sábado, 19 de março de 2011

Mundo velho

Juremir Machado da Silva*
Crédito: ARTE PEDRO LOBO SCALETSKY

Êta mundo velho sem porteira. Parece que vai acabar. Mas não acaba. No fundo, nenhuma novidade no front. Desde que o mundo é mundo, sendo impossível saber o que era antes, é assim: terremotos, maremotos, catástrofes naturais de todo tipo. O homem, que, às vezes, nos parece imundo, contribui para o descalabro, desde sempre, com sua capacidade de matar individual ou coletivamente. A guerra é a mais antiga invenção humana de destruição em massa. Cada época, contudo, tem suas formas de destruição. Conhecemos a época das guerras mundiais, que ficou para trás devido à possibilidade de destruição total com o uso de uma arma de guerra excessivamente poderosa, a bomba atômica. A humanidade obrigou-se a dar um passo atrás nas suas modalidades guerreiras, sob pena de não poder seguir guerreando por tempo indeterminado.
Quais as novidades de hoje em termos de destruição? Por que temos a sensação de que nunca foi tão horrível? Em primeiro lugar, podemos ver em tempo real a destruição acontecer. Antes, os fatos podiam chegar-nos com dias, meses ou anos de atraso. Temos mais tecnologia para destruir e mais tecnologia para mostrar a destruição. Em segundo lugar, graças à sua inteligência, o homem alcançou a invejável condição de poder influir na dinâmica da natureza. O aquecimento global é a nossa primeira grande contribuição para o descontrole natural. Encontramos uma forma de ajudar a natureza a nos devorar. É possível que façamos isso para melhorar a programação das televisões a cabo, essas que transmitem notícias 24 horas por dia. Estamos cansados do mesmo jornal a cada meia hora. Damos um jeito de incrementar o noticiário.
"O aquecimento global é a
nossa primeira grande contribuição
para o descontrole natural.
Encontramos uma forma de ajudar
a natureza a nos devorar."
Tem quem ache que o homem nada tem a ver com o aquecimento global. É provável. Afinal, são apenas pouco mais de 6 bilhões de insignificantes seres humanos, sem contar seus bois soltando pum, queimando combustíveis fósseis e interferindo de um jeito ou de outro na vida da natureza. O homem é genial. Primeiro inventou o sexo sem reprodução, o que foi chamado de liberação e alimentou o imaginário de uma época utópica. Depois, talvez cansado de orgias ou de noites maldormidas, inventou a reprodução sem sexo, o que o equipara, segundo Jean Baudrillard, às amebas. Por que não poderia inventar uma nova forma de destruição aparentemente sem causa? A guerra era o principal mecanismo de controle populacional num tempo sem pílula anticoncepcional e sem uso de camisinha. No Brasil, temos os acidentes de trânsito.
Vai piorar? É relativo. Não é errado dizer que o mundo nunca esteve tão bem. É verdade que esse bem ou bom pode ser traduzido como "menos pior". Há comida para todos. A humanidade, porém, ainda não teve tempo de encontrar um jeito de fazer a distribuição dessa comida sem criar uma ditadura ou derrubar excessivamente os preços. Até agora, experimentamos duas fórmulas em escala global, capitalismo e comunismo. O primeiro parece menos pior do que o segundo. Dizem que o comunismo matou, em menos de um século, mais gente do que o capitalismo ao longo da sua existência. Pode ser. Depende do que se entende por matar. Ou como. O capitalismo é um tsunami?
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* Filósofo. Prof. Universitário. Escritor. Cronista do Correio do Povo
Fonte: Correio do Povo online, 18/03/2011

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