quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Alguns dias depois do Natal

MARCOS INHAUSER*
 
Contrariamente à crença popular e de muitos “religiosos”, os magos não visitaram Jesus na estrebaria. O fato de que Herodes tenha pedido para matar as crianças com menos de três anos de idade é um indicativo de que, na conversa que teve com os magos, eles lhe disseram que o nascimento ocorrera há algum tempo.

No entanto, a história dos magos nos traz algumas lições para os dias subsequentes ao advento. A primeira é que eles estavam atentos aos sinais da presença de Deus na história. Perceberam que algo ocorrera e que isto tenha grande significado para eles e para a humanidade. Uma luz no céu entre tantas outras foi suficiente para reconhecerem o sinal da ação de Deus. Esta mesma vigilância e atenção aos sinais da ação de Deus na história devem estar presentes nas nossas vidas. Como bem disse Karl Barth, o cristão dever ter em uma das mãos a Bíblia e na outra o jornal. Ler a Bíblia sem buscar no palco da história os atos de Deus é perder parte da revelação. G. Ernest Wright disse que a Bíblia, mais que Palavra de Deus, é a coleção dos “Atos de Deus”. Oscar Cullmann também chamou a atenção para a história como palco das ações divinas.

A segunda coisa a ser notada é que, apesar de estarem atentos para os sinais de Deus na história, eles foram ao palácio real na esperança de lá encontrar o Rei nascido. Ledo engano. Confundiram as bolas. Tiveram que corrigir a rota e ir ao local humilde onde Jesus morava. Na história da cristandade, há uma infinita coleção de exemplos de pessoas que buscaram, ensinaram ou levaram outros a buscar Jesus não na manjedoura, não na casa simples, não no povoado humilde de Nazaré, mas na opulência dos palácios, das catedrais, dos “shows da fé”, das grandes concentrações, “Diante do Trono”, na boca das estrelas televisivas de um evangelho transformado em “gospel”, mais mercado que sacrifício, serviço e humildade.

A terceira lição que eles nos dão é que saíram de seus lugares, de suas casas, de seus povoados para ir adorar ao recém-nascido. Não há verdadeira adoração quando não há a disposição de se mover, de sair de onde se está, para, em companhia de outros (eram três), em comunhão, adorar ao Emanuel.

A quarta lição é que levaram do que de melhor tinham para ofertar. A excrecência apresentada nos templos da prosperidade trabalha o dar para receber, em uma negociata com o divino. Quando se dá, obriga-se Deus a retribuir na proporção do dado. Não se vê isto nos magos. Deram. Simplesmente deram. E deram com gratidão.

A quinta lição é que nem todos têm a verdadeira intenção de adorar ao Rei, mesmo que assim expressem. Herodes demonstrou desejo de também adorá-lo. Os magos foram alertados para a intenção perniciosa do rei. Ele queria reinar absoluto, sem conceder qualquer privilégio ao recém-nascido. Quando há pessoas que se apresentam em adoração e querem brilhar mais que o adorado, que trazem nas fachadas dos seus templos enormes fotos pessoais, que buscam estar na mídia para aparecer mais que o Rei, estão, como Herodes, mandando matar crianças menores de três anos para que seus brilhos não sejam apagados.
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* Colunista do Correio Popular
 Fonte:  http://correio.rac.com.br/26/12/2012
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