sexta-feira, 14 de maio de 2010

A nova fronteira da personalização de conteúdos

Ricardo Almeida*
O processo de metamorfose editorial de
portais na web
já deixou de ser tendência e
passou a ser realidade

A personalização de sites e aplicações digitais não é um conceito novo. A bem da verdade, sites esmeram-se em segmentar os seus conteúdos ao extremo desde a própria criação da Web, quando ficou clara a possibilidade e o potencial de se comunicar com indivíduos ao invés de se comunicas com massas. Todavia, esse conceito vem ganhando novos ares e características que podem ser responsáveis por melhorias nunca antes vistas na experiência de navegação – e por riscos de iguais proporções.

As vantagens são óbvias: ao acessar um determinado site, todo o seu conteúdo já estará moldado de acordo com as preferências de navegação do usuário. Em menos tempo, consegue-se localizar a informação desejada e focar a navegação em algo mais útil e orientado, seja do ponto de vista de conteúdo ou de compras.

Personalização está intimamente vinculada a fidelização. Afinal, a disposição de conteúdos é feita de acordo com as preferências e hábitos dos usuários – que precisam, por sua vez, ter um histórico no site que permita a este registrar e interpretar as suas “trilhas”. Para que esse modelo funcione de maneira realmente impactante, o usuário precisa ter um hábito de navegar pelas páginas com a freqüência e profundidade necessárias para que as suas preferências fiquem armazenadas de maneira eficaz.

Vantagem, claro, para quem já tiver níveis de audiência e profundidade de navegação mais altos – como o Facebook, por exemplo. Com centenas de milhões de usuários e um tempo médio de navegação mensal de 7 horas/ mês (quase quatro vezes mais do que o Google), a sua dianteira na guerra pela fidelização do usuário está cada vez mais consolidada.

Recentemente, ele decidiu dar um novo passo rumo à personalização de seu conteúdo ao inserir maneiras dos usuários interagirem via Facebook mesmo estando fora da rede. O mecanismo é simples: ao permitir, por exemplo, que todo e qualquer site vincule os botões de “like” (ou “gostar”) do Facebook às suas páginas de conteúdo – mesmo estando elas fora do próprio Facebook – ele acaba conseguindo coletar milhões de dados comportamentais de usuários por toda a Internet.

Quando mais “likes” forem clicados Web afora, mais informações são reunidas – e mais personalizado passa a ser o conteúdo do Facebook quando o usuário acessá-lo. De informações sociais a publicidade ultra segmentada, esse modelo já tem o seu sucesso comprovado pela aderência e crescimento do Facebook em todo o globo. E, com isso, o Facebook parece ter o jogo ganho.

Todavia, o seu próprio poder de trabalhar com informações ultra segmentadas parece ter gerado uma espécie de sede incontida por mais e mais retorno, mais e mais rapidamente. Por conta desta sede, o Facebook tem alterado as suas regras de maneira constante e sempre na mesma direção: tomando gradativamente para si o controle sobre as configurações de privacidade dos usuários.

Afinal, para promover mais conexões e entregar mais conteúdo personalizado, ele precisa ter o direito de usar informações sobre os perfis de seus usuários – o que muitas vezes significa tornar públicos dados que muitos desejam ter como privados (incluindo os seus históricos de acesso e conexões).

A nova fronteira de personalização de conteúdo, portanto, parece esbarrar em duas questões: a cada vez mais tênue linha que separa o público do privado e o risco de ter o controle sobre esta mesma linha nas mãos de uma corporação tão ambiciosa quanto gigante. Seja qual for o desenrolar desse jogo, o fato é que o processo de metamorfose editorial de sites, moldando o seu conteúdo de acordo com as preferências de cada usuário, já deixou de ser tendência e passou a ser realidade.

Cabe agora a outras empresas que estão atrás no jogo – do Google a redes sociais e veículos de informação de todos os portes – organizar os seus modelos para que a Web não acabe virando o seu próprio paradoxo: um ambiente cada vez menos democrático e cada vez mais monopolizado.
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*Ricardo Almeida (Criador do conceito de Webs Progressivas, da Metodologia Moebius e autor de Mirando Resultados, o primeiro livro voltado para planejamento estratégico, mensuração e previsão de ROI (retorno de investimentos) para Web no Brasil. É também especialista em planejamento e gestão de projetos Web. É Diretor Geral do I-Group e do Clube de Autores)
Fonte: http://br.hsmglobal.com  14/05/2010

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