quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Bilhar

L.F. Veríssimo* 
 

Da série “Poesia numa hora dessas?!”

E essa agora?

Se o que explodiu sobre a Rússia mostrou alguma coisa foi que meteoro não tem hora.”

O mais assustador do meteoro que cruzou o céu da Sibéria e explodiu no ar como várias bombas atômicas é que ele chegou sem ser anunciado. Com todas as atenções voltadas para o outro asteroide, o que passou de raspão, o asteroide da Sibéria entrou pela porta dos fundos sem ser detectado. A desculpa é de que era pequeno demais para chamar a atenção e por isso os alarmes não funcionaram. Nossa ilusão, até agora, era de que qualquer detrito espacial que se aproximasse de nós seria identificado e rotulado, e sua trajetória calculada até o último milímetro com grande antecedência, o que nos daria tempo para preparar o espírito – ou usar nossos cartões de crédito até o limite – no caso da colisão com a Terra ser inevitável. Agora sabemos que qualquer coisa menor do que meio campo de futebol pode chegar de surpresa e explodir sobre nossas cabeças. Só nos faltava essa.

Imagino que tenha gente pensando em como evitar a catástrofe, no caso de um asteroide gigante vir em nossa direção. O cinema já previu algumas soluções, como a de mandar um foguete com ogiva nuclear desintegrar o bólido antes que ele nos atinja. O problema é o asteroide grande se desintegrar em vários asteroides pequenos, como o que assustou a Sibéria, o que não seria vantagem. Outra dúvida é como nos comportaríamos se nenhum plano de defesa se mostrasse viável e nosso destino fosse, fatalmente, o dos dinossauros, que desapareceram depois que o choque de um asteroide mudou o clima da Terra. Como a perspectiva de uma morte coletiva, que não distinguisse classes, ricos e pobres, virtuosos e pecadores afetaria as relações humanas, nos nossos últimos dias de existência? Não tenho nenhuma vontade de descobrir. Se bem que a situação até daria uma boa crônica.

Corpos celestes se chocando no espaço lembram o que disse o Einstein sobre a aparente desorganização do Universo. Ele negou que fosse tudo aleatório e não seguisse nenhum plano. Deus, afirmou Einstein numa frase que ficou famosa, não joga dados com o Universo. Tinha razão. Não joga dados, joga bilhar.
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* Escritor. Cronista da ZH
Fonte: ZH on line, 21/02/2013
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