segunda-feira, 20 de julho de 2009

Ser amigo

ARITA DAMASCENO PETTENÁ*
No calendário: 20 de julho, Dia do Amigo.
E o que seria ser amigo?Ser amigo é algo muito difícil nos dias de hoje. A vaidade, a atração pelos títulos, a vontade de aparecer sufocam qualquer resquício de gratidão que possa existir, fazem da lealdade algo de ultrapassado e sem sentido.
É comum sentir-se na carne a traição de quem tudo nos devia em matéria de promoção pessoal, de nome, até então desconhecido, lançado nas colunas de jornal. O mundo está tão cheio de megalomaníacos, de gente que é capaz de tudo para ser manchete, que viver sem eles seria até monótono, tais as tramas que urdem para alcançar seus vis intentos. Desprezá-los por tal mania de grandeza, por quererem, a qualquer preço, o prestígio de que tanto necessitam, seria até insensatez. O mais coerente é deixá-los agir livremente, sem nunca se lembrarem de que a vida é uma gangorra e que a descida é sempre um espetáculo triste para os que ficam de fora assistindo.
Casos há de pessoas que, depois de tantos anos, viram sucessos seus lançados à tela com o suor e o carinho de quem lhes organizou a festa da saudade, mas, no instante da opção, não titubearam em dar adesão ao que lhes servia mais aos seus interesses. Outros, consultada a própria consciência, chegam à conclusão de que, se há criaturas feitas à semelhança do “Senhor”, há também aqueles que se portam como verdadeiros “Judas” para dar um colorido maior à procissão dos bajuladores.
Ser amigo implica uma série de requisitos. E como é difícil enquadrar-se dentro deles. É saber ouvir o nosso irmão no que ele tem de mais seu para nos contar; no que ele tem de mais angustiante para nos dizer. É dar a ele o voto de confiança e de perdão, o gesto de ternura e de compreensão, cônscios de que humanos todos somos e por isso mesmo passiveis todos dos mesmos erros.
Ser amigo é enfrentar com o outro os altos e baixos da jornada, sem medir esforços, sem alardear favores. É ter a coragem de defender o outro das injustiças sofridas, de assumir uma atitude de altivez quando pedras lhe são atiradas sem destino. É ter a palavra última de conforto e de esperança quando mágoas e frustrações lhe forem toldando o chão da existência. É procurar abrir clarões em densas madrugadas para que o outro possa vislumbrar, ainda que não crendo, uma réstea de esperança, uma luz que surge entre escombros.
Ser amigo é caminhar junto sobre pedras e flores. É arriscar a própria vida dando em troca a sua. É sentir a dor do outro como se sua fora. É romper a barreira do não pode para fincar do outro lado o alicerce da solidariedade humana, a placa do servir desinteressado.
Ser amigo é andar sob o sol e sob a chuva, sentindo a cada passo o travo de uma vitória. É ganhar para o outro a fé de há muito perdida no humano ser, a ilusão que cedo se aposentou pelos atalhos do mundo. É viver o céu e o inferno em árduas escaladas, sem temer os obstáculos do caminho, os abismos que se deparam a cada instante.
Ser amigo, enfim, é cantar na mesma pauta a canção da paz e da fraternidade, indiferente aos apupos da assistência, chorando comovido o aplauso merecido.

*Arita Damasceno Pettená é membro da Academia Campineira de Letras e Artes.
http://cpopular.cosmo.com.br/mostra_noticia.asp?noticia=1643807&area=2190&authent=10352ADF6C8CC228A7124D541EFABA

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