sábado, 27 de julho de 2013

O Papa não acredita na mão invisível do capitalismo

Juremir Machado da Silva*

 

O Papa Francisco tem dado um show em sua visita ao Brasil: brinca, faz piada sobre brasileiros e argentina, tomou chimarrão, usou gírias brasileiras e parece estar divertindo-se muito.

Nota dez em simplicidade, proximidade com a população e crítica social.

Na favela de Varginha, ele fez a sua principal declaração: a mão invisível do capitalismo não resolve sozinha os problemas de injustiça social, desigualdade econômica e falta de oportunidades.

Ele não falou com essas palavras. Mas foi isso que ele disse.

Francisco acredita na mão visível de Deus e nas mãos de carne e osso dos homens.

Foi direto: “Nenhum esforço de pacificação’ será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma.”

Evidentemente que não fez um discurso anticapitalista.

Fez um discurso pela humanização do sistema. Defendeu, sem usar tal expressão, um capitalismo mais justo, mais humano, com uma distribuição de riquezas mais justa e digna.

Tudo o que o Brasil ainda precisa continuar buscando.

Francisco intimou a turma dos camarotes a “dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais”. É um pessoal que acredita na mão invisível do capitalismo e, por isso, esconde a sua.

Se os pobres sabem “colocar mais água no feijão”, expressão que usou, o Papa espera que os ricos tratem de meter a mão no bolso e de repartir um pouco mais de tudo o que ganham.

O Papa representa a opção de modernização conservadora da Igreja.

É um avanço.

O principal está nas entrelinhas: o mercado não resolve tudo sozinho. Acreditar nisso é defender privilégios, vender ilusões, enganar os incautos e perpetuar a desigualdade condenada.

Botei fé nesse Papa.

E ele pode fazer muito mais.

Tomara que faça.
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* Sociólogo. Prof. Universitário. Escritor. Tradutor. Colunista do Correio do Povo
Fonte: Correio do Povo on line, 26/07/2013
imagem da Internet

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