terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Como foi a vida do verdadeiro Pai Natal

Salvou uma família da ruína com parte da sua fortuna – e inspirou desta forma a tradição de dar presentes no Natal. Foi preso e torturado por causa da fé, mas nunca renegou o cristianismo

O vizinho fora em tempos um homem rico, mas de um momento para o outro ficara tão pobre que só via uma solução para salvar a família da ruína: prostituir as três filhas. Se pudesse, preferia casá-las, só que, sem poder garantir-lhes o dote, nenhum homem se aproximava delas. Sabia que a decisão faria dele um proscrito. Ainda assim, não via outra forma para evitar morrer na miséria.

Estava resignado quando alguém lhe deixou o primeiro saquinho com moedas de ouro junto à janela de casa durante a noite. O dinheiro era suficiente para casar a primeira filha. Tempos depois, apareceu o segundo, também de madrugada e de forma tão misteriosa como o anterior. Mais uma filha ficou a salvo. Como ainda faltava uma jovem, o vizinho, intrigado, passou a ficar de vigília junto à janela na esperança de descobrir a identidade do benemérito.

Quando o terceiro embrulho caiu, espreitou e pôs fim ao enigma. O benfeitor era alguém que conhecia bem: Nicolau, futuro bispo de Mira, o homem que ficaria para a história como o santo mais popular do mundo e que, muitos séculos depois, estaria na origem do Pai Natal, figura incontornável da quadra.

De acordo com Adam C. English, autor da recém-editada biografia The Saint Who Would Be Santa Claus (O santo que se tornaria o Pai Natal), terá sido este o episódio da vida de São Nicolau que deu origem à tradição de oferecer presentes às escondidas na noite de Natal, atribuindo a responsabilidade ao Pai Natal.

Calcula-se que o verdadeiro São Nicolau tenha nascido em Patara, na actual Turquia, por volta do ano 260 d.C., filho de um casal que vivia bem e que ocupava uma posição social de prestígio. Profundamente crentes, os pais educaram-no de acordo com os preceitos da fé católica. Ainda bebé, foi ensinado a cumprir os dias de jejum dos adultos e, por isso, à quarta e à sexta-feira só mamava uma vez.

No primeiro dia da semana, antes do nascer do sol, e nalguns outros, ao anoitecer, os pais levavam-no à Eucaristia, então celebrada em casa dos fiéis para contornar a perseguição movida por Roma aos cristãos.
Como vivia junto à costa, o mais certo é que, na infância, a dieta de Nicolau constasse de peixes como garoupa, tainha e atum, além de uvas, figos, tâmaras, grão, lentilhas e azeite. O facto de Patara ser um entreposto comercial permitia que os seus habitantes comessem trigo, milho, cevada e até queijo.

A morte prematura dos pais, provavelmente vítimas da peste que assolou a região da Lícia na segunda metade do século III, fez com que Nicolau herdasse uma fortuna considerável ainda muito jovem. Não demorou a decidir o que fazer com o dinheiro: escolheu partilhá-lo com os outros. Logo que soube a história do vizinho e das três filhas, percebeu por onde começaria a distribuir o ouro. Por desejo seu, ter-se-ia mantido incógnito, só que a sua generosidade extrema fez dele um homem famoso e adorado.

Para não ficar sozinho, Nicolau foi morar com um tio que geria o mosteiro isolado onde o sobrinho aprendeu as escrituras e se habituou à disciplina da vida monástica. Passado algum tempo, apanhou um barco egípcio e iniciou uma peregrinação solitária até à Terra Santa. Mergulhou nas águas do rio Jordão, onde Jesus fora baptizado, subiu ao monte onde o crucificaram e visitou o sepulcro onde depositaram o corpo do Messias.

A viagem mudou-lhe a vida e elevou-o a um patamar espiritual superior ao comum. Aos 19 anos, tornou-se padre e teria entre 30 a 35 quando recebeu, de uma forma invulgar, uma missão de grande responsabilidade. Os prelados de Lícia reuniram-se às escondidas em 295 para escolher um novo líder para a diocese de Mira e rezaram para que Deus os ajudasse a tomar a melhor decisão. De madrugada, um dos mais velhos disse ter tido uma visão e recebido uma ordem divina: “Vai para a casa do Senhor com os outros e esperem todos no átrio. A primeira pessoa que chegar será o bispo. O seu nome será Nicolau.” Já com a manhã a raiar, um jovem cruzou a porta da igreja. “Filho, como te chamas?”, perguntaram os eclesiásticos. “Senhor, sou o pecador Nicolau, um servo de vossa Excelência.” E assim se tornou bispo de Mira.

Assumiu as novas funções disposto a enfrentar todos os perigos que elas envolviam, num tempo em que ser cristão podia ser punido com a morte. Não tardou a ser preso e torturado. Escapou com vida, mas o mais provável é que lhe tenham cegado o olho direito e cortado os tendões do pé esquerdo, o castigo habitual para crimes de fé.

Nicolau ficou em prisão domiciliária pelo menos até 324, o ano em que Constantino se tornou imperador, dando origem a uma era de tolerância religiosa que libertou os cristãos feitos prisioneiros, permitiu que os exilados regressassem a suas casas e deu autorização para reconstruírem as suas igrejas.

A nova ordem permitiu a Nicolau dedicar-se ainda mais à pregação e à expansão do cristianismo, em luta feroz contra o paganismo. Aos 70 anos destruiu com as próprias mãos o templo da deusa Artemisa e expulsou os demónios que, segundo ele, lá viviam.

Nicolau terá também representado a diocese de Mira no famoso Concílio de Niceia onde, segundo a tradição, esbofeteou Ário, professor de cristianismo, por ele pôr em causa a Santíssima Trindade. A ousadia de se envolver num confronto físico na presença do imperador levou-o de novo à cadeia, onde os guardas lhe queimaram as barbas e o despojaram das vestes cor de sangue.

A punição terminou quando Constantino, alegando ter recebido instruções de Deus, o reconduziu no cargo de bispo. Nicolau passou o resto da vida a defender os fracos. Várias vezes enfrentou as autoridades para libertar inocentes encarcerados e, com isso, tornou-se o padroeiro dos prisioneiros. Os homens do mar também passaram a pedir-lhe protecção – séculos mais tarde, Cristóvão Colombo foi seu devoto.

Exames recentes Às ossadas de Nicolau revelaram que terá morrido velho e que sofria de artrite. Os especialistas atribuíram a fractura que encontraram nos ossos do nariz aos conflitos que o bispo teve durante a vida ou a torturas de que foi vítima. Entre 333 e 335, foi sepultado numa igreja de Mira e, pouco depois, o túmulo começou a libertar um líquido que os fiéis acreditavam ter poderes curativos. A Igreja canonizou-o.

Quando Mira caiu nas mãos do império persa, os cristãos temeram a destruição das relíquias do santo e uma comitiva de marinheiros de Bari apressou-se a resgatá-las. Trouxeram 75% dos ossos de São Nicolau, que até hoje são venerados numa basílica construída em sua homenagem em Bari, Itália. A sepultura continua a exalar o mesmo líquido. Análises feitas em 1925 concluíram que se tratava de água. Mas os crentes ainda acreditam que a substância é milagrosa. 
 
 Uma das figuras mais populares da infância é uma criação americana.
 
 
Imagem
A Coca-Cola encomendou a Haddon Sundblom as ilustrações do Pai Natal que usa até hoje. A figura é uma imagem registada da marca.

Coche
No livro 'A History of New York', Washington Irving descreve a chegada de São Nicolau à cidade a cavalo. Em 1812, alterou o texto: afinal, o santo voa sobre as árvores num coche.

Rena e trenó
Aparecem em 1921 no poema 'Santeclaus', de William Gilley. Segundo a descrição, São Nicolau traz um casaco de peles vestido.

Pólo Norte
Em 1949, a canção de Johnny Marks sobre Rudolfo, a rena de nariz vermelho, acrescentou mais um pormenor à tradição: o Pai Natal vinha do Pólo Norte. 
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Por Rita Garcia
Fonte Site de Portugal:  http://www.sabado.pt/Multimedia/FOTOS/-span--b-Sociedade-b---span--%281%29/Fotogaleria-%28696%29.aspx

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