quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O que você tem feito pelo seu cérebro?


 
Uma das mais recentes descobertas da neurociência revela que o treinamento cerebral por meio de exercícios é possível aprimorar as cinco principais funções cognitivas humano: a memória, a atenção, a linguagem, o raciocínio lógico e a visão espacial. Mas, o que isso tem a ver com o meio organizacional? Tudo afinal as empresas são formadas por pessoas e essas, por sua vez, podem receber estímulos que resultem numa melhor capacidade de aprendizado, desempenho e potencial criativo. Todos esses, diga-se de passagem, contribuem para a efetivação de uma empresa mais competitiva.

A capacidade cognitiva ainda é um tema pouco difundido no ambiente corporativo, mas que pode gerar contribuições significativas tanto para as empresas quanto para os colaboradores. Por esse motivo, o RH.com.br convidou para uma entrevista Luiz Moraes, pedagogo, pós-graduado em Gestão de Recursos Humanos e um dos sócio-fundador do Cérebro Melhor, que licenciou a tecnologia da SBT/Happy Neuron (Scientific Brain Training), que tem mais de 10 anos de presença no mercado mundial de desenvolvimento cognitivo e que conta com uma equipe de cientistas reconhecidos no meio acadêmico.
"Quanto mais estimulada e rica de experiências for a vida profissional e pessoal do indivíduo, melhor será a performance em aplicar os seus conhecimentos como, por exemplo, analisar e solucionar problemas, sintetizar ideias e efetuar julgamentos, seja no campo profissional ou pessoal", afirma Luiz Moraes, ao acrescentar que é indispensável que as organizações adotem como premissa que cuidar das pessoas e dos seus respectivos cérebros é fundamental para a vitalidade da própria empresa. Essa é uma entrevista que merece toda a sua atenção, afinal o cérebro humano está em constante processo evolutivo. Boa leitura!

RH.com.br - O que podemos compreender como capacidade cognitiva?
Luiz Moraes - De maneira muito simples diria que a capacidade cognitiva é a capacidade do cérebro perceber, aprender, recordar e pensar sobre toda informação captada através dos cinco sentidos. Cognição que tem origem nos escritos de Platão e Aristóteles significa: compreender, apreender, entender, assimilar e absorver conhecimento. Complementando, é o ato ou processo de conhecer, que envolve a atenção, a percepção, a memória, o raciocínio, o juízo, a imaginação, o pensamento e o discurso. A capacidade cognitiva é um mecanismo que o homem utiliza para entender, assimilar, relacionar e se conectar com o mundo e tudo que está ao redor.

RH - O estímulo à capacidade cognitiva influencia diretamente o desempenho profissional?
Luiz Moraes - Com certeza, principalmente estímulos que modificam e enriqueçam o modo rotineiro e automático de fazer as coisas, porque está comprovado cientificamente que você pode melhorar a sua capacidade cognitiva através de estímulos sistemáticos e frequentes. Veja só, como citei anteriormente, a capacidade cognitiva envolve o cérebro, e este processo pode ser traduzido como um mecanismo de conversão do que é captado à nossa volta em ideias ou imagens que formam o modo de ser da pessoa. A informação obtida do meio em que vivemos é confrontada com o que está registrado na memória, formando toda a nossa base de conhecimento. Assim sendo, quanto mais estimulada e rica de experiências for a vida profissional e pessoal do indivíduo, melhor será a performance em aplicar os seus conhecimentos, como, por exemplo: analisar e solucionar problemas, sintetizar ideias e efetuar julgamentos quer seja no campo profissional ou pessoal.

RH - Quem está apto para estimular a capacidade das pessoas no ambiente corporativo?
Luiz Moraes - O estimulo da capacidade cognitiva está presente em todo ambiente corporativo, assim como, em toda nossa vida. Nós somos estimulados cognitivamente o tempo todo. Afinal, estamos sempre refletindo sobre alguma coisa, produzindo conceitos, estratégias, nos adaptando aos ambientes, efetuando escolhas, convivendo com novidades e desenvolvendo capacidades para adaptações a novos padrões de comportamento. É bastante difícil definir um responsável. Eu sou da opinião de que todos possuem inúmeras oportunidades de estimular a capacidade das pessoas, mas é claro que, a instrumentalização adequada é de responsabilidade dos gestores de desenvolvimento humano, mas a operacionalização deve ser compartilhada por todos, em especial pelas lideranças da organização.

RH - De que forma a área de Recursos Humanos também contribuir para o desenvolvimento da capacidade cognitiva dos colaboradores?
Luiz Moraes - Os gestores de Recursos Humanos de várias organizações devem estar atentos a uma série de pesquisas realizadas em vários países que têm demonstrado que o cérebro pode ser melhorado, se ele for constantemente estimulado cognitivamente. Este assunto foi um dos temas abordados no último CONARH pelo neurologista Elkhonon Goldberg, diretor do Instituto de Neuropsicologia e Funcionamento Cognitivo, em Nova Iorque, Estados Unidos. Das várias atividades para estimular a capacidade cognitiva dos colaboradores, os gestores de Recursos Humanos devem estar atentos aos programas de desenvolvimento cognitivo baseados em computador, uma realidade na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e na Ásia.

RH - Na sua percepção, as empresas estimulam como deveriam a capacidade cognitiva dos seus colaboradores?
Luiz Moraes - Responder a esta pergunta é bastante polêmico, pois o mundo corporativo mundial e no Brasil não é diferente. Estão começando a compreender o funcionamento do cérebro humano e a incorporação destes avanços nos processos e nas tarefas empresariais, mas ainda é incipiente. As descobertas científicas baseadas na neurociência são ainda novidades para o mundo corporativo e para piorar o cenário, são totalmente desconhecidas para muitos profissionais de Recursos Humanos. Eu me arrisco em afirmar que muitas empresas estão preocupadas com esta temática e algumas são até bem-sucedidas neste tema, principalmente as que valorizam a carreira profissional, protegem a saúde e promovem bem-estar dos colaboradores, mas acho que é minoria no Brasil. Muitas vezes os estímulos inerentes à rotina profissional de um colaborador são muito específicos e não diversificados, e acabam fazendo com que o colaborador desenvolva somente uma parte do potencial cognitivo. Nesse caso, torna-se necessário a complementação com estímulos cognitivos mais diversificados. Tome por exemplo, uma pessoa que trabalha na contabilidade, onde seu raciocínio lógico é estimulado diariamente. Porém, não a sua linguagem, o que pode fazer com que ele tenha dificuldades para se comunicar adequadamente.

RH - Quais os benefícios que o estímulo à capacidade cognitiva gera à empresa como um todo?
Luiz Moraes - As pessoas e, consequentemente, os cérebros são fundamentais para as empresas. Apoiado nos conceitos da neurocientista, a professora Suzana Herculano-Houzel - Universidade Federal do Rio de Janeiro, na abordagem do Dr. Elkhonon Goldberg: "Os avanços da Neurociência e as novas fronteiras do desempenho humano, e no que afirma o Dr. Paulo Caramelli da Universidade Federal de Minas Gerais, o estímulo da capacidade cognitiva das pessoas é essencial para saúde e vitalidade do cérebro, e desta forma importante para o bem-estar e longevidade. Pessoas saudáveis e com as capacidades cognitivas em plena forma geram para a empresa um retorno brutal, pois estamos cuidando essencialmente do maior patrimônio corporativo, o Patrimônio Intelectual / Capital Intelectual.

RH - Instigar a capacidade cognitiva dos profissionais requer investimentos considerados altos?
Luiz Moraes - Como você mesmo coloca, desenvolver a capacidade cognitiva dos colaboradores requer investimentos e eu não diria altos ou baixos, mas adequados, pois todo investimento pressupõe retorno e, caso isto não aconteça, é dinheiro jogado no lixo. Está provado que investir em programas que aperfeiçoem e melhorem a capacidade cognitiva dos colaboradores contribuem e agregam valor ao mundo corporativo e melhoram significativamente a performance profissional, saúde e bem-estar dos colaboradores. As empresas precisam ser muito criteriosas na escolha de um Programa de Melhoria Cognitiva dos colaboradores, focando a escolha em programas com comprovada base científica, para não correrem o risco de jogar no lixo os escassos recursos que nem sempre estão disponíveis para este fim no plano orçamentário das empresas.

RH - O próprio cérebro humano é capaz de identificar as deficiências cognitivas e "reagir" de forma pró-ativa?
Luiz Moraes - Você me faz lembrar uma afirmação que ouvi do Dr. Franck Tarpin-Bernard, vice-presidente da empresa francesa Scientific Brain Training, de Lyon, no evento de lançamento do portal Cérebro Melhor no Brasil: "Não pergunte ao seu cérebro o que ele pode fazer por você, mas o que você pode fazer por seu cérebro". Se você deseja melhorar as capacidades cognitivas do seu cérebro ou, simplesmente, mantê-las bem, o melhor remédio é usar o cérebro. As últimas investigações da neurociência demonstram que o cérebro pode se regenerar mediante o uso e potencialização. A chave para alcançar o sucesso chama-se neuroplasticidade, que consiste na possibilidade de moldar a mente, o cérebro, através da atividade, do uso. O cérebro pode compensar as deficiências cognitivas, se estimulado adequadamente através de uma atividade mental intensa, com exercícios cognitivos regulares que podem ser através de novos aprendizados como, por exemplo, uma língua, um instrumento musical, novas áreas do conhecimento.

RH - Observa-se que o mercado conta com várias ferramentas avaliação. Contudo, muitas encontram dificuldades para desenvolver e aplicar um programa de melhoria de desempenho. Esse fato está direta ou indiretamente relacionado à forma como a capacidade cognitiva é trabalhada?
Luiz Moraes - É um fato que poucas empresas possuem um programa eficaz e eficiente para desenvolver plenamente a capacidade cognitiva dos seus colaboradores. Eu acredito que uma boa parte das ferramentas dedica-se mais à detecção e não à prevenção, ou seja, há no mercado vários programas e ferramentas para avaliar as pessoas e os desempenhos, identificando inclusive os pontos fortes e fracos. Mas, há um enorme desafio para as empresas integrarem estes programas aos processos, aliados à contínua necessidade de melhoria de desempenho dos colaboradores através do estimulo de capacidades cognitivas como: memória, atenção, raciocínio lógico, visão espacial e linguagem. Como já conversamos, o tema desenvolvimento de capacidade cognitiva centrado no cérebro, incorporando os principais avanços da neurociência ainda são bastante recentes no mundo e começam agora a despertar o interesse das empresas e dos profissionais no Brasil.

RH - Que "pontos" o senhor considera fundamentais a uma iniciativa que objetiva o estímulo à capacidade cognitiva no ambiente corporativo?
Luiz Moraes - É preciso que a empresa adote como premissa que cuidar das pessoas e dos respectivos cérebros é fundamental para a vitalidade da empresa. A necessidade de escolha e da adoção de um programa de estímulo à capacidade cognitiva para uma empresa é muito fácil de ser identificada, basta que os gestores respondam sim a uma ou mais das seguintes indagações: A empresa depende de seus profissionais operando e atuando em melhor forma e saúde cerebral? Os profissionais precisam melhorar o tempo de resposta e raciocínio lógico? Os profissionais têm a necessidade de memorizar nomes, datas, números e fatos no dia a dia? É desejável ampliar os níveis de atenção concentrada no trabalho? A forma de pensar dos profissionais deve ser mais criativa, clara e rápida? O processo de tomada de decisão e pensamento estratégico dos profissionais poderia ser melhorado? A idade média dos profissionais está aumentando? A empresa teme que os colaboradores não permaneçam tão afiados mentalmente à medida que envelhecem?
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Reportagem por Patrícia Bispo
Fonte: http://www.rh.com.br/20/09/2010

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