domingo, 29 de abril de 2012

Como nasce um meme

André Pase*

A palavra meme pode parecer estranha, mas provavelmente você já falou um sem saber. Não é uma palavra exclusiva da Internet, mas define bem expressões e modas que compartilhamos online ou até mesmo aprendemos por tabela, sem estar nas redes sociais.

O termo originalmente foi utilizado pelo biólogo e pensador Richard Dawkins para falar de informações culturais transmitidas através de gerações, como um gene cultural. Como espalhamos ideias com a velocidade de um clique, o conceito foi adaptado e utilizado para classificar sacadas que ganham o público em poucas horas.

A rede auxilia na propagação desses fragmentos de cultura pop, que muitas vezes multiplicam-se como vírus. De um certo modo, é uma mutação dos bordões de rádio e TV de antigamente, usados para definir uma situação nos programas de humor e transpostos para nossas vidas.

Assim como as charges provocavam risos no público, os memes carregam este espírito, porém criados pelo público. As faces geradas em fóruns como o 4Chan, território sem limites, ganharam versões no Brasil e estão em capas de cadernos e máscaras de carnaval, como a imagem de um troll – pessoa que prega peça em outras. Algumas vezes a ideia não explode quando é criada, enquanto fatos do passado acabam revisitados, como o “senta lá, Cláudia” dito por Xuxa para uma criança décadas atrás e perpetuado no YouTube.

Outro aspecto interessante é a naturalidade da informação. Expressões como “dorgas, mano” e “as mina pira”, por exemplo, brincam com a gramática e caem nas graças do pessoal por esse teor. Campanhas de marketing viral tentam criar situações para aproveitar a propagação, porém nem sempre acabam vingando – basta lembrar de Ruth Lemos e o sanduíche-íche-íche que não deu certo depois em um comercial de operadora de telefone celular.

Porém, muita exposição em pouco tempo pode saturar um conceito e provocar o esquecimento. Foi assim com a Luiza do Canadá e este deve ser o destino da família do vídeo Para nossa Alegria. Esta saturação isola a informação, porém ela não é eliminada do nosso DNA cultural. Basta uma lembrança por alguma pessoa tempos depois que o assunto rende mais alguns cliques. Imagens de bichinhos, como os famosos LolCats (perca tempo e (perca tempo em ), conseguem um tempo de vida maior.

As palavras do Bacon Cat explicam bem a força dos memes. Como a imagem publicada em www.baconcat. com diz, você pode conseguir fama e sucesso, mas não será mais famoso que a imagem de um gato com um bacon colado no seu pelo.

O caso do Keep Calm and Carry on pode ser observado desta forma. A ideia encontra valor na correria do cotidiano e é reforçada com geradores automáticos de imagens, como o www.keepcalm-o-matic. co.uk . Basta criar um, adaptando de acordo com a ocasião e usar nas redes.
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* André Pase é professor de Jornalismo e Comunicação Digital da PUCRS e escreve a coluna Games de ZH Digital. Tem uma camiseta Keep Calm and Brady on, comprada para final do Superbowl deste ano.
Fonte: ZH on line, 29/04/2012
Imagem da Internet

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