quarta-feira, 28 de outubro de 2015

ELES BEBEM MUITO!

Jairo Bouer
Psiquiatra

 Jovens se excedem espontaneamente no consumo de bebidas alcoólicas
especialmente em festas do tipo "open bar"

Beber muito em um curto intervalo de tempo expõe os jovens a um risco muito maior de apagões, violência, acidentes 
e sexo sem proteção.

Esse é o principal resultado de um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que acompanhou mais de 1.200 jovens em 31 casas noturnas de São Paulo.

O trabalho foi publicado na edição de agosto da revista PLoS ONE e divulgado na última semana no estadao.com.br, em reportagem de Paula Felix. Jovens de 18 a 24 anos foram avaliados, com entrevista e bafômetro, antes da balada, ao sair da festa e no dia seguinte.

Tomar cinco ou mais doses em uma única ocasião (o que os especialistas chamam de binge drinking = é uma expressão moderna para o ato de beber bebidas alcoólicas com a principal intenção de tornar-se intoxicado pelo consumo pesado de álcool em um curto período de tempo) aumenta a chance de intoxicação alcoólica e, portanto, compromete a capacidade do jovem de avaliar o risco nas situações em que se envolve.

Quase 30% dos homens e 22% das mulheres apresentaram o padrão de “binge”, que é favorecido pelas festas “open bar[onde se paga uma entrada e pode-se beber à vontade]. Nas festas universitárias, muitas delas hoje apoiadas pela indústria da bebida, esse é o modelo preferido pelos jovens, o que dificulta possíveis mecanismos de controle individual do consumo ou da implementação de estratégias de redução de danos.

Os pesquisadores perceberam comportamentos de risco distintos entre os sexos:
  • 28% dos homens e 20% das mulheres dirigiram depois de beber,
  • 16% deles e 9% delas usaram drogas ilícitas e
  • 11% dos homens e 7% das mulheres fizeram sexo sem proteção.
  • O “blackout” (não lembrar o que fez depois de beber muito) aconteceu com quase 20% dos jovens e revela uma situação com alto potencial de risco para diversos padrões de comportamento.

Publicidade de bebidas alcoólicas na televisão e em revistas de circulação nacional
tem forte influência para o início do consumo entre adolescentes

Mais novos X álcool na TV

Mas não é só o jovem de 18 a 24 anos que bebe muito! Bom lembrar que o início de contato com bebida tem acontecido de forma precoce no Brasil. Quanto mais cedo se dá esse contato, maiores os riscos de os padrões complicados de uso, como o próprio episódio do “binge”, o abuso e a dependência. Nesse sentido, um novo estudo, divulgado na última semana pelo jornal inglês Daily Mail, mostra que propagandas de bebida na TV e em revistas estão influenciando, de maneira importante, o comportamento dos menores.

O trabalho, feito por pesquisadores da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, comparou dados divulgados por uma empresa de análise de mercado, sobre exposição de menores de 18 anos a anúncios de diversas marcas de bebida entre 2011 e 2012, e cruzou esses números com os de uma pesquisa nacional de consumo de álcool por jovens.

Os resultados, publicados no American Journal of Drug and Alcohol Abuse, mostram que crianças e jovens estão cinco vezes mais propensos a comprar bebidas de marcas que anunciam seus produtos na TV e 36% mais influenciados a adquirir produtos que fazem propaganda em revistas de circulação nacional. Segundo os pesquisadores, os dados revelam o quanto a publicidade pode influenciar o comportamento dos mais novos, sobretudo dos menores de 18 anos, em relação ao consumo de álcool.

Se essa influência é iniciada e potencializada de forma mais significativa na adolescência, não é de se estranhar que aos 18 (quando o acesso ao álcool fica ainda mais facilitado), quase um em cada três garotos e uma em cada quatro meninas comece a adotar padrões como o “binge drinking” e passe a se expor de forma importante a diversos tipos de risco.

Algumas estratégias defendidas pelos especialistas para lidar com o que consideram hoje um problema de saúde pública, são:
  • Repensar a forma como as bebidas (principalmente as de teor alcoólico mais baixo) ocupam espaço hoje nas diversas mídias (de forma importante na internet),
  • educar para o consumo (mesmo levando-se em consideração que o álcool é um potente alterador da nossa percepção de risco),
  • fiscalizar a venda e o consumo de bebidas pelos menores de maneira mais eficaz e
  • pensar em estratégias de reduzir danos ligados ao consumo de álcool.
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Fonte: O Estado de S. Paulo – Metrópole – Domingo, 25 de outubro de 2015 – Pg. A23 – Internet: clique aqui.

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