sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Amor e morte


Leandro Cunha
A morte é como o amor: chega sem avisar, não manda telegrama, não telefona antes e nem passa email. Ela simplesmente abre a porta, põe as malas no chão e se instala. E o amor também é assim, ou você conhece algum caso atípico de amor planejado, daquele tipo:

- eu vou me apaixonar perdidamente por aquela pessoa.

O amor, assim como a morte, a Deus pertence. E quem disse que Deus organiza as coisas do jeito que nós queremos? Os caminhos de Deus são surpreendentes e nos conduzem a desafios fantásticos. O que levamos desse mundo, senão os nossos maiores e melhores sentimentos, que nada mais são do que os momentos de amor? Quando amamos alguém, sintonizamos esse sentimento junto a Deus, pois o amor só é possível através d'Ele. Se você ama a criatura, então, também ama o Criador.


E o que é o amor? São as nossas emoções, as alegrias e as tristezas. Mas o verdadeiro amor passa, obrigatoriamente, pela alteridade. Sem isso não é amor. Pode ser qualquer outra coisa. Menos amor. O amor é o bem mais precioso que temos, é uma riqueza incrível. Mas quando se ama, queremos ver a pessoa amada FELIZ, mesmo que essa felicidade seja longe de nós, nos braços de outra pessoa. Se não for assim, não é amor. É paixão, é egoísmo, é ilusão, é o terrível sentimento de posse.

Quer entender melhor? Então vejamos: Deus nos deu a liberdade. Quando nascemos, recebemos d'Ele o sopro da vida, mas Ele não é um Deus ciumento, egoísta ou possessivo, pelo contrário, nos dá plena liberdade para seguirmos o caminho que quisermos, até mesmo para renegá-lo, virar as costas para Ele, desprezá-lo, criticá-lo, zombar dEle. Enfim, Ele acata as nossas escolhas, porque nos ama e nos respeita. Isso é alteridade. Isso é amor. Você seria capaz de aceitar que a pessoa amada agisse assim com você? Qual seria a sua reação? O que você faria?

Se Deus é assim conosco, por que não podemos agir da mesma forma com os nossos semelhantes? Por que temos tanta dificuldade em entender o óbvio? Por que tanto desamor e tanta intolerância? Por que um coração tão duro? E cada um de nós é, exatamente, aquilo que traz dentro do seu coração.

A parábola do filho pródigo, contada por Jesus, nos mostra quem é Deus, na figura e no amor misericordioso do pai naquela história. E para nós, cristãos, é a melhor forma de compreensão do significado da “salvação”, que muitos têm dificuldade em compreender e sempre perguntam:


- Mas, o que é a salvação? Eu devo ser salvo de quê?

Se o Reino já está no meio de nós, eu quero ser salvo sim, claro! Mas salvo de quê? Da minha própria arrogância, prepotência, presunção, ganância, egoísmo, ambições, medo, insegurança, apego, abusos, preconceito, maldade, quero me livrar de tudo isso. Quero deixar isso aqui neste mundo. É preciso, então, agir agora. Deixar para depois, quando a morte chegar, não será tarde demais?

Quando a morte chegar, e ela sempre chega sem nos avisar, eu quero surpreendê-la e não ser surpreendido por ela. Quero recebê-la em minha casa, com a sala bem arrumada, toda florida, os quartos limpos, o banheiro cheiroso, a cozinha brilhando, a garagem organizada e nada de sujeira debaixo dos tapetes. Quero recebê-la de alma lavada, quero estar pronto, com a minha bagagem arrumada, para voltar para a casa do Pai.

Mas o interessante é observar que, ainda aqui, a liberdade divina está presente. Só serão “salvos” aqueles que assim o quiserem, pois a salvação é dom de Deus e não imposição. É preciso optar por isso, caso contrário Ele respeitará a sua decisão. Se você prefere ficar no vazio, abandonado na ilusão das drogas, da corrupção, do poder, das mentiras e do desamor, assim será feito.

Mas, um detalhe importante: é preciso decidir-se antes da morte chegar, pois depois que ela abrir a porta, colocar as malas no chão e se instalar, nada mais poderá ser feito. É como o amor, é uma página virada na vida e definitiva. Não tem volta, ou você conhece alguém que tenha voltado para arrumar as malas?

O amor é tão fundamental em nossas vidas que Jesus nos impôs:

- … Eu vos ordeno, amai-vos uns aos outros como Eu vos amei …
Postado Centro Loyola de Fé e Cultura, acesso 30/10/2009

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