quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Para Maffesoli, crise tem origem na saturação dos valores da Modernidade

 Para sociólogo francês, Brasil é 
um laboratório pós-moderno ao congregar 
valores como criatividade, presente e comunidade

RIO - O sociólogo francês Michel Maffesoli, um dos maiores teóricos da Pós-Modernidade, diz não ver a economia na origem da crise mundial. Antes, afirma o professor da Sorbonne, diretor do Centro de Estudos sobre o Atual e o Cotidiano e do Centro de Pesquisas sobre o Imaginário (M.S.H.), que veio ao Brasil para uma série de conferências, a crise está, na base, na saturação de valores da Modernidade, como individualismo, racionalidade, futuro como progresso, trabalho como valor e utilitarismo.
Para uma plateia formada por acadêmicos, estudantes e empresários em conferência nesta segunda-feira na Associação Comercial do Rio em evento organizado em conjunto com o Instituto Palavra Aberta e com o Ibmec, Maffesoli diz ver no Brasil um laboratório da Pós-Modernidade, por abrigar na sua cultura valores como criatividade, presente e comunidade. Ele afirma que a sociedade de maneira geral vive um momento paradoxal em que conceitos modernos e pós-modernos coexistem.

— A palavra democracia não quer dizer mais nada, a liberdade não está mais na pauta do dia. O conceito de Estado-Nação dá lugar ao localismo, ao mosaico de ideias. Não é mais o materialismo que vai predominar, a dimensão somente econômica não vai predominar — afirma o professor, que orientou vários estudantes brasileiros na França.

Com base nas novas tecnologias, no conceito de horizontalidade da internet, na percepção das gerações mais jovens, Maffesoli baseia sua série de hipóteses. Agora, segundo ele, não existe mais o indivíduo, mas pessoas múltiplas. Não se está preso a uma identidade sexual ou profissional, pode-se ser várias coisas diferentes e não excludentes. O presente se contrapõe à noção de futuro. As coisas inúteis também são importantes, haja vista que a Google quer que seus funcionários gastem parte do tempo de seu dia pensando em outras coisas, que não apenas o trabalho. 

— O fim do mundo não é o fim do mundo, mas a sua metamorfose. Nós vimos por muito tempo a luz de uma estrela morta — disse, ao afirmar que ainda vivemos com os valores do século XIX.

Autor de diversos livros, ele lança no Brasil ‘Homo Eroticus - As Comunidades Emocionais', pela editora Forense. Ao ser indagado, diz que não comenta o livro do colega Thomas Piketty “O Capital no século XIX” porque não o leu. Grande demais, disse. Ele diz, no entanto, que o igualitarismo, democracia, liberdade e educação são temas que estão em crise.

— A democracia moderna se baseia no hierárquico, mas agora há o retorno das diferenças. Podemos pensar num ajuste das desigualdades, mas não no fim das desigualdades. Estamos em um período em que a crueldade vai retornar. A Modernidade foi essencialmente dramática, mas havia uma solução, agora vamos nos virar com o que dá prá ser. Não se resolve tudo, mas, ao mesmo tempo, há vida com sombra e luz — afirma.
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Reportagem  por

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