sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Paris, Paris

Roberto Pompeu de Toledo*
 
             “Paris (...) tem o meu coração desde minha infância; ela me provocou o que provocam as coisas excelentes: quanto mais eu vi, depois, outras belas cidades, mais sua beleza ganhou minha afeição. (...) Não sou francês senão por esta grande cidade.”( Michel de Montaigne, Ensaios, 1580, livro III, capítulo 9).
            “De minha parte, creio que fora de Paris não há salvação para um homem de espírito.”( Molière, As Preciosas Ridículas, 1659).
            “Não se vive senão em Paris; em outros lugares, vegeta-se.”( Jean-Baptiste Gresset, O Malvado, 1747).
            “(...) a estada nas pequenas cidades é insuportável para quem viveu nessa grande república a que chamam Paris.” (Stendhal, O Vermelho e o Negro, 1830).
            “Paris não parece um sublime vaso de guerra carregado de inteligência? (...) Esta nave tem seu próprio balanço, de proa a popa, de um lado a outro, mas ela singra o mundo, e nele faz fogo pelas cem bocas de suas tribunas, lavra os mares científicos, navega a velas cheias, grita do alto pela voz de seus sábios e seus artistas. Avante, marchemos! Sigam-me!”(Honoré de Balzac, A Menina dos Olhos de Ouro, 1835).
            “Ao cabo de três meses, Dinah estava aclimatada, já se embriagara das música no Italiens, conhecia o repertório de todos os teatros, os atores, os jornais e os gracejos do momento; já se acostumara a esta vida de contínuas emoções, a essa corrente rápida em que tudo se esquece. Ela não estendia o pescoço, nem metia o nariz no ar, como uma estátua do Espanto, a propósito das contínuas surpresas que Paris oferece aos estrangeiros. Ela sabia respirar o ar desse meio espiritual, animado, fecundo, em que as pessoas de espírito se sentem em seu elemento e que elas não podem abandonar.” (Honoré de Balzac, A Musa do Departamento, 1837).
“Ela estava em Tostes. Ela, agora, em Paris; lá longe! Como seria essa Paris? Que nome imenso! Ela o repetia, para o próprio prazer, a meia-voz; ele soava a seus ouvidos como um sino de catedral, cintilava diante de seus olhos sobre a etiqueta dos potes de cosméticos.”(Flaubert, Madame Bovary, 1857).
“É preciso amá-la, é preciso querê-la, é preciso suportá-la, esta cidade frívola, ligeira, cantante, dançante, dissimulada, florida, temível, que dá poder a quem a toma, que Macimilien, avô de Charles V, teria trocado por todo o seu império, que os girondinos teriam adquirido com seu sangue, e que Henri IV conseguiu com uma missa.” (Victor Hugo, Paris, 1867).
“Paris, este grande centro luminoso a cuja volta voam todas as glórias, como borboletas em torno da vela, algumas vezes par ali queimar as asas.”(Théophile Gautier, Retratos Contemporâneos, 1874).
“Paris é adubo dos artistas. Eles não podem atingir senão lá, os pés sobre suas calçadas e a cabeça no seu ar inebriante e vivo, toda a sua completa floração. E não basta vir até lá; é preciso estar lá, é preciso que suas casas, seus habitantes, suas ideias, seus hábitos, seus costumes íntimos, suas zombarias, seu espírito lhes sejam desde logo familiares. Grande, poderoso ou genial que seja, quando não se torna parisiense até a medula conserva algo de provinciano.”(Guy de Maupassant, Crônicas, 1882).
“Morar em Paris! O sonho do mundo inteiro! Os franceses imaginam que é por amor a eles. Mas Paris é o paraíso dos estrangeiros que detestam os franceses.”(Paul Morand, Inverno Caribenho, 1927).
“Paris é luxo, é elegância, é o entusiasmo, a ligeireza, a alegria, o antiprovinciano, e sobretudo é as mulheres, muitas mulheres.” (Stefan Zweig, Três Poetas de Suas Vidas, 1932),
“Paris criou o tipo do flâneur. (...) Uma paisagem – é bem isso que Paris se torna para o flâneur. Mais exatamente, ele vê a cidade se cindir em dois polos dialéticos. Ela se abre a ele como paisagem e o encerra como num quarto.”(Walter Benjamin, Paris, Capital do Século XIX, 1935).
“Se você teve a felicidade de viver em Paris quando jovem, não importa onde você esteja ela estará em você, pois Paris é uma festa móvel.” (Ernest Hemingway em carta a um amigo, 1950, depois estampada como epígrafe em Uma Festa Móvel, 1964).
“Paris é uma cidade-livro, uma cidade escrita, uma cidade impressa. Uma cidade-livro feita de milhares de livros. Uma cidade da qual se poderia dizer que é o sonho de uma biblioteca, se é que se pode atribuir às bibliotecas a faculdade de sonhar. Para um multidão de gente no mundo, Paris existe dentro de uma biblioteca: na Encyclopédie, em Restif de la Bretonne, em Victor Hugo, em Maupassant, em Proust.”( Leonardo Sciascia, Palavras Cruzadas, 1983).
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·      Jornalista. Colunista da Veja
·      Fonte: Revista Veja impressa, nº 47, 25 de novembro de 2015, pág. 110).
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