quarta-feira, 11 de junho de 2014

O fascínio chamado amor

 Martha Medeiros*
O jogo do amor, nesta véspera de Dia dos Namorados, está sofrendo uma concorrência indecorosa. Só se fala em futebol. A pipoca promete desbancar os bombons, a cerveja promete vencer os cálices de vinho, e beijo, alguém falou em beijo? Só se for para comemorar vitórias em campo. Não é hora de romantismo, e sim de patriotismo.

Suspiro. Nesse clima (ainda que insosso) de torcida organizada, de nação reunida, de milhões em ação, fica difícil dedicar o tema da coluna apenas para dois: um par.

Mas é o que me propus, desde que li, dia desses (acho que no livro Doralina, de Luiz Horácio), uma frase que me fez pensar: “Amar é encontrar aquilo que não se procura”. E subitamente lembrei daqueles que se produzem no sábado à noite para sair em busca de paquera, de quem se vale do aplicativo Tinder na esperança de achar sua cara-metade, de quem se matricula em todos os cursos prevendo que dali será pinçado um candidato a marido ou a esposa, de quem pede aos amigos para que lhe apresentem solteiros e solteiras à disposição, lembrei de todas as artimanhas justas e válidas para que a pessoa se recoloque no mercado amoroso, numa ânsia também justa e válida de preencher seu vazio emocional – só que o justo e o válido não são mágicos.

Aquilo que vem por encomenda, atendendo a pedidos, pode, claro, satisfazer plenamente seu desejo. Quer casa, comida e roupa lavada? Tem quem ofereça. Quer companhia para o cinema? Aos montes. Quer sexo e nada mais? Comece a distribuir senha. Se você está consciente do que procura, encontrará alguém que se encaixe no seu ideal de relacionamento. Funciona mais ou menos como uma entrevista de emprego.

Justo e válido.

Porém, amar é encontrar aquilo que não se procura. Aquilo que surge sem explicação, que não tem lógica, e contra o que não adianta lutar: nenhuma resistência é suficiente. Amar é puro fascínio. Você cruza com uma pessoa que talvez nem equalize com seus sonhos, mas é com ela que se deu o click, o curto-circuito, que algo foi despertado. A mágica está no que não veio por encomenda, nem atendendo a pedidos, nem no momento certo, nem mesmo pegou você de banho tomado – é um flechaço do Cupido, que às vezes é ruim de mira, mas ao menos tem boa intenção. Ou, se não for a hora de falar em Cupido, mas em Neymar, Fred, Hulk e Jô, pode-se dizer que a mágica é um potente chute de fora da área no qual ninguém acreditou, mas a bola entrou assim mesmo. Gol.

Aos namorados de amanhã, grudem-se. Façam essa mágica durar.

Aos solitários de amanhã, torçam – mas pela Seleção, não por si mesmos. Esqueçam um pouco de si mesmos. Permitam-se parar de querer, de procurar, de se preocupar. Sem planos e sem ânsia, aguardem calmamente a chegada do que nunca pediram.
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* Escritora. Cronista da ZH
Fonte: ZH online, 11/06/2014
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