terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Diretrizes para o final da vida

JOHN C. LANE*


À medida que a idade avança, devemos pensar naquilo que verdadeiramente tem valor como, por exemplo, a importância de continuarmos independentes. Devemos considerar, ainda, se continuar vivendo vale a pena. Você deseja prolongar sua existência independente se sua qualidade de vida é boa ou má? Você quer um tratamento somente se existir a possibilidade de cura? Ou deseja medidas paliativas que controlem a dor e o desconforto quando o fim está irremediável perto?

Uma doença grave, um acidente, ou a morte eminente não são assuntos fáceis de serem abordados. No entanto, faz sentido planejarmos como desejamos ser tratados no final da vida. Isso é feito no que podemos chamar de diretrizes finais, ou testamento em vida. Um documento assim deve ser feito por escrito, e seguramente diminuirá o peso sobre sua família para tomar as decisões difíceis que abordaremos a seguir.

A morte deve ser inicialmente tratada de forma informal com seus entes queridos. Em seguida, um documento que traduza seus desejos deve ser elaborado. Esse documento legal explica como você deseja ser tratado quando já não tiver mais condições de se exprimir (e.g., se estiver em coma). Não será possível abordar todas as possíveis situações de saúde em um único documento; entretanto, você pode deixar claro se deseja ou não que sua vida seja prolongada a todo custo.

Imagine que você seja portador(a) de um câncer em estágio avançado, sem a possibilidade de cura, e esteja hospitalizado, e, neste ínterim, ocorra uma parada cardíaca. É seu desejo que sejam feitas todas as manobras de reanimação cardiorrespiratória para ressuscitá-lo(a)? Se você tiver insuficiência respiratória grave irreversível, deseja permanecer vivo(a) com um tubo na traquéia em ventilação mecânica? Suponhamos que não tenha condições de engolir; e.g., um câncer do esôfago, e você precisa ser hidratado(a) e nutrido(a) através de uma sonda colocada no estômago. Em seu estado mental, você já não reconhece mais seus familiares. Você deseja viver assim? Pense em sua família. Como é que ela se sentiria? Se seus rins deixarem de funcionar de uma vez por todas, e você não é candidato(a) a um transplante renal, quanto tempo desejaria ficar indo e vindo de uma clínica ou hospital todas as semanas por tempo indefinido?

Em suma, você deseja ser tratado(a) em um hospital até morrer, ou quer permanecer em casa com sua família e receber a visita de amigos, recebendo carinho e medidas que aliviem sua dor e desconforto?

Essas diretrizes sobre como você deseja ser tratado(a) devem ser elaboradas juntamente com seu(ua) esposo(a) ou companheiro(a). Você não tem nada a perder, pois terá o direito de alterá-las em qualquer época. Eu e minha esposa já fizemos as nossas e sentimos que é isto o que desejamos. Se você deseja uma cópia a título de modelo, envie um e-mail para o seguinte endereço: cestudo@cmcnet.com.br.

*J.C. Lane é professor titular colaborador da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e médico do Centro Médico de Campinas.
Fonte: Correio Popular online, 22/12/2009

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