terça-feira, 22 de setembro de 2015

Francisco Jiménez Bautista, professor e pesquisador: 'É interessante repopular a Europa com sírios'


Para o professor de antropologia da Universidade de Granada, Francisco Jiménez Bautista, a especificidade da violência no Brasil é silenciosa Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Diretor do Instituto da paz e dos conflitos da Universidade de Granada, espanhol, criador do conceito de “paz neutra”, esteve no Rio para colóquio na Uerj

“Nasci em Molvízar, Granada, e tenho formação variada, de gestão ambiental, filosofia/ letras e professorado, a um doutorado em humanidades e especialidade em direito do urbanismo. Minha pesquisa tem se centrado nos temas: ‘conflito cultural: juventude, racismo e migração’, ‘teoria e e história da antropologia’ e ‘estudos de paz’"

Conte algo que não sei.
Em geral, estamos acostumados a ver a violência direta, estrutural, sem fazer sequer o esforço de analisar a violência cultural e simbólica. É essa violência que se tenta neutralizar através do conceito que criei, o de “paz neutra”, que age nos padrões específicos de cada sociedade, de modo a reorganizar as relações entre os indivíduos, a família e os grupos, dentro de seu conjunto.
Qual a especificidade da violência no Brasil?
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É a violência silenciosa, que atinge sobretudo a população pobre, mais sujeita a ela, que não tem recursos para se proteger. As autoridades pactuam com isso, por ser uma forma indireta de eliminar essa população. É uma espécie de homicídio, ou suicído, social: não é visível e há um silêncio cúmplice da sociedade, que pouco informa sobre esse estado de coisas.

Você lançará um livro sobre prostituição. O que nos conta?
A maioria das relações interpessoais e familiares são hoje muito frágeis, o que obriga as pessoas a pagarem por serviços sexuais. Na Espanha, 50% dos homens que recorrem a prostitutas são casados. O turismo só funciona por causa dos puteiros, do álcool e da droga. A maioria não viaja para ver catedrais e monumentos, mas para conhecer outras pessoas ou buscar uma sexualidade pornográfica idealizada através de filmes, e ausente do entorno imediato.

Por que mulheres ainda se prostituem?
É um tipo de mulher que se atrai por um modo de ganhar dinheiro rápido. Acaba entrando numa adição por dinheiro, e o vício renova o ciclo, só interrompido quando seu corpo perde o valor de produto e deixa de ser competitivo. 

O que acha da alternativa de legalização?
Eu defendo. A prostituição foi a profissão que permitiu à mulher, pela primeira vez na história, libertar-se. Mas nunca virou uma profissão de fato. Uma vez que há mulheres que ainda recorrem a ela, a legalização faz com que não haja tantos abusos e permite um controle mínimo de higiene, pensões, trabalho e impostos. Se isso se faz na Alemanha, na Holanda, porque não fazê-lo em outras partes do mundo?

O assunto do momento envolve outro tipo de contingente excluído: os imigrantes sírios. O que diz a respeito?
A Europa, ao lado dos Estados Unidos, criou o conflito na Síria para tentar derrubar o presidente Assad, que não permitia a passagem de um gaseoduto. Depois apareceu o Estado Islâmico, pressionado a alvejar Assad, mas a situação saiu do controle. Da minha parte, incentivo os sírios a irem todos para Alemanha.

Por quê?
É a voz pensante e pagadora da fatura europeia. Foi o cérebro disso, e deve ser responsabilizada. Além do que, falta população à Alemanha. Acho que é interessante repopular a Europa com sírios. A maioria é de mulheres e crianças, o que poderia ser útil num processo de alteração da demografia.

Você imagina um mundo com cinco ou seis potências regionais e só uma moeda?
Claro, isso seria o ideal. Blocos culturais e econômicos a jogarem com as mesmas regras. Por que é que os chineses são mais competitivos? Porque desvalorizam a sua moeda e escravizam boa parte da sua população. Se as regras de jogo fossem as mesmas, os níveis de justiça decerto subiriam.
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Reportagem por 

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