segunda-feira, 30 de maio de 2011

Nos salões do poder, alguns homens são predadores inatos

BENEDICT CAREY/ENSAIO*
Imagem da Internet
A pergunta na mente de muitas mulheres, nas últimas semanas, é o mesmo grito de indignação que paira sobre qualquer escândalo sexual masculino: "Como ele pôde ser tão nojento?"
Poucos dias depois de o político francês Dominique Strauss-Kahn ter sido acusado de atacar sexualmente uma funcionária de um hotel em Nova York, Arnold Schwarzenegger, o ex-governador da Califórnia, admitiu que teve um filho com uma empregada doméstica e escondeu o fato de sua esposa durante dez anos.
Mas, para muitos homens, os dois relatos levantam uma questão totalmente diferente: "Se eu tivesse muito poder, como me comportaria?" As manchetes são um lembrete constante de que o sucesso parece gerar adúlteros, libertinos e degenerados sexuais. O poder transforma homens comuns em predadores sexuais?
A resposta, na maioria dos casos, é não, segundo cientistas sociais e terapeutas. "O poder é um facilitador", disse Ronald F. Levant, psicólogo da Universidade de Akron em Ohio e coeditor de "Men and Sex: New Psychological Perspectives" [homens e sexo: novas perspectivas psicológicas]. "Ele oferece oportunidades aos homens com certos apetites, mas, raramente, modifica a personalidade."
Muitos homens são parceiros fiéis e permanecem assim por toda a vida. Outros se envolvem em diversos casos, como o campeão de golfe Tiger Woods, se tiverem a oportunidade e a capacidade. Mas somente uma minoria dos homens se sente com direito a dominar os outros, a humilhá-los se forem provocados.
As pessoas discutem se algumas culturas sequer sancionam esse comportamento. Mas, se a ciência social servir de indício, a arrogância, geralmente, precede o poder, e não o contrário. Estudos de comportamento de grupos sugerem que os indivíduos superconfiantes e extrovertidos são os que tendem a virar líderes. E a experiência de estar no topo somente reforça o senso de controle e o egocentrismo da pessoa.
Em um estudo recente, pesquisadores liderados por Adam Galinsky, da Universidade Northwestern em Illinois, prepararam os participantes para que se sentissem poderosos, fazendo-os escrever sobre um incidente em que eles tinham o controle de outras pessoas. Esses sujeitos de "alto poder" eram significativamente menos precisos ao ler as emoções de fotografias faciais do que um grupo de comparação com participantes que não foram preparados da mesma maneira. Esse e outros experimentos sugerem que o poder pode cegar as pessoas para as emoções dos que estão ao seu redor e levar a "objetificar os outros por interesse próprio", concluíram os autores.
"Se a pessoa tem esse senso de superioridade e conseguiu sair impune com esse tipo de coisa antes, ela começa a pensar que a proporção entre risco e recompensa que se aplica aos outros não se aplica a ela", disse Samuel Barondes, professor de psiquiatria da Universidade da Califórnia em San Francisco.
A exceção, talvez, seja o tipo de homem que é tão consumido pelo aperfeiçoamento que certos traços de personalidade passam despercebidos ou não se manifestam.
Sentimentos de inadequação, um desejo de tomar caminhos desconhecidos ou um sentido de gratificação esperado podem levar a assumir um pequeno risco, uma proposta ousada e, por fim, a outra, dizem os terapeutas. É fácil ridicularizar esses motivos, e eles não justificam os danos. Mas são motivos, de qualquer modo -para transgressões sexuais, embora raramente para desvios sexuais.
Uma vez começada a traição ou a libertinagem, "não há realmente como dizer onde termina, se a pessoa tem verdadeiro poder e passa a acreditar que pode continuar impune", disse William B. Helmreich, sociólogo do City College em Nova York.
Isto é, se começar de fato. Em uma pesquisa com homens jovens, o doutor Levant descobriu que as atitudes em relação ao sexo eram muito menos definidas pela "cultura do vestiário" do que se supõe habitualmente. As reações variavam, mas, em média, os participantes concordaram que um homem "deve amar sua parceira sexual", que ele deve "se preocupar com o controle natal" e que não precisa "sempre tomar a iniciativa no que se refere a sexo".
Na maior parte da história humana, os homens trataram as mulheres como bem entenderam, e os homens poderosos, habitualmente, colecionaram esposas e amantes, sentindo-se livres para ferir ou matar as ofensoras. As normas sociais, leis criminais e a cultura progressiva do Ocidente evoluíram em parte para conter esses abusos, e a maioria dos homens observa essas regras.
Schwarzenegger, que fez um pedido público de desculpas, agora conhece os problemas que violar essas regras sociais comuns pode produzir. Strauss-Kahn, que supostamente cometeu um ato muito mais sério, sofrerá mais que a execração pública. Ele poderá enfrentar o julgamento dos seus pares.
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*The New York Times
Fonte: Folha on line, 30/05/2011

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