sábado, 21 de maio de 2011

Martin Seligman: “Todo mundo pode florescer”

O psicólogo americano, criador da psicologia positiva,
diz que uma vida boa é mais do que manter um sorriso no rosto
e está ao alcance de qualquer um

Um dos principais defensores da importância da felicidade, o psicólogo americano Martin Seligman está revendo seus conceitos. Em seu novo livro, Flourish (Florescer) , que será lançado no Brasil em outubro pela editora Objetiva, ele afirma que as emoções positivas estão supervalorizadas e que há pelo menos cinco caminhos para viver bem – ou florescer. Seligman explica sua nova teoria.

ÉPOCA – Flourish questiona o papel da felicidade que o senhor antes defendia. O senhor está renegando sua própria teoria?
Martin Seligman – Minha ciência sempre foi um trabalho em construção. Não estou renegando, apenas corrigindo e ampliando o que fiz antes. Renegar é uma palavra forte demais, já que fazer ciência é mudar de ideia.

ÉPOCA – Qual é a principal mudança?
Seligman – Deixar de entender a felicidade, as emoções positivas, como o objetivo final comum, como o único fator no qual as pessoas baseiam suas escolhas. Em vez disso, há cinco objetivos: felicidade, relacionamentos, propósito, engajamento e realizações. Se você pensar num avião, não há um único número que diga como ele está. É preciso checar altitude, velocidade, nível de combustível, temperatura. De maneira semelhante, os humanos são muito complicados e não dependem de um único fator.

ÉPOCA – Não é o caso, então, de ampliar o que entendemos por felicidade?
Seligman – É preciso restringir o conceito de felicidade. Perseguir só a felicidade é enganoso. Não que eu seja contra a carinha sorridente perpetuada por Hollywood, mas as emoções positivas são só parte do que motiva as pessoas.

"Deixar de entender a felicidade,
as emoções positivas, como o objetivo final comum,
como o único fator no qual
as pessoas baseiam suas escolhas.
Em vez disso, há cinco objetivos:
felicidade,
relacionamentos,
propósito,
engajamento
e realizações."
ÉPOCA – A personalidade é o fator mais importante para a felicidade. Como ela influencia nossa capacidade de florescer?
Seligman – Um de meus principais interesses é a resiliência, a capacidade de recuperação quando algo de ruim acontece. Descobrimos que a personalidade ajuda a prever quem, diante de um desafio, vai ficar deprimido ou crescer. Em geral, os otimistas são aqueles que superam as dificuldades. Não importam os fatores externos, mas quanto você considera que a dificuldade é temporária, e a realidade mutável.

ÉPOCA – Quem é pessimista também pode florescer?
Seligman – Você pode ser deprimido e florescer; ter câncer, ser esquizofrênico e florescer. Essas condições atrapalham, mas não anulam a possibilidade. Essa é a principal vantagem de olhar para os cinco fatores, em vez de só ver as emoções positivas. Há muitas maneiras de aumentar seu engajamento, de melhorar suas relações pessoais, de ter mais propósito e de se sentir realizado. É possível aumentar a duração e a intensidade da felicidade, mas apenas dentro dos limites biológicos de quem você é. Se só as emoções positivas importassem, o máximo que poderíamos melhorar é de 5% a 15%.

ÉPOCA – Se a felicidade não é assim tão importante, por que governos como o do Reino Unido estão começando a medi-la?
Seligman – Há quem diga que governos devem pensar em aumentar a felicidade das pessoas. Eu digo que é preciso aumentar os cinco elementos. Pense em Madre Teresa. Era solitária, mas teve uma vida cheia de sentido e floresceu ajudando os outros. Fazemos trocas, e é isso que os governos têm de fazer.
 
MARTIN SELIGMAN


QUEM É
Nascido em 1942 em Albany, Nova York, Martin Seligman tem sete filhos e quatro netos
O QUE FEZ
Ex-presidente da Associação Americana de Psicologia, é criador da psicologia positiva
O QUE PUBLICOU
Mais de 20 livros, entre eles Felicidade autêntica (2002) e Florescer (2011)
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Reportagem por Letícia Sorg

Fonte: Revista ÉPOCA online, 20/05/2011

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