quinta-feira, 18 de agosto de 2011

''Do It Yourself'': uma filosofia autossuficiente e ecológica


Uma equipe está construindo 50 máquinas de baixo custo
com as quais uma comunidade de 200 pessoas irá viver de forma
"faça-você-mesmo". Turbinas, tratores e painéis solares para
uma civilização em miniatura. O Do It Yourself está se tornando,
nos Estados Unidos, uma verdadeira
filosofia para evitar desperdícios.

Uma civilização em miniatura, feita em casa, peça por peça. Autossuficiente, de baixo custo, construída com materiais reciclados ou facilmente disponíveis. O Global Village Construction Set lembra os laboratórios de brinquedo do passado, só que desta vez mudam as dimensões, assim como os objetivos e as implicações ideológicas.
Ele consiste em 50 máquinas, consideradas necessárias para oferecer, partindo do zero, uma vida sem renúncias a cerca de 200 pessoas. Instrumentos essenciais, como o trator ou o gerador, o forno e o carro, passando pela turbina, pelos painéis solares, pelo moinho, o laser de precisão, a prensa para produzir circuitos impressos, a betoneira, o alto-forno. Tudo montável a preços de pechincha comparados ao que o mercado oferece, graças a projetos open source disponíveis gratuitamente online e melhorados continuamente.
A ideia é de Marcin Jakubowski, fundador do movimento Open Source Ecology. Formado em 1973, em Princeton, com doutorado em física pela Universidade de Wisconsin, Jakubowski, em 2003, decidiu que a agricultura era a sua verdadeira vocação. "Eu me mudei para o Missouri. Comprei uma fazenda e adquiri um trator", conta o físico em uma das suas conferências. "Mas ele quebrou. Então, o consertei e ele quebrou novamente, até que, no fim, eu não tinha mais dinheiro para seguir em frente. Pensar em ter acesso a instrumentos de baixo custo, com materiais reciclados e pensados para durar toda a vida e não um punhado de anos é vital. E é exatamente isso o que eu fiz: projetar aquilo que realmente me servia, compartilhando-o online".
Agora, na sua Factor E Farm, ao norte de Kansas City, ele está trabalhando incansavelmente para conseguir terminar todo o Global Village Construction Set até 2012, com um orçamento total de 2 milhões de dólares. De cada máquina, são produzidos pelo menos três protótipos, testados meticulosamente para depois chegar à versão definitiva. Que, a pedido, pode ser comprada de outros agricultores. Enquanto isso, o verbo do viver e produzir de forma diferente é difundido na Internet. "Hoje o nosso verdadeiro desafio", diz Jakubowski, "é envolver o maior número possível de pessoas". E, para fazer isso, ele e outros membros da Fator E Farm escreveram um manual minucioso sobre como desenvolver, individualmente, passo a passo, uma aldeia global. Sobre as maneiras possíveis para arrecadar fundos até sobre quais máquinas é preciso reunir antes, começando logo a ganhar dinheiro.
A filosofia que move Jakubowski é a mesma do software livre, aplicada, no entanto, ao mundo real. Ela se chama genericamente Do It Yourself (DIY), o novo "faça-você-mesmo" made in USA, movimento que, por trás da inócua fachada da construção de coisas sozinho, recusando desperdícios e consumos inúteis, está se tornando um modo radicalmente diferente de pensar o existente.
Ela gira em torno de publicações como Make, dirigida por Mark Frauenfelder, uma das assinaturas mais importantes da prima Wired. Em seu último artigo de 2010, Made by Hand: Searching for Meaning in a Throwaway World [Feito à mão: em busca de significado em um mundo descartável], Frauenfelder trata de teorizar sobre a fabricação pessoal de qualquer objeto de uso comum, seja uma bicicleta, um computador ou uma casa, como campo para restaurar as relações familiares cada vez mais frágeis e como instrumento para se reapropriar do tempo, libertando-se tanto da dependência do consumo, quando da dependência do salário.
Alguns os chamam de "novos hackers" ou "hackers do mundo real". Pessoas, no entanto, que pretendem pôr as mãos na sociedade para mudá-la totalmente.
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A reportagem é de Jaime D'Alessandro, pulicada no jornal La Repubblica, 17-08-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU on line, 18/08/2011

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