quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Em novo romance, Luiz Antonio de Assis Brasil refaz trajetória de explorador francês

Assis Brasil folheia o livro de Aimé Bonpland que serviu de gatilho para seu novo romance 
Foto: Tadeu Vilani / Agencia RBS

Livro inspirado na trajetória de Aimé Bonpland (1774 - 1858) deve ganhar lançamento em outubro deste ano

Sem foco, mesmo um grande talento pode passar pela vida sem lugar. É esse o tema de Figura na Sombra, romance novo do escritor e secretário de Cultura do Estado Luiz Antonio de Assis Brasil. A obra, que estará nas livrarias no início de outubro, editada pela L&PM, reconstitui a vida do personagem real Aimé Bonpland (1774 – 1858), explorador e aventureiro que conheceu as Américas do século 19.
Figura na Sombra encerra um ciclo de quatro romances focados em viajantes que estiveram ou se estabeleceram no Rio Grande do Sul. A série começou com O Pintor de Retratos (2001), romance no qual um artista europeu que deplora a fotografia termina seus dias como fotógrafo em Porto Alegre. A Margem Imóvel do Rio (2003) e Música Perdida (2006) mostravam o Rio Grande do Sul pelo olhar de um emissário da corte imperial, no primeiro caso, e do mineiro Maestro Mendanha, no segundo. Figura na Sombra é o episódio final da tetralogia, e o que mais demorou a ser escrito.
– Com a passagem do tempo, a gente tem que escrever um livro bom, ou pelo menos que seja melhor do que os outros. A dificuldade não foi a pesquisa, porque hoje em dia isso não é particularmente complicado. Foi uma cobrança interna: não posso, a essa altura da vida e do campeonato, publicar algo que não esteja à altura da obra anterior. Não pode fazer feio nem representar um passo atrás – comenta o escritor, que explica também que o esqueleto do livro estava pronto e vinha sendo editado há dois anos.

 "São personagens que estão em uma 
situação limite, ou estão na velhice 
ou não encontram lugar no mundo. 
Nenhum deles vem porque está bem. 
Não são viagens iniciáticas 
nem transformadoras."

Figura na Sombra tem como protagonista o botânico francês Aimé Bonpland, que acompanhou o naturalista alemão Alexander von Humboldt a uma viagem de cinco anos às Américas, de 1799 a 1804. Ainda jovens (nenhum dos dois tinha 30 anos), percorreram Venezuela, Colômbia, Peru, Equador, Brasil, Cuba, México e Estados Unidos, recolhendo amostras de plantas e insetos – milhares delas, enviadas à Europa, ampliaram os horizontes científicos de então. Na segunda metade de sua vida, Bonpland renunciou à Europa e se estabeleceu na América do Sul, vindo a morrer na Argentina.
O que atraiu Assis Brasil na história de Bonpland, mais do que a magnitude de sua aventura, foi como seu nome foi relativamente obscurecido em comparação com o de Humboldt. No romance, Assis Brasil arrisca uma interpretação para isso, dotando o Bonpland personagem de um temperamento indisciplinado, hesitante entre as exigências do trabalho científico e a vida propriamente dita. Como nos demais romances da série, a viagem é vista por um prisma crítico. Melancólicos, os viajantes não encontram epifanias, e sim carregam suas angústias outros cenários:
– São personagens que estão em uma situação limite, ou estão na velhice ou não encontram lugar no mundo. Nenhum deles vem porque está bem. Não são viagens iniciáticas nem transformadoras.
Assis Brasil conta que, mais do que encontrar a história, foi encontrado por ela. Ele havia recém publicado seu primeiro romance, Um Quarto de Légua em Quadro, em 1978, quando ganhou de presente um exemplar do livro no qual o explorador narrava viagens pela América do Sul. O livro ficou com o escritor por quase 30 anos, até o dia em que, ao abrir uma página ao acaso, deparou com o sucinto relato de Bonpland sobre uma conversa com o brasileiro Antônio Rodrigues Chaves Filho, antepassado do próprio Assis Brasil.
– O romance nasceu desse acaso – relembra o escritor.

Companheiros de viagem
O título do novo romance de Assis Brasil, Figura na Sombra, nasceu da observação de uma pintura realizada por Eduard Ender por volta de 1850, retratando Humboldt e Bonpland em plena selva amazônica. Em uma composição que se revelaria simbolicamente profética, o pintor posicionou Humboldt no centro de um indeterminado foco de luz. Bonpland, seu parceiro na viagem que àquela altura já era famosa, foi posto ao fundo, engolido pelas sombras.
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Reportagem por 
Carlos André Moreira
Fonte: ZH on line, 29/08/2012

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