segunda-feira, 27 de junho de 2011

''Os políticos têm medo do Vaticano''

 Entrevista com Gianni Vattimo

"O problema da Europa se chama Itália, não por culpa dos italianos,
 mas pela colonização levada adiante pelo Vaticano e
pela covardia dos políticos".
 O professor Gianni Vattimo, filósofo e eurodeputado
pela Itália dos Valores, tem dúvidas com relação ao fato de que
 possa haver uma reviravolta na Itália no
 reconhecimento dos casais gays.
Eis a entrevista.

Continuaremos tendo polêmicas em torno de uma propaganda da Ikea e sobre o slogan "estamos abertos a todos os tipos de família"?
O problema é o entrelaçamento entre o atraso político e uma Igreja que considera os seus princípios como princípios de direito natural. Não só sobre as uniões homossexuais, mas também sobre a bioética, sobre o fim da vida, sobre o divórcio. Princípios inegociáveis, mesmo que a Igreja se declare democrática. O político, para não perder um voto do bispo ou do pároco, prefere evitar de enfrentar a questão, mesmo que a posição no país seja diferente.

A maioria é a favor dos casamentos gays?
Basta olhar para as pesquisas. Não queremos usar a palavra "matrimônio", porque incomoda. Tudo bem. Seria importante um reconhecimento legal. Mesmo os católicos estão de acordo. Eu também me considero um cristão, não tão praticante, porque a Igreja pensa que eu sou um bandido...


"Veronesi disse que, no amor gay,
busca-se a proximidade de pensamento
e a sensibilidade com o outro,
enquanto o amor heterossexual é
instrumental para a procriação."


A maioria política não corresponde à maioria real?
Não, mas é algo que acontece cada vez mais frequentemente. Vencem-se os referendos, mas depois se perde no parlamento.

Entre os políticos italianos, o senhor vê um Cuomo ou um Obama possa romper a covardia?
É difícil, não vejo ninguém.

O ex-prefeito cidadão de Turim, Chiamparino, havia participado do casamento de duas lésbicas para chamar a atenção para a questão. Um estímulo por parte dos prefeitos teria um efeito?
Chiamparino fez bem e demonstrou ser aberto. Mas quantos prefeitos estão dispostos a seguir o seu exemplo? Poucos.

O oncologista Veronesi exaltou o amor gay como uma escolha consciente, mais evoluída do que a relação heterossexual. O senhor concorda?
Algumas argumentações têm um sentido próprio. Veronesi disse que, no amor gay, busca-se a proximidade de pensamento e a sensibilidade com o outro, enquanto o amor heterossexual é instrumental para a procriação. Em uma frase, desafio a que se encontre um homem normal que queira se assemelhar à sua esposa. Depois, é possível ter filhos com técnicas diferentes, sem recorrer a instrumentos biológicos. Atenção, porém, para não exagerar. E digo isso como gay. Não há uma superioridade no amor gay com relação ao amor heterossexual.

O senhor se casaria?
Sou a favor de uma legalização. Não é um problema de matrimônio no sentido clássico. Pasolini hoje seria a favor do casamento? Duvido, porque entre os gays prevalece a defesa da própria diversidade. Outra coisa é um reconhecimento legal da união, que valeria para os casais homossexuais assim como os heterossexuais.
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A reportagem é de Diego Longhin, publicada no jornal La Repubblica, 26-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU on line, 27/06/2011

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