domingo, 19 de junho de 2011

Thor, o filho das elites

Juremir Machado da Silva*

 
Crédito: ARTE PEDRO LOBO SCALETSKY

Faz mais de uma semana que uma frase de Thor, filho do empresário Eike Batista e da socialite Luma de Oliveira, bomba na minha cabeça. Chamar um filho de Thor é um péssimo começo. É um nome idiota para os tempos modernos. Artistas adoram nomes idiotas, que consideram originais e só servem, mais tarde, para que os filhos sejam vítimas de bullying no colégio. Pobre gosta de nomes com "w" e "y", tipo Waleyrson. Artista prefere "Néon". A lógica é a mesma nos dois casos. Quando o dono do nome dedica-se mais às academias de ginástica do que às academias do conhecimento, às universidades, a situação agrava-se. Dizem que Thor tem a beleza do pai e a inteligência da mãe. Não sei. Mas sei que Thor deu a declaração mais impressionante da sua vida levada na flauta. Disse que nunca leu um livro inteiro. Nenhum.
Na escola, chupava tudo da Internet. O "inteiro" é uma generosidade em causa própria. Thor afirmou, na verdade, que nunca leu um livro. Para quê? Ele é rico, jovem, musculoso, filho de pais famosos e tem pegada. O mundo é dele. Meu colega, o professor Francisco Rudiger, sugeriu-me, durante uma conversa sobre Thor, o da Luma e do Eike, não o da mitologia, o título que aparece acima, "o filho das elites". Sim, esse é o filho da nova classe dominante brasileira. Duvido que ele se preocupe com o plural. Aposto que diz "os livro" para se referir aos livros que nunca leu. Comer o "s" do plural não é privilégio dos pobres. Não ler e se dar bem na vida é exclusividade dos ricos, exceto dos jogadores de futebol. Thor é a cara de parte da juventude brasileira, a juventude da Barra da Tijuca, a turma que queima índios, homossexuais e empregadas domésticas, só de sacanagem.

"Eike também não pode ser um grande leitor.
 É muito rico.
Quem lê não tem tempo para ganhar dinheiro.
Thor está certo.
Ler empobrece."



Thor tem nome de Deus e cultura rasteira. Será que sabe de onde vem o seu nome? Os pais certamente não se inspiraram diretamente na mitologia, mas nas revistas em quadrinhos. Thor é pop. Ler é cult. O pop do Thor não é cult. Pobre Eike Batista, com um filho desses, tem tudo para ver o seu império naufragar: pai rico, filho pobre. Thor está tranquilo. O pai dele tem demais. Além disso, ele não gasta com livros, que, como se sabe, são muito caros no Brasil. Parece que Thor andava aborrecido com o fato de não encontrar muita utilização para o seu iPad. Thor puxou a mãe. Luma jamais foi vista com um livro na mão. Foi vista de coleira com o nome do marido. Mas com um livro aberto, não. Nem fechado. Eike também não pode ser um grande leitor. É muito rico. Quem lê não tem tempo para ganhar dinheiro. Thor está certo. Ler empobrece.
Um leitor, fã dos pais do Thor, me mandou um e-mail dizendo que só professor de escolinha de futebol deve receber aumento de salário. Segundo ele, um professor que ensine um guri a jogar futebol é um verdadeiro mestre, o caminho para a prosperidade, o único que deve ser beneficiado pela meritocracia. Sei lá. Minha obsessão é o Thor. Pobre menino rico. Nunca experimentará o prazer indescritível de um final de livro, salvo se for direto à última página, mas não é a mesma coisa. Se eu tivesse um martelo poderoso, tentaria bater na cabeça do Thor para abrir-lhe o crânio. O perigo seria nada encontrar lá.
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* Sociólogo. Prof. Universitário. Cronista do Correio do Povojuremir@correiodopovo.com.br
Fonte: CORREIO DO POVO online, acesso 19/06/2011

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