
O pardal, daninho aos campos,
Não aprendeu a cantar;
Como os ratos e as doninhas,
Apenas sabe chiar.
 
O negro corvo crocita;
Zune o mosquito enfadonho;
A serpente no deserto
Solta assobio medonho.
 
Chia a lebre; grasna o pato;
Ouvem-se os porcos grunhir;
Libando o suco das flores,
Costuma a abelha zumbir.
 
Bramam os tigres, as onças;
Pia, pia o pintainho;
Cucurica e canta o galo;
Late e gane o cachorrinho.
 
A vitelinha dá berros;
O cordeirinho, batidos;
O macaquinho dá guinchos;
A criancinha, vagidos.
 
A fala foi dada ao homem,
Rei dos outros animais.
Nos versos lidos acima,
Se encontram, em pobre rima,
As vozes dos principais.
 
Modernizei a ortografia.
Nota bio-bibliográfica
Não surge na net qualquer referência biográfica esclarecedora sobre o autor, aparte duas traduções de obras de Júlio Verne, daí esta pequena nota.  
Pegando no testemunho de Camilo Castelo Branco em Noites de Insónia, trata-se do mesmo Pedro (Guilherme dos Santos) Diniz que, com o pseudónimo de Amaro Mendes Gaveta, publicou em 1854 uma paródia ao livro de Almeida Garrett, Folhas Caídas, intitulado As Folhas Caídas Apanhadas a Dente e Publicadas em Nome da Moralidade.
Este Pedro Diniz (1829?-1896), génio precoce (alistado na marinha aos 11 anos, em 1850*?), foi colaborador do Palito Métrico ao que escreve, e publicou em 1855 um Livro de Ouro para Uso das Escolas de Educação, do qual não encontrei rasto. É neste livro que o poema transcrito, Vozes dos Animais, se inclui, conforme refere Camilo Castelo Branco na nota biográfica ao poeta no seu Cancioneiro Alegre.
Sobre outros aspectos da biografia do autor pode consultar-se a respectiva entrada (Pedro Dinis) na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
*informa Alexandre Cabral no seu Dicionário de Camilo Castelo Branco, 2ªedição, Caminho, Lisboa 1988.
Verificada a diversidade da obra produzida pelo autor na década de 50, tratar-se-ia de uma precocidade inaudita, a ser verdade tudo isto, daí que deva existir qualquer gralha em datas algures, parecendo mais provável o nascimento do homem em 1829, e não 1839 como decorre do documento citado por Alexandre Cabral.
Nota iconográfica
Abre o artigo a imagem de uma pintura de Jan Brueghel o Velho (1568-1625) - Os animais entrando na arca de Noé.
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Fonte:  http://viciodapoesia.com/2015/12/20/vozes-dos-animais-poema-de-pedro-diniz/

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