terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A fobia de ficar longe do celular

A fobia de ficar longe do celular
A nomofobia é um vício em que a pessoa não consegue se afastar do celular, apresentando quadro semelhante à crise de abstinência 

Aumento do número de pessoas dependentes do celular gerou um novo transtorno: a nomofobia, ou o medo de se desconectar do mundo virtual

Nos últimos anos, avanços tecnológicos têm tornado os celulares cada vez mais indispensáveis. O acesso à internet nos aparelhos ampliou as possibilidades de comunicação, mas essa rápida evolução também gerou um novo problema. Para muitos, a obsessão pelo celular é tão intensa que se caracteriza como um quadro de dependência com efeitos similares às drogas pesadas, como ansiedade, perda de contato social e até mesmo depressão, além de outras consequências físicas e mentais que se agravam com o uso prolongado do celular.

O alerta é feito pela psicóloga clínica Mônica Vidal, mestranda em Comportamento e Cognição Humana na Universidade de Barcelona, que em entrevista ao Opinião e Notícia apresentou um novo transtorno do século 21: o medo de se afastar do telefone celular, ou a “nomofobia”, uma palavra derivada da expressão em inglês No Mobile Phobia.

“Esse transtorno é caracterizado pelo medo irracional de permanecer isolado e desconectado do mundo virtual”, define a psicóloga.

Tecnologia móvel

Segundo um levantamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em 2014 haviam 273,58 milhões de telefones celulares ativos no Brasil, superando o número de habitantes no país e 10 milhões a mais que no ano anterior.

Em uma recente pesquisa de conectividade, a empresa americana do ramo da tecnologia de celulares Qualcomm relevou que o Brasil é o quarto país mais conectado da América Latina e o 44º do mundo, em um ranking de 73 países. Na classificação, o Brasil está como intermediário – as classificações possíveis são ultraconectado, avançado, intermediário e emergente –, mas a pesquisa indica que o Brasil tende a avançar rapidamente nessa questão.

Com uma conectividade maior, o acesso à informação se torna mais fácil. Para Mônica, o acesso à internet, facilitado pelas tecnologias móveis, faz com que “o usuário não seja somente um consumidor de informação, mas também gerador de conteúdo” em um mundo hiperconectado.

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Segundo a Qualcomm, o Brasil é o 4º país mais conectado da América Latina (Foto: ITU Pictures)

O aumento da velocidade de circulação da informação também influi na percepção do tempo. Para a psicóloga, há uma necessidade de imediatismo por parte das pessoas que se expõem demais à tela do celular. “Se uma pessoa envia uma mensagem e você não responde imediatamente, fica uma situação desconfortável”, diz a psicóloga. “As relações digitais também dão uma ilusão de companhia, o que pode provocar relações superficiais entre as pessoas”, acrescentou. Uma das características da nomofobia é a tendência a supervalorizar os relacionamentos e as atividades online em detrimento das atividades presenciais.

Além disso,  a pessoa exposta ao celular pode perder a noção do tempo, o que ela classifica como “um estado alterado da consciência” que ocorre quando a pessoa se mantém em “um estado progressivo de contemplação”. “Por isso as pessoas ficam conectadas mais tempo do que pretendiam estar”, diz.

Características da nomofobia

“A pessoa que tem nomofobia apresenta um quadro semelhante à síndrome de abstinência de pessoas que são usuárias de drogas, trazendo um comprometimento tanto da saúde física quanto mental, além das esferas psicológicas, sociais e comportamentais”, afirma a psicóloga. “Geralmente a nomofobia está associada a outro transtorno, como ansiedade, síndrome do pânico, estresse pós-traumático, transtorno obsessivo compulsivo, bipolaridade, depressão, entre outros.”

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Uma das características da nomofobia é o isolamento de atividades diárias (Foto: Pixabay)

Os principais sintomas da nomofobia são a sensação de vazio existencial, angústia, desespero, irritabilidade, baixa autoestima, rejeição e também problemas físicos, como dores na coluna, torcicolo, lesão por esforço repetitivo, tremores, insônia, náusea, estresse, sudorese, tensão muscular, ressecamento de retina e perda auditiva.

Há sinais que indicam quando a pessoa pode ter nomofobia, como por exemplo, a checagem constante do celular, a procrastinação de tarefas diárias e o isolamento de atividades sociais.

A psicóloga alerta que a exposição exagerada compromete o rendimento escolar ou profissional, além de prejudicar o sono.  “A pessoa não consegue se desligar mentalmente da sua vida online. Ela chega a sonhar com o que fez no celular”, diz.

Segundo uma pesquisa da empresa francesa Ipsos, 18% dos brasileiros acima de 16 anos entrevistados em 70 cidades admitiram ser dependentes de seus celulares. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2013, 66% da população brasileira acima de 10 anos tem pelo menos um celular.

Tratamento

Mônica admite que na atual configuração social, há uma dificuldade de se distanciar das tecnologias móveis. No entanto, ela recomenda que as pessoas procurem um uso produtivo, que não comprometa a qualidade de vida. A psicóloga sugere limitar o uso diário para equilibrar a vida social e online.

O primeiro passo para tratar a nomofobia é reconhecer o problema e buscar uma solução. “Não tem como ajudar uma pessoa com algum problema se ela não reconhece que ela tem um”, diz. A partir daí, a pessoa pode ser levada para acompanhamento psicológico, ou se o quadro for mais grave, psiquiátrico, com uso de medicação para reduzir os níveis de ansiedade. Mônica também considera o apoio familiar fundamental para o tratamento.

Outra maneira de combater o vício está no próprio uso dos celulares, através de aplicativos que limitam o uso diário do aparelho, como o Break Free, Mental e Moment. No entanto, a psicóloga destaca que os aplicativos não substituem o tratamento psicológico.

Cuidado com crianças e adolescentes
O nível de atenção à exposição aos dispositivos móveis deve ser ainda maior para crianças e adolescentes. “A exposição excessiva das crianças e dos adolescentes pode causar danos e prejuízos no desenvolvimento do cérebro, comprometendo a atenção e o foco”, afirma Mônica.

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Crianças e adolescentes correm o risco de acessar conteúdos impróprios (Foto: Pixabay)

Em relação ao tempo de exposição ideal aos celulares, tablets e até mesmo à televisão, ainda não há uma recomendação padrão. É preciso usar o bom senso.

“Em média, é recomendável que crianças de um a dois anos de idade se exponham a no máximo 20 minutos e crianças de três a quatro anos até duas horas por dia”.

A psicóloga também alerta para possíveis casos de cyberbullying e de divulgação imprópria de conteúdo entre jovens, o que também resulta de uma exposição longa às tecnologias móveis. “Uma vez que um conteúdo cai na rede, você perde o controle sobre ele”, alerta.
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Reportagem  por Nycolas Santana - 22 Dec, 2015  - Foto: Pixabay
Fonte: http://opiniaoenoticia.com.br/opiniao/tendencias-debates/a-fobia-de-ficar-longe-do-celular/



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