segunda-feira, 13 de abril de 2015

Literatura perde dois gigantes: uruguaio Eduardo Galeno e alemão Günter Grass

Literatura perde uruguaio Eduardo Galeno e alemão Günter Grass -  

O mundo da literatura perdeu dois importantes nomes na manhã desta segunda-feira. Aos 74 anos, o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, morreu em Montevidéu, por complicações decorrentes de um câncer de pulmão, diagnosticado em 2007. Ele estava internado no Centro de Assistência do Sindicato Médico do Uruguai desde sexta-feira.

Autor de "O tambor" (1959) e Prêmio Nobel de Literatura em 1999, o escritor alemão Günter Grass morreu, aos 87 anos, em um hospital da cidade de Lübeck (Alemanha), segundo informou sua editora, Steidl, no Twitter. 

Eduardo Galeano, escritor e jornalista uruguaio 

 
O escritor uruguaio Eduardo Galeano lendo um de seus livros 
RONALDO SCHEMIDT / AFP

Morreu na manhã desta segunda-feira, aos 74 anos, o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, em Montevidéu. Ele teve complicações decorrentes de um câncer de pulmão, diagnosticado em 2007, e estava internado no Centro de Assistência do Sindicato Médico do Uruguai desde sexta-feira.

Galeano escreveu mais de 50 livros (traduzidos para cerca de 20 idiomas), entre documentários, ficções e obras jornalísticas, e tinha o futebol, as mulheres, a cultura e o continente latino-americano como principais temas de interesse. Sua obra mais famosa foi "As veias abertas da América Latina", que, desde sua publicação, em 1971, se converteu em um clássico da literatura política do continente.
Nascido no dia 3 de setembro de 1940, aos 14 anos já vendia caricaturas para jornais de Montevidéu. Nos anos 1960, como jornalista, trabalhou no semanário "Marcha" e no diário "Época". Porém, antes de se tornar um jornalista e líder intelectual da esquerda, Galeano trabalhou como operário de fábrica, desenhista, pintor, office boy, datilógrafo, caixa de banco, entre outras ocupações.

Lançou "As veias abertas da América Latina" aos 31 anos e reconheceu posteriormente que ainda não tinha formação suficente para finalizar a tarefa naquela época. "O livro buscava ser um obra de economia política, mas eu não tinha a formação necessária para isso", disse ele. "Não me arrependo de ter escrito, mas é uma etapa que, para mim, está superada", acrescentou.

Por conta do golpe militar uruguaio, Galeano deixou o país em 1973 e passou a morar na Argentina, onde fundou uma revista cultural chamada "Crisis". Quando voltou ao Uruguai, treze anos depois, criou o semanário "Brecha". Nos últimos meses, se dedicava a editar um novo livro chamado "Mujeres", considerado um experimento editorial.

Em 2009, durante a Cúpula das Américas, o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, presenteou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com um exemplar do livro de Galeano (censurado pelas ditaduras do Uruguai, Argentina e Chile). Por conta da ocasião, em um dia, o livro pulou da 60.280ª para a décima posição na lista dos mais vendidos da Amazon.

Questionado sobre o episódio, Galeano respondeu que "nem Obama e nem Chávez entenderiam o texto. Ele (Chávez) entregou a Obama com as melhores intenções, mas deu a ele um livro em um idioma que Obama não conhece. Então, foi um gesto generoso, mas um pouco cruel".

Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura 

 
Prêmio Nobel Günter Grass morre aos 87, na Alemanha 
SUSANA VERA / REUTERS

O escritor alemão Günter Grass morreu na manhã desta segunda-feira, aos 87 anos, em um hospital da cidade de Lübeck (Alemanha), segundo informou sua editora, Steidl, no Twitter. Autor de "O tambor" (1959), Grass ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1999.

Em sua obra mais emblemática, Grass conta a história da Alemanha na primeira metade do século 20 através da vida de um menino que se recusa a crescer. O livro estourou na Alemanha pós-guerra e recebeu tanto elogios quanto críticas daqueles que viam nele um espelho muito real da Segunda Guerra Mundial e do surgimento do nazismo. A popularidade da obra, pela qual Grass teve que comparecer ao tribunal sob acusações de pornografia, aumentou em 1979, quando Volker Schlöndorff a levou ao cinema e garantiu o Oscar de melhor filme estrangeiro.

"Isso é muito triste. Um verdadeiro gigante, uma inspiração, e um amigo. Toque o tambor por ele, pequeno Oskar...", postou, no Twitter, o escritor britânico Salman Rushdie. A premiada tradutora Anthea Bell disse ao portal do jornal "The Guardian" que Grass era "uma figura literária de enorme importância para a Alemanha pós-guerra, e para todo o mundo".

Escritor, poeta e artista plástico, o alemão encontrou sucesso em todas as formas artísticas que explorou — da poesia ao drama e da escultura à arte gráfica — mas foi depois de "O tambor" que ele passou a ter a reputação internacional que o levou ao Nobel de Literatura, 40 anos após o lançamento do livro.

Autor de discursos do chanceler alemão Willy Brandt, Grass nunca teve medo de usar sua fama para se envolver com política ou como plataforma para campanhas pela paz e pelo meio ambiente.

Nascido em 16 de outubro de 1927 em Gdansk (Polônia), dizia que sua data de nascimento tinha sido "quase suficiente" para evitar o envolvimento com o nazismo. Porém, aos 16 anos, foi recrutado em 1944 pela Força Aérea da Alemanha e, após a Segunda Guerra Mundial, estudou na Academia de Arte de Düsseldorf. Quando escreveu sobre sua experiência na guerra, na autobiografia "Descascando a cebola", em 2006, foi acusado de oportunismo, hipocrisia e traição.

'PERSONA NON GRATA' EM ISRAEL

Grass esteve envolvido com polêmicas até os últimos anos de sua vida. Em 2012, foi considerado "persona non grata" pelo governo de Israel por conta da publicação de um poema, chamado de “O que deve ser dito”, em que descrevia o Estado judeu como uma ameaça para a paz mundial devido a sua posição em relação ao Irã.

No ano seguinte, esteve entre os 520 autores de um abaixo-assinado que pedia o fim da espionagem política e industrial. Entitulada “Escritores contra a espionagem em massa”, a cartava destaca que “todos os seres humanos têm o direito de permanecer livres de serem observados e perturbados”, que “um pessoa sob monitoramento não é mais livre” e que “a sociedade que vive sob a espionagem não é mais uma democracia”.

Em 2014, anunciou que, por conta de sua saúde frágil, não escreveria mais romances, acrescentando que sua condição o impediria de fazer planejamentos que durem cinco ou seis anos. “Isso seria pré-condição para o trabalho de pesquisa para um romance”, disse.
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Fonte: Jornal O Globo online, 13/04/2015

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