quinta-feira, 12 de setembro de 2013

"O game poderá dar o 'colorido', mas não ser a causa"

Ruggero Levy*
Videogames

Especialista diz que o maior risco dos jogos é a banalização da violência

O uso frequente de videogames violentos tem sido associado a um aumento de comportamento violento na infância e adolescência. Na França, detectou-se em todo o país um aumento da violência nas escolas (bullying, depredações, agressões a colegas e professores) com a particularidade que os atos violentos eram filmados ou fotografados em celulares, sendo muitas vezes colocados na web. Ao mesmo tempo, observou-se uma dificuldade em apreciar adequadamente as consequências e o significado do ato violento por parte dos agressores.

Estudando o fenômeno, suspeitou-se de que essa prática seria uma forma de “digitalizar” a vítima, carregá-la no seu celular como se fosse um personagem de um videogame. Ao fazer isso, “desumaniza-se” a vítima e há o risco da perda da empatia com o sofrimento alheio. Esse talvez seja o maior risco: banalizar a violência e passar a ver o mundo e as vítimas de agressões como se fossem personagens digitais, como se um simples “reset” apagasse toda a dor infligida.

Não acredito que assassinatos possam ser causados pelo hábito de jogar games violentos. É necessário, para chegar a um ato extremo desses, uma doença psiquiátrica subjacente maior, como um transtorno psicótico ou uma personalidade antissocial. O game poderá dar o “colorido” ou a forma, mas não ser a causa.

Uma das precauções dos pais é ter em mente que é relativamente fácil o jovem “viciar-se” no videogame por este dar intensas recompensas de prazer imediato de natureza variada. Logo, é preciso alertar o jovem, colocar limites ao uso.

Outra precaução é estar atento aos jogos, pois algum deles, além de extremamente violentos, são construídos a partir de uma inversão total de valores onde a transgressão e a psicopatia são premiados. Em jovens com a mente em formação e muitas vezes privados do olhar e da presença orientadora dos pais, as consequências podem não ser benéficas.
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* Psicanalista.
Fonte: ZH on line, 12/09/2013
Imagem da Internet

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