sexta-feira, 24 de julho de 2015

Prof. Dr. Martin Dreher dá aula de história em discurso de agradecimento

 
Escolhido por unanimidade pela Comissão Julgadora para receber a premiação Distinção Imigração Alemã 2015 pela Região Metropolitana de Porto Alegre, o catedrático da Unisinos agradeceu com magistral aula de história ancestral autobiográfica.

Amigos, familiares,

Inicialmente, quero agradecer pela distinção e premiação feita a minha pessoa. Sou pesquisador.

Pesquisas, não raro, estão orientadas na história do pesquisador. É o meu caso. Vovô Arthur Dreher era ourives. Em 1912, a depressão alemã fê-lo migrar ao Brasil. Encontrou Not. Vovó Guilhermina era bisneta de Johann Peter Müller e de Maria Margareta Schlemmer. Haviam sido servos da gleba até sua emancipação. Vinham do Principado de Birkenfeld. Maria Margareta morreu de inanição, na viagem do Rio para Porto Alegre. Johann Peter da mesma “doença” quatro semanas após chegar à Feitoria/São Leopoldo, em 15/02/1826. O capitão do navio lhes negara comida para vendê-la em Porto Alegre. Entre as crianças sobraram Jacob Philipp, com sete anos, depois avô de Guilhermina. Provavelmente, Jacob Philipp foi criado por Franz Peter Müller e Maria Elisabeth Konrad, também naturais de Nohen/Birkenfeld como o falecido Johann Peter. Jakob teve contato com as primas Maria Elisabeth, mais tarde esposa de Andreas Mentz e com Maria Magdalena, depois esposa de Johann Friedrich Schreiner, outro imigrante. Entre os muitos filhos que as duas meninas tiveram estão Jakobine, depois casada com João Jorge Maurer, e Marie Louise, depois casada com Jakob Schilling, mais um imigrante. Jakobine foi trucidada em agosto de 1874, junto ao Ferrabrás em Sapiranga. Marie Louise tornou-se esposa de proprietário de companhia de navegação que transportava mercadorias pelo rio Caí. Sua filha Wilhelmine tornou-se mãe de vovó Guilhermina, após seu casamento com Carlos Martin Müller, mestre funileiro, radicado em Montenegro, filho daquele menino sobrevivente de 1825, Jacob Philipp, imigrante órfão.

Para que poucos pudessem viver bem, muitos tiveram que migrar. Muitos tiveram que migrar em busca de vida digna. O Duque de Oldenburg permitiu que Von Schäffer recrutasse súditos seus em Birkenfeld, onde por três anos não se colhera batatas e o Grossbauer que lhe pagava impostos poderia ir à falência. O Grão-Duque de Mecklenburg permitiu que Von Schäffer levasse ao Brasil seus súditos que haviam sido tirados da terra e substituídos por máquinas pelos Junker. Os Junker também os haviam colocado em casas de correção para que, pobres, não mendigassem, vagassem ou cometessem pequenos furtos para alimentar seus filhos. Os que migraram em busca de vida digna são meus antepassados, motivação de minhas pesquisas. Ao migrar, buscaram responder aos que diziam que pobre é quem não quer trabalhar. Mas, como trabalhar, se não há quem ofereça condições para o trabalho?

No Brasil, encontraram acolhida parcial. Protestantes que eram tiveram que lutar por reconhecimento pleno. Todos foram alvo de xenofobia. Mesmo o lugar-tenente do Schinderhannes foi aqui acolhido e seus filhos se tornaram fundadores de clube germânico em Porto Alegre.

A antiga pátria por eles só se interessou, quando já tinham condições de dela adquirir produtos. Aí passaram a ser “Auslandsdeutsche”.

Passados 191 anos, os territórios de origem se veem confrontados com migrantes. Repetem lá a xenofobia que enfrentamos cá. Falam em nacionalização dos migrantes e reclamam destes por não aprenderem o idioma pátrio. Os mais afoitos voltam a temer pela pureza da raça e da língua.

Passados 191 anos, verifico que descendo de pobres e miseráveis que experimentaram as três máximas de quem migra: Tod, Not, Brot (morte, necessidade, pão). Se hoje amasso meu pão com liberdade devo-o aos que tiveram a coragem de migrar, que aqui puderam exercer profissões que não mais podiam exercer na terra ancestral, mesmo que sob condições difíceis. Honro pai e mãe que migraram, mas também tenho compromisso em relação aos que migram, dando ouvidos aos profetas de Israel que advertem que se cuide “do órfão, da viúva e do estrangeiro”. Passados 191 anos cabe-me lembrar à terra que um dia expulsou meus ancestrais que cuide “do órfão, da viúva e do estrangeiro”, que receba o turco, o sírio e não oprima o grego.

Comemorar é relembrar grandes e pequenos feitos, também os insignificantes e os pequeninos. Johann Peter Müller e Maria Margareta Schlemmer também foram importantes. Não abandonaram Hänsel e Gretel na floresta, mas trouxeram-nos ao Brasil para que aqui derrubassem a mata e construíssem pátria com maiores possibilidades.

Grato por distinguirem a história de descendente de servo da gleba.
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Fonte:http://www.brasilalemanha.com.br/novo_site/noticia/prof-dr-martin-dreher-da-aula-de-historia-em-discurso-de-agradecimento/6424#sthash.qgRjOJuq.dpuf
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Prof. Dr. Martin Dreher dá aula de história em discurso de agradecimento

Escolhido por unanimidade pela Comissão Julgadora para receber a premiação Distinção Imigração Alemã 2015 pela Região Metropolitana de Porto Alegre, o catedrático da Unisinos agradeceu com magistral aula de história ancestral autobiográfica.
Sr. Décio Krohn, Presidente da FECAB
Sr. Dênis Gerson Simões, Presidente do 25 de Julho
Sr. Sílvio A. Rockenbach, Presidente da Comissão das Comemorações da Imigração Alemã
Sr. Sérgio Gilberto Dienstmann, Presidente do Instituto São Leopoldo 2014
Sr. Claudio José Weber
Amigos, familiares,
Inicialmente, quero agradecer pela distinção e premiação feita a minha pessoa. Sou pesquisador.
Pesquisas, não raro, estão orientadas na história do pesquisador. É o meu caso. Vovô Arthur Dreher era ourives. Em 1912, a depressão alemã fê-lo migrar ao Brasil. Encontrou Not. Vovó Guilhermina era bisneta de Johann Peter Müller e de Maria Margareta Schlemmer. Haviam sido servos da gleba até sua emancipação. Vinham do Principado de Birkenfeld. Maria Margareta morreu de inanição, na viagem do Rio para Porto Alegre. Johann Peter da mesma “doença” quatro semanas após chegar à Feitoria/São Leopoldo, em 15/02/1826. O capitão do navio lhes negara comida para vendê-la em Porto Alegre. Entre as crianças sobraram Jacob Philipp, com sete anos, depois avô de Guilhermina. Provavelmente, Jacob Philipp foi criado por Franz Peter Müller e Maria Elisabeth Konrad, também naturais de Nohen/Birkenfeld como o falecido Johann Peter. Jakob teve contato com as primas Maria Elisabeth, mais tarde esposa de Andreas Mentz e com Maria Magdalena, depois esposa de Johann Friedrich Schreiner, outro imigrante. Entre os muitos filhos que as duas meninas tiveram estão Jakobine, depois casada com João Jorge Maurer, e Marie Louise, depois casada com Jakob Schilling, mais um imigrante. Jakobine foi trucidada em agosto de 1874, junto ao Ferrabrás em Sapiranga. Marie Louise tornou-se esposa de proprietário de companhia de navegação que transportava mercadorias pelo rio Caí. Sua filha Wilhelmine tornou-se mãe de vovó Guilhermina, após seu casamento com Carlos Martin Müller, mestre funileiro, radicado em Montenegro, filho daquele menino sobrevivente de 1825, Jacob Philipp, imigrante órfão.
Para que poucos pudessem viver bem, muitos tiveram que migrar. Muitos tiveram que migrar em busca de vida digna. O Duque de Oldenburg permitiu que Von Schäffer recrutasse súditos seus em Birkenfeld, onde por três anos não se colhera batatas e o Grossbauer que lhe pagava impostos poderia ir à falência. O Grão-Duque de Mecklenburg permitiu que Von Schäffer levasse ao Brasil seus súditos que haviam sido tirados da terra e substituídos por máquinas pelos Junker. Os Junker também os haviam colocado em casas de correção para que, pobres, não mendigassem, vagassem ou cometessem pequenos furtos para alimentar seus filhos. Os que migraram em busca de vida digna são meus antepassados, motivação de minhas pesquisas. Ao migrar, buscaram responder aos que diziam que pobre é quem não quer trabalhar. Mas, como trabalhar, se não há quem ofereça condições para o trabalho?
No Brasil, encontraram acolhida parcial. Protestantes que eram tiveram que lutar por reconhecimento pleno. Todos foram alvo de xenofobia. Mesmo o lugar-tenente do Schinderhannes foi aqui acolhido e seus filhos se tornaram fundadores de clube germânico em Porto Alegre.
A antiga pátria por eles só se interessou, quando já tinham condições de dela adquirir produtos. Aí passaram a ser “Auslandsdeutsche”.
Passados 191 anos, os territórios de origem se veem confrontados com migrantes. Repetem lá a xenofobia que enfrentamos cá. Falam em nacionalização dos migrantes e reclamam destes por não aprenderem o idioma pátrio. Os mais afoitos voltam a temer pela pureza da raça e da língua.
Passados 191 anos, verifico que descendo de pobres e miseráveis que experimentaram as três máximas de quem migra: Tod, Not, Brot (morte, necessidade, pão). Se hoje amasso meu pão com liberdade devo-o aos que tiveram a coragem de migrar, que aqui puderam exercer profissões que não mais podiam exercer na terra ancestral, mesmo que sob condições difíceis. Honro pai e mãe que migraram, mas também tenho compromisso em relação aos que migram, dando ouvidos aos profetas de Israel que advertem que se cuide “do órfão, da viúva e do estrangeiro”. Passados 191 anos cabe-me lembrar à terra que um dia expulsou meus ancestrais que cuide “do órfão, da viúva e do estrangeiro”, que receba o turco, o sírio e não oprima o grego.
Comemorar é relembrar grandes e pequenos feitos, também os insignificantes e os pequeninos. Johann Peter Müller e Maria Margareta Schlemmer também foram importantes. Não abandonaram Hänsel e Gretel na floresta, mas trouxeram-nos ao Brasil para que aqui derrubassem a mata e construíssem pátria com maiores possibilidades.
Grato por distinguirem a história de descendente de servo da gleba.
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