quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Dúvida é uma fase intelectual

Maurício Gomide Martins*


Crer é ter certeza sobre algo que traduz um desejo. Desejos são manifestações psicológicas, conscientes ou inconscientes. Crer é renunciar à capacidade de uso da razão. Crer é adotar pensamento alheio, aprisionar-se. Raciocinar para concluir é autonomia. Aprender é conhecer; conhecer é adquirir condições para se transformar, atingindo a capacidade de evoluir.
O animal humano possui cinco sentidos básicos e a aptidão ou sentido da mente que, quando inteiramente livre, gera conhecimentos, percepções, intuições, pensamentos, raciocínios, deduções. O exercício das aptidões da mente se chama inteligência, cuja finalidade é a de resolver problemas novos. A dúvida advém quando o raciocínio ainda está processando a resolução de um problema novo. Ressaltamos que, para os que não se julgam oniscientes, é natural o surgimento da dúvida. Momentânea, transitória, não permanente.
Já ficou sedimentada na mente dos humanos, como forma de raciocínio, que tudo tem uma causa. Daí tira-se o corolário de que uma ação produz um efeito. Presentemente, estamos diante de uma incógnita: as alterações ambientais são antropogênicas? Os inúmeros fatos de conhecimento público, o bom senso, a lógica, as verificações estatísticas estão mostrando que sim. A natureza por si, que é lentíssima pelos padrões humanos, produz alterações no equilíbrio ambiental na forma adaptativa, exceto na ocorrência de fato natural violento imponderável. E o homem, que não sabe viver, mas sabe degradar, usa suas faculdades para satisfazer à ganância de bens materiais, conforto e vaidades. Atua sem prever as conseqüências. Pior: vem agindo num crescendo geométrico que já fez soar o alarme da consciência. Na velocidade com que age, não dá tempo aos mecanismos naturais de adaptação para que interfira a seu favor.
Se armarmos uma equação representativa das condições atuais, vamos encontrar uma desigualdade (desequilíbrio ambiental). Se retirarmos o peso do fator negativo (ação humana) restabeleceremos a igualdade de valores. Importante: o nascimento de um bebê provém também de um conjunto de ações humanas. Vai causar efeitos. Em outras palavras: o crescimento populacional numérico e potencial num sistema ambiental limitado é prejudicial à harmonia do todo, inclusive aos próprios nascituros.
Desde quando a vida se manifesta com o nascimento – em todos os reinos – pede segurança. Parece que esse é o fator mais importante para a perpetuação da espécie. Sem segurança, não há vida. No caso presente não se trata de questionar quem é o culpado, mas usar toda a inteligência humana para precaver-se contra o desastre ecológico seja ele evidente ou não.
Com desenvolvimento, progresso, crescimento, festas, consumismo, alienação intelectual e outras irracionalidades – próprias da atual civilização da ganância – infelizmente estamos cavando nossa própria sepultura.
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* Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate, residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.
Fonte: EcoDebate, 20/01/2011
Nota: o livro “Agora ou Nunca Mais“, está disponível para acesso integral, gratuito e no formato PDF, clicando aqui. http://www.ecodebate.com.br/pdf/agora_ou_nunca_mais.pdf
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