segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Senso de humor

Juremir Machado da Silva*
Imagem da Internet
Adoro pesquisas. Elas costumam revelar o nosso lado bizarro. Ando sempre atrás, como dizem os franceses, de novas sondagens. Saiu uma agora, feita pelo Instituto Gallup Internacional, sobre o índice de otimismo econômico de cada país. Sou otimista: uma pesquisa dessas deve servir para alguma coisa. A Nigéria aparece no topo. Tem a população mais otimista do mundo. A turma vive rindo de nada. E é de rir mesmo. A renda per capita da Nigéria é de 2.035 dólares. A França, primeiro colocado no ranking do pessimismo, só para fazer um contraponto, tem renda per capita de 33.679 dólares. A Nigéria é o oitavo país mais populoso do mundo, com 148 milhões de otimistas. A maior parte desses otimistas vive na pobreza absoluta. Prova, certamente, de que dinheiro não traz felicidade. O analfabetismo atinge quase 30% desses seres dotados de espírito positivo. Não se deve confundir a Nigéria com o Níger, outro país africano, bem mais pobre.
Não localizei o índice de satisfação do Níger, cuja renda per capita é de 738 dólares e cuja taxa de analfabetismo é de quase 70%, uma das mais altas do planeta, com dois terços do território no deserto de Saara, onde o espaço para espichar as pernas e respirar ar puro deve contar bastante para se estar sempre com fé no futuro. O segundo colocado no índice de otimismo é o Vietnã, cujo nome aparece associado à guerra em que deram uma de Mazembe para cima dos Estados Unidos. É um país comunista com regime de partido único. Por lá, o otimismo faz parte das obrigações cívicas. Ser pessimista é considerado crime de lesa-pátria. O terceiro colocado em otimismo é Gana, que tem a gana de tudo, principalmente de desenvolvimento. Em Gana, na capital, Acra, vive uma comunidade chamada Tabom, formada por libertos que retornaram do Brasil para a mãe África. Não tem como estar ruim, pois antes era pior. O lema de Gana diz tudo: "É melhor ser independente para governar sozinho, bem ou mal, do que ser governado pelos outros". Tá bom, não é?
"A expectativa média de vida na França,
campeã em pessimismo, é 80,7 anos.
Já na Nigéria, troféu do otimismo,
não chega a 47.
Deve ser um pequeno problema
de amostragem ou
de metodologia."
O quarto do ranking dos de bem com a vida é a China. O Brasil aparece em quinto, o que nos deixa extremamente pessimistas, pois estávamos certos de que levantaríamos essa taça. Afinal, somos bons de bola. No ranking do pessimismo estão, pela ordem, França, Islândia, Reino Unido, Romênia e Espanha. O pessimismo é o esporte mais popular da França, na frente do futebol, da bocha, do rúgbi e do levantamento de baguetes e copos de vinho. Outra pesquisa, da Universidade do Minnesota, afirma que os otimistas vivem mais e melhor. Muito curioso. A expectativa média de vida na França, campeã em pessimismo, é 80,7 anos. Já na Nigéria, troféu do otimismo, não chega a 47. Deve ser um pequeno problema de amostragem ou de metodologia. A conclusão de tudo isso é simples: quanto mais rico, mais pessimista. Quanto mais pobre, mais otimista. Quem nada mais tem a perder pode se dar ao luxo de levar a vida numa boa, sem lenço nem documento, uma mão na frente e outra atrás. Esperando.
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*Juremir Machado da Silva . Filósofo. Prof. Universitário. Escritor. Colunista do Correio do Povo
Fonte: Correio do Povo online, 17/01/2011

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