quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Poemas de Zbigniew Herbert

Aqui vão três textos em prosa do poeta polonês (1924-1998), que parece traduzir para uma língua mais humana a linguagem radical de Kafka:


QUANDO O MUNDO PARA

Acontece muito raramente.
O eixo da Terra guincha e acaba parando.
Tudo então fica sem se mover: tempestades, navios, nuvens pastando pelos vales.
Tudo. Mesmo cavalos num pasto se tornam imóveis como num jogo de xadrez.
E depois de um tempo o mundo se move de novo.
Algum oceano engole e regurgita, vales devolvem seus vapores e cavalos passam do campo escuro para o campo branco.
Também se ouve o sonoro choque do ar contra o ar.

CUIDADO COM A MESA

À mesa você deve sentar-se calmamente e sem devanear.
Lembremos a quantidade de esforço que foi necessária às marés tempestuosas do oceano para se acomodarem em ordenados anéis de água.
Um momento de distração, e tudo pode ser levado de roldão.
Também é proibido encostar nas pernas da mesa, elas são muito sensíveis.
Tudo, à mesa, deve ser feito de modo tranquilo e objetivo.
Para devaneios, recebemos outros objetos de madeira: a floresta, a cama.

CORAÇÃO

Os órgãos internos de todos os homens são lisos e carecas.
O estômago, os intestinos, os pulmões, são carecas.
Só o coração tem cabelos –arruivados, grossos, compridíssimos por vezes.
Os cabelos do coração atrapalham o fluxo do sangue, como plantas aquáticas num rio.
Os cabelos estão frequentemente infestados de bichos.
Você tem de amar muito profundamente para catar esses rápidos e pequenos parasitas do coração cardíaco de sua amada.
Postado no blog de MARCELO COELHO em 08/08/2009

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