quinta-feira, 2 de julho de 2009

Resiliência para enfrentar as adversidades

Ricardo Piovan*



Você já deve ter observado o movimento de uma vara de salto em altura. Ela dobra quando submetida a esforço, acumula energia e projeta o atleta para cima, mas, assim que o esforço cessa, ela volta ao normal. Esse exemplo da vara é uma maneira de compreendermos a resiliência, pois resilientes são as pessoas que passam por processos de dificuldade, superam esse momento e, assim que a adversidade cessa, elas voltam ao seu estado normal sem quebras emocionais.

Cada vez mais, a resiliência vem sendo exigida no mundo corporativo. “Muitas companhias, de uma forma simples ou mais complexa, levam em consideração essa competência em um processo de contratação ou promoção, porque ela pode fazer a diferença nos momentos de adversidades”, explica Ricardo Piovan, diretor da Portal Fox (www.portalfox.com.br), empresa especializada em consultoria organizacional, coaching, palestras e treinamentos. Piovan é um defensor da resiliência e expõe seu conhecimento sobre o assunto no livro Resiliência: como superar pressões e adversidades no trabalho.

Em entrevista exclusiva à revista Motivação, ele diz o que é preciso fazer para desenvolver uma atitude diferenciada em relação às adversidades que as pessoas enfrentam em seu dia a dia, confira.


As pessoas podem aprender a ter resiliência?

Há pessoas que nascem resilientes, está na genética, e outras que desenvolvem a resiliência na infância por meio de atitudes conscientes ou inconscientes dos pais. Alguns colocam seus filhos em uma redoma, impossibilitando-os assim de experimentarem pequenas adversidades para serem direcionados na forma mais correta da solução. Já outros jogam as crianças em dificuldades maiores, e não as orientam. Nenhuma dessas ações é correta, existe um caminho do meio que deve ser trilhado (livros que ensinam a desenvolver a resiliência nos filhos). Para quem não nasceu resiliente nem aprendeu a ser na infância, há a possibilidade de desenvolvê-la na vida adulta através do autoconhecimento de suas emoções, comportamentos e, principalmente, da vida como um todo.

O que acontece quando as pessoas não têm resiliência?

Existem três consequências básicas que desencadeiam outras:
1. Decisão – A pessoa não decide ou toma decisões erradas, pois é movida pela tristeza/medo, que a paralisa, ou pela raiva, que a leva a fazer bobagens.

2. Relacionamento interpessoal – O indivíduo projeta suas deficiências nos outros, prejudicando o trabalho em equipe para atingir as metas do departamento e da empresa.

3. Crescimento profissional – Pessoas sem resiliência não se inserem dentro do problema, entram em um processo de “vitimização” (que as impede de encontrarem soluções) ou de revolta (procurando culpados para a situação de adversidade que vivem). Ambos os processos cegam o indivíduo para uma autoanálise de sua evolução, isto é, o quanto essa crise que está passando permite a busca de conhecimento a fim de superá-la e tornar-se um profissional melhor.

A falta de resiliência também pode acarretar problemas relacionados à saúde?

Sim, a falta dessa atitude pode levar o indivíduo a três estados dolosos: estresse, Burnout e depressão. O primeiro já é um velho conhecido, mesmo assim, para a maioria das pessoas, ele é normal. Desse modo, não ficam atentas aos prejuízos que pode trazer. Grande parte dos indivíduos inicia um movimento de revisão de suas atitudes quando chegam ao estado de Burnout, em que os sintomas são de exaustão física e mental, impaciência em situações corriqueiras, depressão leve e perda de rendimento nas atividades desempenhadas. Caso não haja movimentos, mesmo com o Burnout,* a pessoa pode iniciar um processo de depressão mais profunda.

Quais são os fatores que impedem as pessoas de serem resilientes?

A falta de flexibilidade é o principal fator. Durante fortes tempestades, uma grande árvore se mantém rígida, enquanto o bambu se agita e vai até o chão. Cessada a tempestade, a árvore pode estar quebrada e o bambu intacto como se nada tivesse acontecido. Assim também é com as pessoas. Há as que procuram resistir às tormentas da vida, enrijecem-se, agarram-se com toda força ao que conhecem e se recusam a mudar. E existe também as que aceitam as adversidades, adaptam-se às novas circunstâncias e são flexíveis para agir de um modo diferente.

Em seu livro, você cita cinco princípios que ajudam a desenvolver o comportamento resiliente. Você pode explicar brevemente o que cada um significa?

1. Ter consciência de que as dificuldades fazem parte da vida e é preciso conviver com elas – O profissional resiliente sabe que a vida é uma grande montanha russa. Haverá altos e baixos, e ele não poderá permitir que o medo, a tristeza e a raiva sequestrem suas ações.

2. Compreender a natureza humana e buscar contato com seu “eu interior” – Da mesma forma que você possui pontos de aprimoramento em seus comportamentos, as outras pessoas também têm. Aqui, busca-se compreender melhor os outros (líderes, colegas e liderados) para um convívio mais harmonioso no ambiente de trabalho.

3. Persistir lutando para superar as adversidades – A persistência é fundamental à resiliência, pois, a cada fracasso, a pessoa honra o aprendizado, porque acabou de descobrir uma maneira que não funciona para superar a pressão ou adversidade. Com esse conhecimento adquirido, ela traça um novo plano de ação em busca da solução.

4. Encarar o problema, tomar as decisões e investir energia para solucioná-lo – Nesse princípio, apresentamos de forma simples e eficaz como as pessoas podem tomar decisões mais assertivas.

5. Entender que as dificuldades da vida nos tiram da zona de conforto e proporcionam crescimento – As pessoas se desenvolvem pelo amor ou pela dor. O primeiro grupo cria suas próprias crises para se desenvolver, enquanto o segundo espera a adversidade para crescer.

Muitas pessoas compreendem a importância da resiliência e se esforçam para desenvolvê-la, mas não conseguem praticá-la na hora que passam por uma forte pressão. Por que é tão difícil ser resiliente?

Porque é preciso mudar comportamentos, e esse processo não é tão simples quanto parece. A mudança comportamental passa por quatro fases que, de uma forma geral, são lentas. A primeira é quando você é inconsciente/incompetente, isto é, não tem consciência de que possui um problema comportamental e continua errando. Imagine um líder autoritário que grita com as pessoas quando as coisas saem erradas.
Na maioria dos casos, ele não tem consciência desse processo e, consequentemente, erra não sendo resiliente. Quando recebe um feedback, faz um treinamento ou lê um livro e percebe que agir assim prejudica sua carreira e a de seus liderados.
Aí, ele passa para a segunda fase consciente/incompetente, ou seja, sabe que não é certo, mas seus comportamentos enraizados o fazem agir da mesma forma que na primeira fase, a diferença é que ele percebe que errou, pois já tem consciência.
Dependendo de quão forte foi impressa a crença do autoritarismo nesse líder, principalmente na infância, será o grau de dificuldade para passar à terceira fase, que é o consciente/competente.
A boa notícia é que é possível, podendo demorar mais ou menos dependendo de cada indivíduo. A quarta fase é o momento em que estamos inconscientes/competentes, isto é, já entramos em um piloto automático e praticamos a resiliência.
*Ricardo Piovan, diretor da Portal Fox.
Matéria de KAREN JARDZWSKI publicada em :01/07/2009

http://www.motivaonline.com.br/php/materia.php?id=48567

Um comentário:

  1. Muito interessante sua analise este conteúdo é fundamental para a vida se todos seguisse isso a vida das pessoas seria diferente feliz

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