domingo, 26 de junho de 2011

Opostos Femininos

Joaquim Zailton B. Motta*

Imagem da Internet

Vamos hoje aproveitar os trabalhos de duas mulheres brasileiras dedicadas à psicologia e à psicanálise. São elas a psicanalista carioca Regina Navarro Lins, autora de dez livros sobre o relacionamento amoroso, entre eles “A Cama na Varanda” (Editora Best Seller), e Luiza Cristina Ricotta, psicóloga e autora de “O Vínculo Amoroso - A trajetória da vida afetiva” (Agora Editora).
No seu livro, Ricotta indica: “Eu escuto mulheres de um lado dizendo que não precisam de um homem para nada e, do outro, mulheres que não vivem sem a referência de uma figura masculina em suas vidas e que perdem suas identidades ao lado deles. Está mais do que na hora de se buscar um equilíbrio entre estes dois exageros”.
Por seu lado, Lins aponta: “A menina na nossa cultura aprende desde cedo a ser dependente do homem. Além dos contos de fadas - que passam a péssima mensagem de que as mulheres só podem melhorar de vida por meio da relação com um homem - todos os meios de comunicação, família e escola colaboram para isso. As meninas aprendem a ter fantasias de salvamento, em vez de desenvolver suas próprias capacidades e talentos. Muitas mulheres ainda acreditam que precisam ter um homem ao lado para serem valorizadas. É claro que cada vez mais encontramos mulheres que se libertaram disso e olham com novos olhos para o mundo, o amor, o homem, a mulher, sem estar presa aos condicionamentos que tanto limitam as pessoas”.

"A condição essencial para a
mulher ficar bem sozinha é
o exercício da
autonomia pessoal."

As estatísticas, cada ano que passa, confirmam que o número de separações é maior que o de uniões. Uma moça de 36 anos comentou sobre as seis amigas de faculdade com as quais ela mais convivia: todas - menos uma - se casaram e se separaram, inclusive ela. E essa única exceção já ficara um ano longe do marido.
De certo modo, sejam mulheres mais preparadas para não depender do homem ou sejam as que não suportam a vida sem um companheiro, elas estão ficando sozinhas. É claro que aquela que tiver menos autonomia vai sofrer mais em termos de padrão de vida, mas nem sempre a moça que não tem perdas sócio-econômicas sofrerá afetivamente menos.
A dependência financeira não implica conexão amorosa mais forte nem o inverso é necessariamente verdade. Mulheres dependentes podem viver ao lado do marido por não ter alternativa, não por amor a ele. Mulheres independentes podem se sentir tão intensamente ligadas ao homem que podem até sustentá-lo.
Os exemplos da viuvez podem ser esclarecedores. A morte do marido promove um equivalente de aposentadoria feminina. Com a subvenção, as viúvas têm garantia de sobrevivência e não mais convivem com um homem. Várias delas experimentam uma vida solitária e feliz, evitando novo compromisso.
Muitas mulheres acreditam que são frágeis, desamparadas, incapacitadas de gerir a própria vida. Ter um homem ao lado passa a ser fundamental, representa sobrevivência.
A condição essencial para a mulher ficar bem sozinha é o exercício da autonomia pessoal. Ou seja, além de desenvolver nova ideia do amor e do sexo, ela tem que se libertar da dependência amorosa exclusiva que representava a sua salvação. Sem medo de ser sozinha, a pessoa não sente o sufoco da solidão.
O desenvolvimento individual processa a mudança interna necessária para a percepção das próprias singularidades, virtudes, dúvidas e inseguranças. Então, conquista-se o prazer de estar só.
A noção do relacionamento que leva à fusão dos pares em uma única figura, característica do amor romântico clássico, também tem que ser repensada, contemplando as individualidades.
Apesar de aumentar o risco da separação, parecendo que cada par entra no vínculo pronto para sair, essa perspectiva qualifica a relação com liberdade de escolha, decisões autônomas e amor mais espontâneo.
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*Médico psiquiatra, psicoterapeuta e sexólogo. Escritor, já publicou 07 livros, o mais recente em maio de 2007. Palestrante e congressista de vários eventos nacionais e internacionais. Articulista, mantém há 07 anos a coluna Sexualidade do jornal Correio Popular.
Fonte: http://www.blove.med.br 18/06/2011

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