domingo, 27 de setembro de 2009

Família ampliada: "É a fórmula preferida dos filhos".

O "terceiro genitor"?
Isso confunde as ideias das crianças, diz Bento XVI, não aprovando aquelas famílias ampliadas que a França gostaria de legalizar e que também na Itália continuam crescendo, chegando quase a um milhão. A culpa? Segundo o Papa, é do divórcio, que tornou possível o nascimento de segundas e terceiras famílias e a "partilha" dos filhos nascidos de casamentos anteriores. E não importa se os exemplos são quase ilustres, se Carla Bruni é fotografada nas Nações Unidas ao lado de Louis, o filhinho do marido Nicolas Sarkozy e da sua mulher Cecilia, enquanto, com olhar igualmente admirado, escutam o presidente. Nem se, no fim, até William e Harry acabaram aceitando a odiada Camilla Parker-Bowles, segunda mulher do princípe Charles e "usurpadora", no coração de muitos ingleses, das prerrogativas da loira e desventurada primeira mulher.

Uma viagem pela realidade italiana também permite que se verifique como os modelos "incertos" rejeitados pelo Vaticano já são realidade para muitíssimos jovens, se é verdade que pelo menos 800 mil italianos já se casaram uma ou mais vezes. Carmen Belloni, socióloga, professora da universidade de Turim, conduz uma pesquisa que já levou realizou centenas de entrevistas com crianças e jovens nas escolas. E ela comenta as palavras do Papa: "O divórcio em si mesmo não é nem bom, nem ruim. Pode ser doloroso assim como é doloroso viver em uma família onde se fica juntos apenas por obrigação, e as tensões continuam crescendo".
Mas a família ampliada, segundo a socióloga, é, pelo contrário, uma realidade protetora para os menores. "Não só o fenômeno está em crescimento – explica Belloni –, mas as crianças entrevistadas fala com extrema desenvoltura da sua vida 'móvel', do fato de que mudam de uma casa para a outra, de uma realidade para a outra... Em torno deles, há muitíssimos exemplos, especialmente nas grandes realidades urbanas, que permitem que eles não se sintam isolados. Assim, no seu diário, narram de modo extremamente natural tanto a sua divisão entre os dois pais biológicos, como os novos sujeitos, tanto adultos quanto crianças como eles, que começaram a fazer parte das suas vidas".
O mapa das "novas famílias" é feita de apelidos que já entraram no léxico familiar dos italianos: há o "papigno", a "mammastra", mas também o "nipotino" ou o "cugipote", para indicar aqueles rapazes de idade não distante que são sobrinhos e primos, como ocorria há um tempo com os irmãos por parte de um dos pais das grandes famílias patriarcais, principalmente no Sul, onde os homens que ficavam viúvos "deviam" se casar novamente e ter outros filhos.
Mas há também uma nova e prosaica realidade que sugere novas alianças e recomposições familiares o mais possível criativas. Chama-se crise econômica: "Os dados nos dizem que as mães que ficaram sós caem mais facilmente em situações de pobreza – diz Belloni –, e que as mesmas mulheres e seus filhos são mais protegidos por esse Estado se a mãe encontra um novo companheiro. Nesse sentido, a presença de novos adultos e novos menores no âmbito da realidade familiar modificada que intervém depois de um divórvio protege os menores do risco de ver cair o seu próprio padrão de vida, mas também da desvantagem educativa que pode derivar da pobreza e de um único genitor muitas vezes ausente, por ser muito comprometido a enfrentar as exigências cotidianas".
Também surgem réplicas do mundo laico e da sociedade civil que, nestes anos, se empenhou a dar dignidade às novas mães e aos novos pais chamados a se ocupar cotidianamente de crianças biologicamente distantes: "Na família recomposta há amor para todos e também responsabilidade", diz Simona Izzo, enquanto para Rossella Calabrò, fundadora do "Club delle matrigne" [Clube das madrastas] italiano, "é a fórmula preferida dos filhos, muitas vezes são eles mesmos que indicam o caminho da ampliação, até quando os adultos não são capazes disso".
*A reportagem é de Vera Schiavazzi, publicada no jornal La Repubblica, 26-09-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto. IHU/Unisinos, 27/09/2009

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