sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Contra e a favor

 DAVID COIMBRA*

Sou contra os pitbulls. Também sou contra dar esmola, contra os outdoors, contra os caras que batem nos gays. Por que esses caras batem nos gays? Que mal alguém faz em ser gay? Francamente.

Sou a favor do Lula, mas também sou a favor do Fernando Henrique. Aliás, da Dilma e do Itamar sou igualmente a favor, mas sou contra o Collor e o Maluf. Agora: não tenho nada contra quem faz aliança com eles. Entendo. Política é assim. Brizola, de quem sou a favor, aliou-se a Collor; Lula, a Maluf. Conveniências. A política é a arte da conveniência.

Não sou contra a conveniência, mesmo que pareça algo levemente espúrio, porque, afinal, sou a favor da tolerância. A tolerância nos torna humanos. Os Beatles já ensinaram: Let it be. Deixa estar. Deixa pra lá. Viver assim, dizendo “let it be”, é muito melhor. Faz a vida mais leve.

Por sinal, sou a favor da leveza e dos Beatles, embora também seja a favor da profundidade e dos Stones.

As pessoas confundem tristeza com profundidade. Bobagem. Há muita tristeza sem conteúdo por aí. Sou contra a tristeza. Quanto mais tristeza, mais tristeza. A tristeza se retroalimenta. A alegria também. Sou a favor da alegria. A alegria pode levar à felicidade. O sorriso, um ato físico, pode curar as dores da alma.

Mas sou a favor de algumas dores. Quer dizer: da necessidade de senti-las. O luto, por exemplo, tem de ser usufruído, para que a pessoa se acostume com a perda. Até porque, todos sabemos, a vida é feita de perdas. Obviamente, sou contra as perdas, não há quem não seja, ainda que sejam inevitáveis. Sei que passamos a vida fazendo escolhas e, quando optamos por isso, perdemos aquilo. Triste. Mas é melhor não pensar nisso: sou contra a tristeza.

Sou a favor do riso, dos amigos na mesa do bar, de comer e beber com quem se gosta. Mas sou contra quem dirige embriagado, sobretudo na estrada. Sou a favor de pegar táxi. É preciso ter cuidado com acidentes, o homem é um ser físico, bom sempre lembrar disso. Um problema físico, um único que seja, pode acabar com uma vida. Isto é, sou a favor da prudência. Nada de riscos desnecessários. Portanto, não pularia de paraquedas, apesar de não ser contra quem pule, desde que não seja alguém que eu ame.

O amor. Sou a favor do amor. É o que dá sentido à vida. As pessoas vivem para amar e só se realizam no amor, mesmo que não saibam disso e acreditem que o mais importante é o trabalho, o sucesso, o prestígio, a fama ou até o prazer. Sim, no fundo, todos são a favor do amor. Por isso, é melhor ser mais a favor do que ser do contra. Eu sou a favor.
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* Jornalista. Cronista da ZH
Fonte: ZH on line, 25/01/2013
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