terça-feira, 15 de maio de 2012

Eugenia e Hitler

Francisco Daudt*

Formar uma raça 'pura' de iguais é construir um desastre, é empobrecer nossas defesas e aptidões 

EUGENIA É coisa de Hitler? Bem, são dois assuntos diferentes. Traduzido direto do grego, eugenia significa "boa origem". Produzir boa origem para nossos filhos é um desejo universal inscrito na natureza humana. É quando a seleção natural se mistura com a artificial. Explico: a natural não tem intenção. Ela simplesmente impede que os não adaptados ao ambiente deixem descendentes.
Pense que extraordinário: nenhum de nossos ancestrais, nos últimos quase quatro bilhões de anos, morreu antes de procriar, o que faz de cada um de nós um verdadeiro milagre de sobrevivência em série. Já a seleção artificial é intencionada: as diversas raças de cães foram forjadas por homens que queriam caçadores, pastores, defensores de territórios (terriers), companheiros pacíficos, cães de luta (pitbulls) ou bibelôs (poodles, malteses etc.), a partir de lobos, escolhendo que filhotes deveriam procriar.
Quando pensamos em ter filhos, queremos que eles sejam belos, altos, fortes e inteligentes, pois assim terão mais chances na vida. Nossos conceitos de beleza humana estão ligados à saúde (simetria e musculatura) e à fertilidade feminina (relação cintura-quadris; formas cheias - apreciadas pelos homens e abominadas pelas mulheres - seios fartos). Nesta hora a seleção natural nos induz à artificial.
Belos, nascidos nas periferias, são pinçados para se acasalar com pessoas mais ricas e passam a habitar centros prósperos.
Compare os fregueses de shoppings populares com os de shoppings caros e você vai ter uma ideia do que é seleção artificial. Reconheço que isso deva ser difícil de ler para quem foi abduzido ao "politicamente correto". É duro constatar certos aspectos da condição humana. Mas, aqui que ninguém nos ouça, você ambicionaria que sua filha se casasse com um nanico feio, incompetente, burro e encostado? "Não me importaria, desde que ela se sentisse feliz". Está bem, então você é uma raridade da espécie.
É importante lembrar que a igualdade ambicionada pela democracia é aquela frente à lei. De resto, somos todos diferentes, e é bom que seja assim, já que vivemos com desconhecidos que precisamos respeitar e esperar que nos respeitem.
O processo de civilização democrática é o aprendizado do respeito pelas diferenças. Mas esta ambição convive com um desejo de estar cercado de "iguais", e de que nossos filhos sejam "melhores".
O que nos leva a Hitler. Seu desejo de eugenia era imbecil, em termos biológicos. Formar uma raça "pura" de iguais (não importa se de arianos de olhos azuis, ou se de negros retintos, de exclusiva afrodescendência) é construir um desastre de fragilidade imunológica, é empobrecer nossas defesas e nossas aptidões, duramente conquistadas através da reprodução sexual, que mistura genes diferentes, portadores de sabedorias diversas.
O projeto de Hitler beirava o incestuoso das famílias coroadas europeias. E conhecemos os frutos do incesto pelos defeitos que acumulam. Este último parágrafo revela o meu desejo de uma "eugenia boa, não imbecil". É, sou humano. 
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* Colunista da Folha
fdaudt2@gmail.com
Fonte: Folha on line, 15/05/2012
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