sábado, 14 de junho de 2014

Pastor Everaldo: "O Estado passou a se servir da população"

REDUÇÃO O pastor Everaldo Pereira, no Congresso Nacional. “Qualquer idade, cometeu crime, será punido”  (Foto: Igo Estrela/ÉPOCA)

Em quarto lugar nas pesquisas para presidente, o provável candidato do PSC critica Dilma e defende teses controvertidas – como renegociar a dívida interna e punir menores infratores

Na semana passada, dias antes da convenção que o apontará candidato à Presidência pelo Partido Social Cristão (PSC), o Pastor Everaldo Pereira conversou com Ciro Gomes, candidato ao mesmo cargo em 2002. Eles têm algo em comum. Everaldo diz que, se eleito, renegociará a dívida interna do Brasil com os bancos. Ideia semelhante, lançada por Ciro em 2002, ajudou a alimentar uma crise de confiança do mercado financeiro. Com 4% das intenções de voto (5,6 milhões de eleitores) nas pesquisas, defensor da redução da maioridade penal e da privatização, Everaldo encostou em Eduardo Campos e poderá ajudar a levar a eleição para o segundo turno.
ÉPOCA – Seu partido integrou a base de apoio do governoDilma. Por que decidiu romper e lançar candidato próprio?
Pastor Everaldo Pereira – 
Como milhões de brasileiros, desde 2002, acreditamos que as propostas colocadas em prática eram boas para a população brasileira. Após a eleição da atual presidente, o partido viu se deteriorar todas aquelas coisas boas feitas pelo Brasil e entendeu que teria candidatura própria. Com coerência, apoiamos a governabilidade, mas nunca tivemos um cargo no governo. Quando o governo pedia para votar coisas que não eram do interesse da população, sempre votamos contra.

ÉPOCA – O que era contra o interesse da população?
Pastor Everaldo – 
O fundamental para a gente é que o Estado, que deveria servir à população, passou a se servir da população. O Estado ficou aparelhado para atender a uma agremiação partidária. Houve uma concentração da renda com o governo federal. Os municípios ficam com quase 13% da receita; os Estados, com 22%; e o governo federal, com 65%.

ÉPOCA – Qual sua opinião sobre a presidente Dilma Rousseff?
Pastor Everaldo –
Ela me decepcionou. Em todos os aspectos.

ÉPOCA – O que o senhor acha do desempenho do governo Dilma na área econômica?
Pastor Everaldo –
O governo tem quase 30 mil cargos comissionados, 39 ou 40 ministérios, a máquina aparelhada. Você pega o orçamento da União, R$ 2,488 trilhões, tem 4% para educação, 4% para saúde e 44% para pagamento de serviços da dívida e juros. Metade do orçamento brasileiro é para pagar dívida, porque o Estado gasta mais do que arrecada e joga o peso em cima da população. A família brasileira hoje trabalha mais de 150 dias por ano para pagar impostos. O governo não presta serviço nem de Terceiro Mundo. É de submundo. A inflação que há hoje no país é provocada pelo governo.

ÉPOCA – Qual sua proposta para resolver isso?
Pastor Everaldo –
Minha proposta é corte na carne, redução do Estado. Sempre digo: ministérios, se você tiver 20 – por acaso, é o número do PSC –, está bom. O Estado brasileiro hoje quer tomar conta de muitas coisas e não consegue resolver o principal. Via BNDES, o governo é sócio de 600 empresas. Para quê? Defendemos um Estado efetivamente mínimo. Cortando na carne e fazendo uma renegociação da dívida interna. Parece que foi em 1913 a última vez que o presidente fez uma negociação da dívida de verdade no país (o presidente Hermes da Fonseca renegociou a dívida externa em 1914). Precisa fazer isso. Veja bem: 44% do orçamento para pagamento da dívida. É como se uma pessoa que ganha R$ 1.000 pegasse R$ 440 e pagasse juros e dívida. Como consegue sobreviver?

ÉPOCA – O senhor propõe uma renegociação da dívida interna?
Pastor Everaldo –
Renegociação da dívida interna, sem quebra de contratos. O inadimplente chega no banco, conversa e faz uma renegociação. Isso é normal. O banqueiro, o investidor quer receber. Não quer ficar sem receber. Então, renegociaremos a dívida, sem quebra de contratos. Acreditamos que não é uma coisa radical. Podemos fazer.

ÉPOCA – O senhor estudou o perfil da dívida interna? Parte da dívida está com os bancos, mas parte está nas mãos de pequenos investidores, que aplicam em fundos, no Tesouro Direto...
Pastor Everaldo –
Temos uma equipe que tem esses dados, estou sempre estudando isso direitinho, está certo?

ÉPOCA – A inflação está em alta, o crescimento da economia é baixo e a dívida bruta subiu nos últimos anos. Quem estiver no governo em 2015 provavelmente terá de elevar juros e cortar gastos. O senhor faria isso?
Pastor Everaldo –
Não precisa elevar juros. Na hora em que você corta na carne, enxuga a máquina, precisará tomar menos dinheiro no mercado para cobrir esse rombo.

ÉPOCA – O senhor fala em privatizar tudo que for possível. O que o senhor privatizaria?
Pastor Everaldo –
Por exemplo: distribuição, venda de gasolina. O país precisa de BR Distribuidora? Então, BR Distribuidora é um exemplo. Aí me perguntam: e a Petrobras? Petrobras é um patrimônio nacional que temos de tentar recuperar do sucateamento, do aparelhamento. Temos um caos no sistema carcerário. Um bandido, por mais terrível que seja, não pode ficar nas condições sub-humanas em que fica hoje. Devemos privatizar presídios para cuidar disso aí. Tem dado certo no mundo e no Brasil.

ÉPOCA – O senhor acha que segurança pública é assunto de candidato a presidente?
Pastor Everaldo –
Em 22 de abril do ano passado, meio-dia, em plena Avenida Brasil, na altura de Guadalupe, no Rio de Janeiro, há um tiroteio entre polícia e bandidos. Uma bala perdida de fuzil atravessa a cabeça de um jovem, de 50 anos, deixa uma jovem viúva e deixa duas lindas jovens filhas, de 20 e 21 anos. (Silêncio.) Esse jovem, de 50 anos, era meu irmão. Sinto na minha pele o que a população brasileira sente. O problema da segurança pública é um problema de responsabilidade do governo federal. Estudo isso com pessoas da Polícia Civil, da Polícia Militar e da Polícia Federal.

ÉPOCA – Em 2010, o senhor e outros líderes evangélicos apoiaram a presidente Dilma quando se discutiu se ela era contra ou a favor da legalização do aborto. O senhor é contra ou a favor?
Pastor Everaldo –
Sou contra. Recentemente, de uma maneira lamentável, o Ministério da Saúde baixou uma portaria para legalizar. Nos manifestamos imediatamente contrários. Suspenderam a portaria dois ou três dias depois. (A portaria regulamentava o atendimento no Sistema Único de Saúde dos casos de aborto permitidos por lei.) Nossa posição é clara. A legislação brasileira já trata disso.

ÉPOCA – Qual sua posição sobre o casamento gay?
Pastor Everaldo –
Sou a favor da família como está na Constituição. O PSC não discrimina, não segrega, não exclui ninguém. Mas, graças a Deus, estou no Brasil, uma democracia. Não estou em Cuba nem na Venezuela. Temos liberdade para defender aquilo em que acreditamos.

Nós vamos renegociar a dívida interna. Acreditamos
 que não é uma coisa radical
 
ÉPOCA – O senhor é a favor da redução da maioridade penal?
Pastor Everaldo –
Sou a favor da redução. Sou favorável ao padrão dos Estados Unidos: qualquer idade, cometeu crime, será punido. Não podemos, naturalmente, colocar uma criança dentro de um covil. Mas não podemos admitir, como aconteceu em São Paulo, que um bandido com dez crimes nas costas, um adolescente que matou, diga na delegacia: “Vou matar mais esses todos que me prenderam”. Ele não pode ser tratado da mesma forma que um adolescente que cometeu um deslize.

ÉPOCA – Os eleitores evangélicos são fiéis a um candidato evangélico?
Pastor Everaldo – Sou um candidato do Partido Social Cristão, o PSC. O evangélico, o católico, é um cidadão brasileiro com direito a voto. Serei um candidato de todos os brasileiros.

ÉPOCA – O senhor tem a vantagem de discursar para milhares de pessoas numa igreja, na hora em que quiser, coisa que a maioria dos políticos não tem a chance de fazer.
Pastor Everaldo –
Sou convidado, vou naturalmente. Minhas propostas são para o cidadão brasileiro, independentemente da religião. Sou evangélico e votei em gente que não é evangélica.

ÉPOCA – O senhor terá apenas entre um e dois minutos no horário eleitoral gratuito. Como pretende superar isso?
Pastor Everaldo –
Respondo com um princípio cristão: tenho mais do que uma atiradeira e uma pedrinha.

ÉPOCA – Verdade. O senhor tem os milhares de fiéis nos cultos.
Pastor Everaldo –
Não é isso. Quando Jesus fez a multiplicação dos peixes, todo mundo falou: não tem dinheiro, tem muita gente aqui... tem cinco pães e dois peixes. Então, é com isso aí que a gente vai fazer. Não me preocupo com o que não tenho.
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Reportagem  LEANDRO LOYOLA
Fonte: Revista ÉPOCA online, 13/06/2014 20h22 - Atualizado em 14/06/2014 12h29

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