sexta-feira, 27 de abril de 2012

"As celebridades não são superficiais"

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Karen Berg

Guru espiritual de Madonna e Demi Moore diz que famosos são pouco espiritualizados e acabam sendo julgados pela imagem que passam
por Paula Rocha


BRASIL
"Os latino-americanos são naturalmente mais
espiritualizados do que os europeus e americanos"
, diz

Aos 68 anos, a americana Karen Berg é a mulher por trás da crescente popularidade da cabala no mundo. Em 1971, ela fundou com o marido, Rav Phillip Berg, o Kabbalah Centre, centro de estudos que possui hoje 50 filiais em diversos países, incluindo o Brasil – há uma unidade em São Paulo e outra no Rio de Janeiro. Desafiando uma tradição de quatro mil anos, que restringia o estudo da cabala a judeus ortodoxos homens, cultos e com mais de 40 anos, Karen decidiu aprender essa filosofia e transmitir seus ensinamentos para todos, independentemente de raça, sexo ou religião. Essa nova forma de aplicar a sabedoria milenar conquistou celebridades como Madonna, Demi Moore e Ashton Kutcher, que ajudaram a popularizar o Kabbalah Centre, mas também lançou luz sobre os problemas da instituição. Em 2011, o centro passou a ser investigado pelo governo americano por ter cometido irregularidades financeiras, incluindo a arrecadação de US$ 18 milhões para a construção de uma escola para meninas no Malauí, na África, que nunca saiu do papel. Karen é autora de dois livros, “Deus Usa Batom” e “Luz Simples”, mãe de quatro filhos e avó de 15 netos.
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"Madonna busca a perfeição. Mercy e David (os filhos menores)
são as crianças mais bem-educadas que conheci" 

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"Demi Moore está bem melhor. Voltou a trabalhar e os
estudos da cabala a estão ajudando. Quantas pessoas
já não enfrentaram divórcios difíceis?" 

Istoé -Por que decidiram abrir filiais do Kabbalah Centre no Brasil? Karen Berg -Cinco anos atrás, fiz uma palestra no Rio de Janeiro e mil pessoas compareceram. Depois, fui a São Paulo e praticamente o mesmo número de pessoas apareceu para me ouvir. Pensei: “Se há tanta gente interessada em conhecer a cabala no Brasil, por que não abrimos um centro?” Então abrimos. Não sabíamos o que aconteceria. Mas deu certo. Hoje temos mais de 500 alunos presenciais aqui. E eu acho que isso se deve também ao próprio povo brasileiro. Os latino-americanos são naturalmente mais espiritualizados do que os europeus e americanos.

Istoé -Chegou a conhecer alguma das celebridades brasileiras que frequentam o Kabbalah Centre aqui, como o jogador de futebol Ronaldo?
Karen Berg -Olha, eu ainda não tive tempo de conhecer ninguém. Eu venho, passo poucos dias e já volto para os Estados Unidos. Mas vejo de forma positiva a adesão das celebridades daqui à cabala. Para mim, eles ajudam a divulgar a filosofia no País. E quanto mais gente estudar e conhecer a cabala, melhor.
 
Istoé -Acha que a cabala seria tão popular sem o apoio de celebridades como Madonna, Demi Moore e Ashton Kutcher?
Karen Berg -É claro que o fato de a Madonna estudar a cabala ajudou a popularizar a filosofia, pois mais pessoas no mundo puderam ter contato com os ensinamentos por causa dela. Mas, ao mesmo tempo, também dificultou a adesão dos que não gostam de celebridades. Muita gente pensa: “Se os famosos estão estudando cabala, deve ser algo pop e superficial.” As pessoas tendem a achar que as celebridades são superficiais, mas é exatamente o contrário, elas não são superficiais. A Madonna, por exemplo, é uma das pessoas mais profundas, cultas e espiritualizadas que já conheci. Mas o público a confunde com a “persona” que ela representa nos shows.
 
Istoé -Como é a sua relação com Madonna?
Karen Berg -Madonna é uma amiga próxima. Nós nos vemos sempre no Shabbat (dia da semana sagrado para os judeus), aos sábados, em Nova York, exceto quando ela está em turnê. Para mim, ela é uma das personalidades mais admiráveis do mundo do entretenimento. Ela está há três décadas na ativa, e ainda assim consegue cativar pessoas no mundo inteiro. Cada vez que ela sobe no palco, seu show é absolutamente perfeito. Madonna é muito perfeccionista. Ela busca perfeição na carreira e em casa, com seus filhos. Mercy e David são as crianças mais bem-educadas que já conheci. E, além disso, ela sabe como ser amiga. Ela já está no Kabbalah Centre há 15 anos.
 
Istoé -Um dos principais ensinamentos da cabala é aprender a lidar com o ego. Como ensinar isso a uma celebridade?
Karen Berg -Da mesma forma que ensinaria a alguém comum. Uma celebridade não é diferente. A única diferença são os números em volta dela, o dinheiro que ela movimenta com seu trabalho. Mas, na intimidade, a celebridade enfrenta os mesmos problemas que qualquer um de nós. Com o agravante de que ela é mais cobrada e mais vigiada do que um anônimo. Por isso também é mais difícil para as celebridades serem espiritualizadas. Mas, com dedicação, qualquer um pode passar por cima de seu ego, aprender a fazer algo pelos outros e encontrar nisso a felicidade.
 
Istoé -A sra. esteve com Demi Moore após a separação de Ashton Kutcher? Ela procurou a cabala para se recuperar da depressão?
Karen Berg -Sim, estive com Demi recentemente e ela está bem melhor agora. Veja, ela passou por um momento terrível e agora está voltando a ser ela mesma. Voltou a trabalhar e, sem dúvida, seus estudos da cabala a estão ajudando a superar essa fase ruim. Acho que ela vai sair dessa bem melhor, e até mais forte. Todos nós passamos por fases ruins. Quantas pessoas já não enfrentaram divórcios difíceis? Ela está passando pelos mesmos obstáculos que muitas outras pessoas já passaram, com a diferença de ter todos os olhos do mundo voltados para ela.
 
Istoé -Como a cabala pode ajudar em um processo de separação?
Karen Berg -Quando uma pessoa é deixada pelo ser amado, ou quando um amigo te trai, a cabala nos ensina que devemos nos perguntar: “O que eu fiz para gerar isso?” Para a cabala, não existe negatividade no mundo. A negatividade está dentro de nós. Toda vez que nos encontramos em uma situação ruim, em que parece haver somente aspectos negativos, é porque precisamos mudar algo em nós ou porque estamos passando por um teste.
 
Istoé -Em 2004, seu marido, Rav, teve um derrame. Foi difícil passar por essa situação e seguir tocando o Kabbalah Centre sozinha?
Karen Berg -Difícil, não. Foi devastador. Eu lembro de estar sentada na sala de espera do hospital naquela noite e perguntar para Deus: “O que você quer que eu faça agora?” O médico chegou a mim e disse que Rav havia sofrido um derrame com danos cerebrais graves. Isso significava que ele poderia ficar paralisado ou em estado vegetativo, mas que provavelmente não sobreviveria. Eu fiquei louca e disse ao doutor que Rav não iria morrer, não naquele momento. Dias depois, o médico me disse que Rav sobreviveria.
 
Istoé -Como ele está hoje?  
Karen Berg -Quem o vê não acredita que ele tenha passado por isso. Rav fala, anda, viaja e continua trabalhando. Não no mesmo ritmo de antes, claro. Mas está a anos-luz do primeiro prognóstico. E essa experiência foi determinante para que eu soubesse que precisava mudar. Hoje sou mais forte e devo isso ao fato de não ter ficado em casa me lamentando, mas sim por ter continuado com nossa missão, fazendo o meu trabalho e o trabalho do Rav, junto de nossos filhos.
 
Istoé -Um de seus netos tem síndrome de Down. Como a família recebeu essa notícia?Karen Berg -No começo foi muito difícil. Meu filho Michael e sua mulher, Monica, ficaram atônitos. Ninguém na família sabia como lidar com essa situação, nem como lidar com uma criança com necessidades especiais. Meu neto ficou um mês e meio no hospital, para que meu filho e minha nora aprendessem a cuidar dele, dar comida. Hoje ele está com 9 anos e é uma criança maravilhosa, feliz. Agora ele está aprendendo a ler. Não esperamos muito dele, apenas que seja quem ele é e que seja feliz. Muita gente pensa que a vida não joga desafios no colo de quem é espiritualizado. Na verdade, é o contrário. A vida traz mais desafios para quem é muito seguro de suas crenças para testá-las.
 
Istoé -Quando começou o Kabbalah Centre sofreu preconceito por ser mulher?
Karen Berg -Eu estava disposta a estudar e a ensinar uma filosofia que durante séculos havia sido estudada em segredo apenas por homens judeus com mais de 40 anos. Para eles, era uma afronta uma mulher querer estudar e, pior ainda, ensinar a cabala. Quando decidimos abrir o Kabbalah Centre, nos mudamos para Jerusalém. Eu tinha duas filhas de um casamento anterior, cheguei a Jerusalém com Rav sem emprego, sem falar hebraico e sem conhecer ninguém. E foram os melhores anos da minha vida porque só tínhamos um ao outro, e tínhamos certeza de nosso propósito na Terra.
 
Istoé -Por que considera tão importante as mulheres estudarem a cabala?
Karen Berg -As mulheres são naturalmente mais espiritualizadas do que os homens. Então, se elas aprenderem a cabala, será mais fácil transmitir esse conhecimento para as outras pessoas, como seus maridos e filhos. A mulher é a responsável pela espiritualidade em sua casa. Elas se interessam mais por esse assunto e estão mais dispostas a se dedicar a esse aprendizado.
 
Istoé -Então por que as principais religiões são comandadas por homens?Karen Berg -Boa pergunta. A maioria das mulheres sabe intuitivamente que existe uma força maior no universo. Já os homens precisam de rezas e restrições de comportamento para se espiritualizar. Eles, por natureza, são mais promíscuos e gananciosos do que as mulheres. E por isso precisam de mais restrições. Vemos mais padres, pastores e líderes espirituais masculinos porque os homens precisam se identificar com aquele que está pregando. Precisam de um modelo masculino como guia espiritual para chegarem ao mesmo patamar em que as mulheres estão desde o nascimento.

Istoé -No ano passado, o Kabbalah Centre foi investigado pelo governo americano por irregularidades financeiras, entre elas o uso das doações ao projeto “Raising Malawi”, que nunca saiu do papel. O que tem a dizer sobre isso?
Karen Berg -Nós nunca fomos contatados pelo governo americano a respeito disso. Eles nos pediram para enviarmos registros financeiros, declarações de impostos, etc. Nós enviamos e, desde então, não tivemos nenhum retorno deles. É um bom sinal. Já se passou quase um ano e meio e continuamos com nosso trabalho normalmente. Até onde sei, a “Raising Malawi” fez um ótimo trabalho cuidando de crianças órfãs, oferecendo-lhes comida, água potável e cuidados médicos.
 
Istoé -É verdade que, a despeito do voto de pobreza feito pela sra. e seu marido, o Kabbalah Centre possui bens de luxo em seu nome?Karen Berg -Primeiro, não fizemos voto de pobreza, mas sim voto de modéstia. E vivemos conforme esse voto. Segundo, essa história de mansões e carrões é mentira. Minha casa é comum. Confortável, claro, mas normal. Igual à de qualquer família de classe média americana. E, quando eu viajo, vou de classe econômica, igual a todo mundo. Não tenho jatinho particular.
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Fonte: http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/200537_AS+CELEBRIDADES+NAO+SAO+SUPERFICIAIS+

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