quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A diferença entre trabalhar e enriquecer

Claudio Carneiro*

Franquias são uma boa opção para aqueles que querem autonomia (Reprodução/Internet)

É por altruísmo ou caridade que dedicamos nove, dez ou mais horas por dia para enriquecer os donos ou acionistas da empresa para a qual trabalhamos?

Em artigo recente escrito no jornal Folha de São Paulo, o consultor financeiro Gustavo Cerbasi dá destaque ao conflito interno que vive todo ser humano que produz: trabalhar ou enriquecer? Mestre em Administração e Finanças e autor do livro Casais inteligentes enriquecem juntos, ele faz uma reflexão em seu texto que incomodaria, pelo menos, a metade dos trabalhadores brasileiros.
Cerbasi questiona se seria por altruísmo ou caridade que dedicamos nove, dez ou mais horas por dia para, simplesmente, enriquecer os donos ou acionistas da empresa para a qual trabalhamos. Entre as receitas para se conquistar alguma independência, ele recomenda um hábito pouco usual entre nós e que dá mais certo em outras culturas: que se poupe parte do que se ganha – acumulando capital – para que, no futuro se tenha capital suficiente para viver de renda ou, quem sabe, investir esse capital em um negócio próprio. Para ele, quem opta por receber salário ou – como Cerbasi prefere – indenização, está praticando uma autossabotagem, condenado a si próprio à irrisória aposentadoria de nossa previdência social.
Não cabe aqui dar uma receita de bolo para transformar em renda o que o consultor chama de “indenização” por dedicar a maior parte de seu tempo, suor, inteligência e experiência para gerar riqueza para os outros. Não é intenção também empurrar quem quer que seja para o empreendedorismo até porque, num país como o nosso e numa economia mundial como a nossa, isso pode significar uma grande aventura. Mas é sempre bom lembrar, por exemplo, que o universo das franquias tem feito alguns empresários satisfeitos, principalmente no setor de alimentos, o que mais cresce neste modelo de negócio – cerca de 17% do total dos segmentos do franchising. Essa expansão se deve à abertura de novos shopping centers, que começam a dar preferência por lojas franqueadas. Em São Paulo 60% das lojas em shoppings são franquias.
Em média, o futuro franqueado deve ter, pelo menos, R$ 150 mil para se lançar no projeto. Para ter uma franquia do Rei do Pretzel, por exemplo, este é o valor do investimento inicial. Depois virá uma taxa de franquia, no valor de R$ 25 mil e uma reserva do faturamento mensal de 5% para royalties e outros 3% para publicidade. Em contrapartida, a empresa estima um faturamento bruto de R$ 40 mil, lucro líquido entre 25% e 30% do faturamento e retorno entre 24 e 36 meses.

A autossabotagem e a escravidão
Para quem não tiver a menor intenção de correr riscos e preferir permanecer como funcionário ou um alto executivo, por exemplo, o instinto de autossabotagem – apontado por Cerbasi – permanece. Em entrevista ao Opinião e Notícia, ele avalia que os executivos com bons salários recebem mais, teoricamente, porque são mais bem preparados para garantir resultados às empresas. “Não deixam, porém, de praticar a autossabotagem, quando se deslumbram com um padrão de vida mantido principalmente por benefícios oferecidos pelas empresas e subestimam a necessidade de renda obtida por seus próprios meios para garantir a aposentadoria. A maioria dos trabalhadores conta com o INSS para garantir parte do estilo de vida que levava durante a fase produtiva. Já os executivos têm que, necessariamente, criar seus próprios meios de renda para não sofrer perdas significativas” alerta.
O consultor recomenda o investimento de tempo em educação, a montagem de um plano de negócios e o estudo de seu futuro mercado para quem pretende se tornar empresário: “Preparando-se bem, será possível diminuir bastante os riscos típicos dos negócios e garantir bons ganhos. Uma franquia nada mais é do que uma forma de simplificar esse planejamento inicial, pois o negócio começa com uma marca instituída e, geralmente, com um planejamento pré-definido por especialistas. Porém, a conveniência cobra um preço: nas franquias, uma parte nada desprezível do lucro fica para os donos da marca, para pagar justamente essa proteção contra riscos”.
Cerbasi refuta o termo “escravidão” para aquilo que chamam de trabalho moderno, uma vez que trata-se de uma escolha do trabalhador e não de imposição. “Mas se existe algo digno de alforria seria o que é imposto pela desigualdade de acesso ao conhecimento, e não por existir uma relação subjugada entre trabalho e capital”, avalia. “Quem tem riqueza põe essa riqueza para trabalhar e multiplicar seu capital, convidando aqueles que não têm capital para ajudá-lo nesse objetivo de multiplicar riquezas. Em troca, oferece parte da riqueza gerada, na forma de salário. É a mais franca tradução do que é o capitalismo”, conclui.

Para ler mais:
Para ler o texto do Gerbasi: zelmar.blogspot.com/2012/02/trabalhar-ou-enriquecer.html   
-------------------------
* Colunista de Opinião e Notícia.
Fonte: opiniaoenoticia.com.br 20/02/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário