sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A juventude e a ilusão da vida fácil

MANCHETES COMO A DESTACADA ONTEM na primeira página do JB, sobre a prisão de jovens de classe média envolvidos no tráfico de drogas, vêm se tornando cada vez mais frequentes. Ainda assim, mexem com o cidadão comum, que se pergunta o porquê da opção errada conscientemente escolhida por rapazes (e moças) bem-nascidos e educados nos melhores colégios da cidade. Diante da vida profissional quase garantida somada a um futuro promissor, preferem estes jovens o descaminho das drogas ­ não o do consumo puro e simples (que já seria tortuoso), mas o da traficância e do ganho de dinheiro fácil. O fim da história, conforme se percebe na leitura do noticiário, é a perda da liberdade (quando não, a da própria vida).
Na mais recente operação da Polícia Federal, deflagrada quarta-feira, 300 homens da instituição cumpriram 53 mandados de prisão por todo o país. Só no Rio, foram utilizados 22 agentes e presas 44 pessoas. Além dos números envolvidas ­ ao longo dos 10 meses de investigação, foram apreendidos 112.010 comprimidos de ecstasy, 115.399 micropontos de LSD, 7,2 quilos de cocaína, 22,7 quilos de haxixe e 2.962 frascos de lança-perfume ­ o que mais impressiona é o perfil da quadrilha: jovens de classe média alta, moradores da Zona Sul carioca, com idade média de 26 anos. Agora detidos, terão de responder judicialmente por tráfico de drogas, associação para o tráfico e tráfico internacional, cujas penas, somadas, chegam a 30 anos.
Um triste fim para um grupo de adultos recém-formados que, diante de uma série de possibilidades que a vida lhes descortinava, optou pelo crime como método mais rápido para realizar os sonhos de consumo. Em conversa telefônica gravada pelos investigadores, com autorização judicial, um dos criminosos define a filosofia que norteava a gangue: "Para manter a vida que eu gosto de ter, eu preciso fazer isso". Não precisava. Mas assim o quis.
Já é incômoda a adesão, ao tráfico, de crianças e adolescentes que vivem em morros dominados por quadrilhas. Credita-se esse envolvimento, em grande parte, à mão pesada dos bandidos sobre os jovens das favelas e à ausência de perspectivas. São muitos os casos, portanto, em que não há saída. Não há opção. O mesmo não se pode dizer dos jovens de classe média flagrados esta semana. Se a ganância desmedida e a certeza do lucro fácil falaram mais alto, a ilusão da impunidade gritou ainda mais forte na tomada de decisão de cada integrante da quadrilha. Com milhares de crimes sem castigo prosperando no país, o bando supunha que jamais seria alcançado pela Justiça. Pagou caro pela aposta errada, e, caso a lei seja cumprida à risca, os condenados passarão quase tantos anos na cadeia quanto os que já viveram em liberdade.
Antes do momento crítico, a família deveria ter sido mais presente. Parece cômodo para os pais deixar os filhos saírem quando querem, a hora que querem, com quem querem. Mas o relaxamento dos responsáveis tem um preço. Está sendo criada uma geração que não aceita o "não" como resposta, que não enxerga limites, que não respeita leis, deveres ou mesmo outras pessoas. Há de se quebrar este ciclo, o quanto antes. E a educação doméstica pode ser um bom começo quando se pretende restaurar valores e lições imortais. Trata-se de um motivo adicional para estimular ações complementares em casa, em cada família. Os pais devem acompanhar a conduta dos filhos. O diálogo franco e firme ainda é o melhor antídoto contra a imersão em terrenos indesejáveis.

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