terça-feira, 22 de março de 2011

Dois símbolos

<br /><b>Crédito: </b> PEDRO LOBO SCALETSKY


 
                                                     Credito Pedro Lobo Scaletsky



Juremir Machado da Silva*




Barack Obama, o primeiro negro presidente dos Estados Unidos, veio visitar Dilma Rousseff, a primeira mulher a presidir o Brasil. Quando dois símbolos se encontram, na plenitude do poder, o mundo para e nada acontece. Salvo o começo de uma nova guerra. É verdade que Obama já chegou ao Brasil desgastado pelo tempo em que está na Casa Branca. Na minha última viagem aos Estados Unidos, quando Obama ainda era apenas o candidato do Partido Democrata à presidência da maior potência mundial, comprei uma camiseta preta com seu rosto. Foi a minha primeira camiseta com a estampa de um candidato. Usei-a com orgulho ao voltar para o Brasil. A minha camiseta ainda está intacta. Barack Obama é que desbotou.
No sábado, enquanto ele cumpria a sua agenda com Dilma, os Estados Unidos e mais quatro aliados iniciaram os ataques à Líbia de Kadhafi. País desenvolvido, de Primeiro Mundo e moderno é assim, faz tudo como antigamente: está sempre em guerra. Será que o Brasil chegará um dia à condição de nação altamente desenvolvida e guerreira? Será que a culpa do nosso atraso é termos feito nossa última guerra contra o Paraguai? De certa forma, se me entendem, o índice de desenvolvimento pode ser medido pelo número de guerras que um país pode bancar de uma só vez ou, ao menos, por década. A prova da pujança americana, apesar da crise financeira de 2008, é que os Estados Unidos raramente estão sem uma guerra.
Outra característica interessante de país de ponta é a liberdade para recomendar aos outros o que ele mesmo pode se dispensar de fazer. Os Estados Unidos recomendam ao mundo o fim do protecionismo. A abertura total das fronteiras aos produtos estrangeiros, especialmente os americanos, é apresentada como o máximo da modernidade. Potência mundial guerreira, porém, vive num modernismo antigo, algo tão radicalmente moderno que permite fazer o velho como novo e cair em contradição sem perder a coerência, protegendo, por exemplo, o mercado caseiro de invasores estrangeiros mais baratos. A presidente Dilma obrigou-se a cometer uma indelicadeza: pediu a Obama que os Estados Unidos ouçam mais o que pregam aos outros. Bem, claro, ela não falou assim. Contentou-se em pedir que os americanos sejam um pouco menos protecionistas.
Nunca tive uma camiseta com o rosto de Dilma. Não terei como comparar o seu desempenho dentro de um ou dois anos com um tecido resistente e de boa qualidade. Se Barack Obama continuar desbotando no mesmo ritmo, apesar da aparente sinceridade do seu sorriso, vai acabar como Michael Jackson. O problema dos símbolos é que eles não são garantia de sucesso. Servem muito no "antes". Costumam patinar no "durante". Raros são os que garantem um "depois". O operário sindicalista Lech Walesa, na Polônia, dissolveu-se como um simbólico balão furado pelo poder. Nelson Mandela não decepcionou. É raro. Dilma Rousseff continua no páreo. Obama ainda pode recuperar-se? Espero que quando terminar o seu governo, minha velha camiseta não esteja mais inteira do que ele. Constato que, no tecido, seu sorriso mantém uma força colossal.
---------------------------------------------
*Filósofo. Prof. Univesitário. Colunista do Correio do Povo
juremir@correiodopovo.com.br
Fonte: Correio do Povo online, 22/03/2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário