segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Clique aqui!

Carlos Eduardo Novaes*

Se eu fosse um adolescente imberbe – como os milhares que povoam a Internet – iria me sentir o cara mais amado do mundo ao abrir minha caixa postal. Não tem um dia que não encontre duas, três mensagens do tipo: “Ola! Estou morrendo de saudades de você. Clique aqui! De alguém que te curte de montão. Clique aqui! Quero muito estar pertinho de você. Clique aqui! Por que você não responde, meu amor? Clique aqui! Minha paixão não pode ser medida por palavras. Clique aqui!”.

Mesmo sendo um coroa rodado confesso que meus dedos ficam em cócegas para apertar o mouse, mas sou contido pela convicção de que o correio eletrônico é um campo minado onde qualquer bobeira pode me fazer explodir. A mesma sensação daquele japonês de Hiroshima que puxou a descarga e a bomba atômica explodiu. Tenho um amigo que não resistiu à declaração: “O dia passou, mas não esqueci de você. Clique aqui!”. Ele clicou e constatou, decepcionado, tratar-se de um remédio para a memória – dele, não do computador. Ainda por cima incorporou uma quantidade de vírus que daria para formar uma escola de samba. Quase perdeu a máquina.

Deu nas folhas que os prejuízos com golpes na internet chegam a R$ 800 milhões. Não sei como foi feita essa conta, mas estou certo de que boa parte desses golpes entrou através de mensagens sedutoras. Quem resiste à ideia de emagrecer dormindo? Ou de aumentar o tamanho do pênis? Ou de parar de fumar em meia hora? A mão empurra o cursor direto no “clique aqui!” e depois só Deus sabe onde termina esse buraco negro. Muitas vezes a mercadoria não chega e se chegar não vai mudar em nada sua vida. Você continua um fumante gordo e de... pequeno.

As grandes minas escondem-se debaixo de mensagens de órgãos públicos informando sobre pendências de débitos. Canso de receber falsos e-mails do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), Serasa, Receita Federal com notificações oficiais e confidenciais. A sensação é a de que se não clicar onde eles pedem vou acabar preso, talvez deportado. Ano passado recebi durante meses uma mensagem ameaçadora do Tribunal Regional Eleitoral informando que meu título fora cancelado. Quer saber das razões? Clique aqui! Você clicou? Nem eu, mas fiquei com aquele pulgão atrás da orelha. No dia das eleições fui votar sem saber se voltaria para casa. Os mesários não entenderam minha gargalhada ao deixar a seção.

O pessoal está alcançando um nível de sofisticação nas mensagens dessas armadilhas que fica cada vez mais difícil resistir. Não faz muito tempo recebi um e-mail de “uma colega de colégio” que – dizia ela – tinha me visto na fila do cinema e havia encontrado uma foto dos velhos tempos em que aparecíamos juntos. Clique aqui para ver. A mensagem era muito bem escrita e senti um forte impulso para abrir a foto. Fui salvo por um pequeno detalhe: na ultima linha do texto ela dizia que eu continuava com uma aparência jovem e não havia mudado nada. Como não mudei? Fiquei quase completamente careca.

Quer ver como fiquei? Clique aqui!

*Carlos Eduardo Novaes é escritor.
FONTE: Jornal do Brasil, online - 30/11/2009

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