terça-feira, 17 de maio de 2011

Espírito Animal de Keynes e Criação Destrutiva de Schumpeter

Paulo Yokota*
 
 John Maynard Keynes

Muitos leigos e modestos bacharéis em economia têm dificuldades com uma terminologia utilizada pelos economistas consagrados, como o professor Antonio Delfim Netto, ainda que eles tentem evitar o que vulgarmente acabou sendo conhecido como “economês”. Acabam soando como uma linguagem hermética, de acadêmicos, de compreensão mais difícil para os que enfrentam o problema do cotidiano.
Quando se fala do desenvolvimento econômico aparecem termos chocantes como “espírito animal” ou “criação destrutiva” que parecem contraditórios com o comportamento de seres que se pretendem racionais. Numa tentativa de esclarecer parcialmente alguns destes termos mais comuns em economia, tomamos a liberdade de escrever algumas linhas sobre estes assuntos, pois eles aparecem com muita frequência nos meios de comunicação.
O espírito animal, que parece inspirado no latim “spiritus animales”, foi uma expressão usada por John Maynard Keynes, considerado um dos mais importantes economistas da história, que a utilizou no seu livro “Teoria Geral do Emprego, Juros e Moeda” (1936), considerado por muitos como a bíblia da moderna teoria econômica. Vem sendo muito utilizada, recentemente, quando está ocorrendo uma revisão da chamada macroeconomia, reconhecendo que as autoridades têm um papel importante no desenvolvimento econômico, proporcionando indicações para a ação do setor privado. Contrapõe-se à ideia neoliberal que o mercado resolve todos os problemas de forma mais adequada. Keynes colaborou na formação das Nações Unidas ao término da Segunda Guerra Mundial.
A ideia é que os empresários, na procura do lucro, contam com uma qualidade de identificar oportunidades para empreendimentos que promovem investimentos que resultarão em benefício de todos, criando empregos e bens que serão destinados ao bem-estar de toda a população.
Seria um fator muito importante para provocar um processo de desenvolvimento econômico e social, hoje condicionado também a ser sustentável, ou seja, com respeito ao meio ambiente e com adequada distribuição dos benefícios. Eles teriam um papel fundamental e as autoridades deveriam estimular este espírito animal, ao mesmo tempo em que asseguraria as condições para regular a economia, de forma que ocorra uma adequada distribuição dos seus benefícios.
Joseph Schumpeter
Joseph Schumpeter foi dos economistas que mais contribuiu para a compreensão do processo de desenvolvimento econômico, utilizando expressões como espírito empreendedor, onde a inovação era relevante. Ele entendia que estes empresários eram fundamentais para que a inovação e a mudança tecnológica ocorressem dentro de um país.
Ele ensinou que havia uma criação destrutiva, com as velhas tecnologias acabando sendo renovadas criativamente pelas novas, e que isto era o cerne do processo de desenvolvimento. Ele permitiu compreender que o papel destes inovadores era fundamental e que deveria ser estimulado pelas autoridades.
Isto vem ocorrendo recentemente, tanto nos países desenvolvidos como nos emergentes, e têm muito da contribuição destes conceitos desenvolvidos por estes brilhantes economistas. Schumpeter faleceu em 1950 e sua preciosa biblioteca está no Japão, na Universidade de Hitotsubashi.
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*Paulo Yokota, economista brasileiro (dupla nacionalidade japonesa), ex-professor da USP, ex-diretor do Banco Central do Brasil, ex-presidente do INCRA. Viveu e trabalhou nestas regiões. Foi comissário do governo brasileiro, temporariamente, na Expo Tsukuba 85. Supervisionou os escritórios de uma trading brasileira na Ásia.
Fonte: Site Asia Comentada, 16/05/2011

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