segunda-feira, 2 de março de 2009

Sexo seguro

Fábio Toledo

Durante o Carnaval, o presidente da República se empenhou pessoalmente em distribuir preservativos no sambódromo do Rio de Janeiro. Esse gesto não é algo improvisado. Ao contrário, é muito coerente com uma campanha do que se convencionou chamar sexo seguro. Com ela, se prega que as pessoas tenham relações sexuais livremente, com os parceiros que desejarem, quando e como quiserem, conquanto que tomem a cautela de se protegerem das doenças sexualmente transmissíveis, especialmente da Aids. Trata-se o ato sexual como mero instrumento de prazer, ou, menos ainda, como uma necessidade fisiológica.
Mas será que o sexo é apenas isso? Encontrar um parceiro (ou uma parceira) com quem se relacionar numa noitada de Carnaval é uma mera necessidade fisiológica, semelhante a que temos de nos alimentar? Nessa linha, estaria o nosso presidente, ao distribuir preservativos no Carnaval, simplesmente aprimorando o programa Fome Zero?
É inegável que o ato sexual proporciona um prazer enorme e, de certa forma, indescritível. Porém, será esse prazer um fim em si mesmo, ou será ele como que um meio para algo mais sublime?
Tenho um amigo, casado há vários anos com a mesma esposa, que certa vez me fez um relato fantástico, que muito pode nos ajudar a descobrir o verdadeiro sentido do relacionamento sexual. Diz ele:
“Essas pessoas que se lançam a aventuras passageiras, a cada hora com uma pessoa diferente, no fundo ainda não aprenderam nada sobre o verdadeiro amor. Eu estou casado com minha esposa há mais de 20 anos e, nesse tempo, nosso relacionamento sexual ficou cada vez mais gostoso. De fato, com o passar dos anos, vêm os filhos, o cansaço do trabalho e do dia-a-dia, de modo que fica um pouco mais difícil conquistá-la. O apetite sexual dela diminui. Mas eu me considero um conquistador e não me dou por vencido. Porém, uso esse talento sempre com a mesma mulher.
“Quando queremos ter relação, eu ou ela fazemos uma insinuação com certa antecedência, muitas vezes por uma mensagem de celular que somente nós entendemos. Ela tem uma camisola um tanto provocante que reserva para esses dias e só a veste diante de mim. Eu, da minha parte, faço a barba à noite, pois sei que ela gosta disso. Também costumamos conversar com frequência, sem vergonha, sobre o nosso relacionamento sexual. Falamos do que agrada e do que atrapalha. Com isso, conseguimos que, após esses anos todos, nossas relações sejam muito mais prazerosas do que foram na lua-de-mel.
“E o que é melhor de tudo isso: quando terminamos o ato, não fica aquela sensação horrível de estar com um estranho, com um objeto que usamos para uma satisfação egoísta. Ficamos deliciosamente abraçados por muito tempo. Afinal, dormimos juntos todas as noites. Não fica na boca um gosto amargo de desconfiança, de traição, de abuso. Ao contrário, fica o sabor delicioso de se doar uma vez mais a quem amamos. Após cada ato sexual parece que uma vez mais confirmamos aquilo que um dia nós prometemos: ‘na alegria e na tristeza... amando-te e respeitando-te por todos os dias da minha vida’.
“E o prazer, então? Duvido que esses que ficam pulando de galho em galho consigam sentir mais prazer que eu sinto sempre com a mesma mulher. Aliás, esses loucos, para assegurarem um pouquinho de um prazer doente, têm de usar preservativo. Eu, como estou certo da minha fidelidade e da minha esposa, não preciso ‘chupar a bala com casca’. Que coisa mais sem sabor! Se as pessoas soubessem como é bom guardar o coração bem guardado, com muito carinho, apenas para uma pessoa, por certo descobririam a maravilha do prazer do relacionamento sem ter de experimentar o desprazer do day after”.
Que pena que esse meu amigo não estava no sambódromo para dizer isso ao presidente! Eu adoraria vê-lo repetindo um trocadilho que aprendeu há muitos anos: fidelidade, felicidade, felicidade, fidelidade. É que ele está convencido de que a felicidade depende muito diretamente da fidelidade que guardamos aos compromissos que assumimos e às convicções que adquirimos em nossas vidas.
Acredito que esse meu amigo tem razão. Isso, sim, é verdadeiramente sexo seguro. E, de sobra, muito mais prazeroso.
*Fábio Henrique Prado de Toledo é juiz de Direito em Campinas

Um comentário:

  1. ...como se opinião do Lula fosse importante na hora do "vamo ver"!!! A distribuição de preservativos durante o carnaval é importantíssima, tão importante quanto a distribuição de seringas para viciados em drogas injetáveis. É melhor do que tratar mil casos de doenças venéreas depois...

    ResponderExcluir