sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Do território aos tempos líquidos

Osvino Toillier*
Quando se tem um problema, corre-se o risco de escolher um boneco e bater nele. Para evitar isso, creio que se precise analisar o cenário e avaliar a repercussão das mudanças em todos os níveis da sociedade, evitando simplesmente encontrar culpados.
Subliminarmente, transcende das declarações de entrevistados e articulistas certa saudade da boa escola tradicional, com horário ampliado, respeito ao professor e disciplina clara, conteúdo forte, exigência de estudo, enfim, era o tempo das certezas. Ia-se à escola para aprender, e o professor desdobrava a aula com competência e sabedoria. Sou fruto desse paradigma, muito grato por tudo que me ensinaram e, de certa forma, trabalhei com esse modelo, introduzindo inovações que as transformações sinalizavam, levando à sala de aula novos procedimentos, sem nunca esquecer as antigas e boas práticas.
Queiramos ou não, estamos há muito vivendo transformações profundas e mudanças radicais. É preciso dar-se conta de que temos novo aluno na sala de aula, turbinado por estímulos, que o fazem estar plugado em diversas coisas ao mesmo tempo, não mais disposto a apenas ouvir o professor e prestar atenção nas explicações. Possivelmente tenha consigo celular, verdadeira central de multimídia.
Algumas inovações, como micro-ondas, computador, celular, mudaram a cara do mundo, e não dá para desconhecer essa realidade na análise do comportamento de crianças e jovens em sala de aula. Eles são fruto de novo tempo, e cada geração imprime novas formas de ser ao universo de suas vidas.
A travessia do território das certezas para os tempos líquidos – em que tudo se torna volátil e relativo – é de penosas indefinições. No dizer, Sygmunt Bauman, “o novo padrão de vida líquido-moderno, permanentemente transitório, está sendo testado e pesquisado”. E nessa passagem se decompõem e dissolvem mais rapidamente valores consagrados do que se leva para construir referenciais para novo tempo, o que necessariamente não precisa significar que as verdades de outrora precisam ser jogadas fora do barco.
Temos de retomar, urgentemente, algumas questões fundamentais: a sala de aula deve ser o reator da usina nuclear chamada escola; o professor deve voltar a ser autoridade prestigiada por todos e ter consciência de que se impõe novo jeito de dar aula; aluno não é cliente, é educando e como tal precisa ser tratado; avaliação externa é importante, mas não pode ser o único parâmetro, há coisas que não se medem com régua e compasso na educação; sem corpo docente motivado e valorizado, não existe projeto de educação que dê certo; tornamo-nos aprendizes para o resto de nossas vidas, e isto implica atualização permanente.
Educação é projeto de Estado e não de governo, e precisa desplugar-se de viés ideológico-partidário e corporativo e, sobretudo, tornar-se projeto de sociedade, incluindo as diversas vertentes da livre- iniciativa.
*Presidente do Sinepe/RS
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2395258.xml&template=3898.dwt&edition=11650&section=1012 -06/02/2009

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