quinta-feira, 21 de outubro de 2010

OS NOVOS 7 PECADOS MORTAIS

Marta Dahlig*

Imagem da Internet

Esquecidas sejam a avareza, a luxúria, a inveja, a gula, a preguiça, a ira e a soberba. Mudaram os tempos, mudaram os interditos.

Autopromoção
Os quinze minutos de fama, que mencionava o visionário Warhol, bastam para os olhares se voltarem na nossa direcção. Julgarmo-nos únicos, especiais, distintos. Incharmos o ego. Quando os holofotes se apagam na precária ribalta, mergulham na obscuridade os seres que nenhum talento especial distingue.

Hiperactividade
Poucos sabem «preguiçar». A preguiça foi proscrita dos centros urbanos. É ido o tempo em que havia tempo para escutar as cigarras. Que teimo em ouvir. Nos dias que correm, inactividade é o mesmo que morte social. Sofrer por uma carreira, transpirar no ginásio, ver o filme de que todos falam, ler o que acabou de sair, não ter tempo para amar. Tudo para não esquecermos o mundo. Implacável, o mundo, esquece quem somos.

Ironia forçada
O humor é de bom tom. Obrigatório o segundo sentido; agudo e fino. «O sexo e a cidade» e «Seinfeld» tiveram êxito por serem espirituosos. Como os Gatos Fedorentos. Têm graça. E a graça deles preenche o vazio da nossa.

Falsa humildade
Ser e afirmar-se ambicioso (hoje, chamam-lhe profissonalismo ou competitividade). Alguns monarcas deste milénio dizem-se adeptos de ocasional fast-food (trincarão mesmo um naco de minhocas temperado com molho de tomate e maionese hiper-calórica?). Onde reside o mal do gosto pelas coisas boas, de apreciar o fausto, ser um connaisseur e não o esconder?

Eterna juventude
Ninguém quer ser cota, ter meia-idade, ser identificado como velho. E infelizmente, como dizia a Agustina Bessa-Luís, não é por a um velho lhe faltar o desejo que renuncia ao milagre. Tememos não concretizar todos os sonhos que anos a fio preservámos - ser jovem é possuir o mundo na concha da mão. E julgamos, ao apagar os vestígios do tempo, ludibriar a genética.

Snobeira popular
Parecer snobe é pretensão dos que não têm entrada na casa dos deuses; os verdadeiros snobes, porque a têm garantida, não carecem de exibições. O espírito snobe-popularucho é milho que a “gentinha” debica (expressão à boa maneira dos snobes emergentes).

Voyeurismo
As vidas dos concorrentes das novelas da vida real são banais: acordam, lavam os dentes, discutem, amam. E vemo-los testar os limites. Assistimos porque nos toca. Por exiberem uma parte de nós. James Stewart tinha a janela indiscreta de onde acedia ao mundo que o excluía pela sua imobilidade. Dali espiava os vizinhos. Via-os despidos da polidez social. Acabaria, ainda assim, por ver a sua vida misturada com a deles, de se ver integrado como personagem e não como mero espectador. Não se passa o mesmo connosco?
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* Em português de Portugal. Site de Portugal.

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