segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Uso de alternativas inovadoras impulsiona geração de empregos



Steve Caldwell: energia eólica está bem mais perto de se tornar competitiva

O físico e químico Steve Caldwell é expert em questões de tecnologia do conceituado Centro Pew sobre a Mudança Climática Global, onde trabalha na vice-presidência para soluções inovadoras. Após anos no setor privado, atuando em empresas de energia e tecnologia de informação, Caldwell dedica-se agora a analisar políticas públicas para a promoção de tecnologias limpas. Nesta entrevista, concedida por telefone do escritório do Pew em Arlington (EUA), Caldwell afirma que o pacote de estímulo econômico do administração Barack Obama mostra comprometimento com pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. Leia os principais trechos abaixo:

Valor: Uma das propostas americanas para acelerar o uso de novas tecnologias de geração de energia é a rede de distribuição inteligente (smart grid). Quão avançada está a implementação desta rede e que tipo de mudança ela vai trazer?
Steve Caldwell: A rede inteligente ainda está em um estágio primário, embora exista um grande foco em desenvolvê-la no pacote de estímulo da administração de Barack Obama. Há uma série de projetos que estão sendo apoiados como utilizar uma série de medidores de energia inteligente na maioria dos domicílios. Embora isso ainda esteja longe de acontecer, há muita atenção do público. A smart grid não é uma tecnologia em si que diminui emissões, mas é uma tecnologia que permite o gerenciamento de outras que vão gerar a redução de emissões. Ela vai permitir saber qual tipo de energia está sendo fornecida e quanto você está gastando com ela. Desta forma, ela poderá facilitar a penetração de tecnologias como a solar e a eólica. Outra coisa possível seria conectar automóveis com baterias elétricas diretamente à rede elétrica. É uma forma de combinar demanda e suprimento de forma inteligente.

Valor: Qual é a sua opinião sobre os pacotes de recuperação econômica? Eles vão promover um mundo de tecnologias de baixo carbono?
Caldwell: Eu sei que vários países soltaram pacotes, mas posso falar com mais propriedade sobre o pacote lançado nos EUA. Tivemos no início da administração Obama uma série de medidas que variam desde a garantia para empréstimos até incentivos a baterias para veículos elétricos, passando por investimentos em isolamento térmico das casas. Eu acho que o pacote indicou em nível político que energia limpa e tecnologias de baixo carbono são prioridades. Também indica que o uso de tecnologias limpas para a criação de empregos é uma prioridade. Com relação a redução de emissões, é claro que ajuda, embora as medidas não serão suficientes para que atinjamos as metas estabelecidas para 2020. As metas serão atingidas com legislações mais abrangentes sobre limites e comercialização de carbono.

Valor: Olhando para diferentes tecnologias é possível dizer que houve um avanço no implementação nestes últimos cinco anos?
Caldwell: Nós olhamos nesta revisão para as tecnologias que serão realmente essenciais para as pessoas e para o setor energético, como as renováveis e a energia nuclear, além daquelas ligadas ao setor de transporte, como os biocombustíveis. Certamente o movimento não é tão rápido como gostaríamos. Mas se você olha para a atual política de clima e energia dos EUA, verá que as prioridades são incentivos à pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, além de fundos para projetos pilotos e parcerias com empresas privadas. Então podemos dizer que o papel do governo em criar testes e aplicações destas tecnologias está bastante claro. E um dos exemplos é a captura e sequestro de carbono, onde o governo vai assumir o risco dos primeiros projetos. Uma vez que estas tecnologias sejam testadas, será preciso criar a demanda no mercado, e isso será feito colocando-se um preço no carbono.

Valor: Quando as pessoas falam sobre o custo de novas tecnologias mencionam a crescente competitividade das energias eólica e solar. O Sr. compartilha esta visão?
Caldwell: Quando olhamos estas duas tecnologias, notamos que ambas cresceram muito rápido tanto nos EUA quanto globalmente. Mas cada uma delas enfrenta desafios diferentes. A energia eólica está bem mais perto de se tornar competitiva em comparação com às tradicionais fontes fósseis e o gás natural. A energia solar é mais cara e quando é colocada no mercado, ainda precisa de um subsídio maior. Mas é bom lembrar que quando estamos discutindo tecnologias para combate às mudanças climáticas o objetivo principal é diminuir a concentração de gases de efeito estufa. Há muitas maneiras de se fazer isso: através de eficiência ou através de renováveis, ou por meio do sequestro de carbono. O que quero dizer é que não deveríamos olhar apenas para eólicas e solar.
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Reportagem:Gustavo Faleiros, para o Valor, de Londres

Fonte: Valor Econômico online, 22/02/2010

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